Devido seca e altas temperaturas, safra de laranja deve ter maior quebra dos últimos 30 anos

Fundecitrus reestima produção em 269,36 milhões de caixas, diminuição de 30,36% em relação à temporada anterior

10.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Fundecitrus

A safra de laranja 2020/21 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal região produtora de laranja do mundo, foi reestimada pelo Fundecitrus em 269,36 milhões de caixas. A redução é de 18,4 milhões de caixas em relação à estimativa inicial, feita em maio, e, se confirmada após o fim da colheita, representará uma diminuição de 30,36% em comparação à temporada anterior e será a maior quebra de safra desde 1988. “Em função das condições climáticas extremamente adversas, com altas temperaturas, baixa precipitação e má distribuição das chuvas, esse é um dos anos mais difíceis que a citricultura já enfrentou”, diz o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres.

Um cenário desfavorável para a ocorrência de chuvas já era esperado devido à possibilidade de formação do evento climático La Niña, que foi confirmado em setembro. Mas outros fenômenos atuaram simultaneamente, e o La Niña foi muito pior do que o último, ocorrido em 2017: além de deixar o clima mais quente e mais seco, entrou em atividade mais cedo, quando apenas 30% da produção de laranja tinha sido colhida.

À medida que o La Niña se intensificou, a chuva foi diminuindo em relação à média histórica. De maio a agosto, o volume acumulado estava 14% menor e chegou a menos 41% no acumulado de setembro a novembro. Em todo o período, a precipitação média no cinturão foi de 337 milímetros, cerca de 150 milímetros a menos que o normal e 32% inferior à média histórica, de acordo com dados da Somar Meteorologia.

Apenas em três das 12 regiões do cinturão a alteração do padrão de chuva foi menos acentuada, porém, apesar de superarem a média do parque citrícola, também ficaram abaixo da média histórica. São elas Itapetininga (612 milímetros), Avaré (493 milímetros) e Duartina (447 milímetros).

Nas demais regiões, foram observadas condições extremamente severas de seca, com chuvas pontuais, que, muitas vezes, ocorreram em locais isolados dentro de um mesmo município. No Norte, foram cerca de 145 dias sem chuva significativa, período bem maior do que no Sudoeste, que teve 55 dias. Um dos munícipios mais secos foi Matão, que ficou praticamente seis meses sem chuvas significativas. Com a diminuição das chuvas, as temperaturas máximas ficaram quase o ano todo acima da média histórica.

Reflexo do clima desfavorável nas diferentes regiões 

Os danos provocados variaram de região para região, inclusive entre os talhões de uma mesma fazenda. Nas regiões mais secas, foram observadas com maior frequência árvores com sintomas de estresse hídrico, como intenso desfolhamento, secagem de ramos e frutos pequenos, murchos e com pouca quantidade de suco. Também foram observados frutos com rachaduras de casca que resultaram em queda prematura. Em muitos pomares, plantas espalhadas pelo talhão não resistiram e morreram. Casos mais drásticos foram vistos principalmente nos setores Norte, Noroeste e Centro, onde alguns talhões de sequeiro perderam todas ou quase todas as árvores.

Esse período mais crítico de seca começou a mudar em novembro, quando o volume de chuvas melhorou em quase todo o cinturão citrícola, o que possibilitou uma pequena recuperação do peso dos frutos. A quebra de safra só não foi maior porque 60% das laranjeiras produtivas ficaram menos exposta à seca: parte das variedades precoces, colhidas antes da pior fase da estiagem; laranjas Pera Rio e variedades tardias de pomares irrigados; e essas mesmas variedades nas regiões de Itapetininga e Avaré, onde as condições climáticas foram um pouco melhores.

As condições climáticas desfavoráveis, somadas à maior concentração de frutos de segunda florada, diminuíram também o ritmo da colheita, que em novembro alcançou 58% da produção contra 74% no mesmo período no ano passado.

Peso dos frutos e taxa de queda

O peso médio dos frutos foi revisado para 156 gramas, ante as 159 gramas estimadas em maio, 8% menor do que a média das últimas cinco safras. A projeção da taxa de queda de frutos subiu de 17,30% para 21,10% na média entre todas as variedades, atingindo o maior patamar desde quando a pesquisa foi iniciada, em 2015.

O trabalho de Pesquisa de Estimativa de Safra é feito pelo Fundecitrus em cooperação com a Markestrat, FEA-RP/USP e FCAV/Unesp. O relatório completo sobre a reestimativa está disponível aqui.

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