Desafios e estratégias de manejo para controle do greening

Doença continua a avançar e a desafiar as estratégias de manejo para controle do problema

02.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

Uma das mudanças marcantes foi a diminuição da área de plantio de citros no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro, sem, contudo, diminuição do número de plantas cítricas em produção ou formação. Esse fato é decorrente do maior adensamento de plantio, que vem sendo aumentado prevendo-se a perda de parte do plantio em decorrência da infestação pelo HLB. O crescimento do número de plantas por área tem por objetivo também incrementar a produtividade do pomar, essencial para cobrir os custos de produção, que também aumentaram em função da incidência da doença no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro.

Após 15 anos, como está a situação da doença no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro?

Em 2019, a incidência de plantas sintomáticas, não necessariamente incidência de plantas doentes, atingiu o índice de 19,02% das plantas cítricas do cinturão citrícola São Paulo/Triângulo Mineiro (Figura 1). A incidência foi crescente até 2015, porém, nos anos de 2016 e 2017 decresceu, dando uma impressão de tendência de diminuição. Entretanto, em 2018 e 2019 a incidência voltou a aumentar, atingindo, nesse ano, o maior valor em termos de plantas sintomáticas encontradas nos pomares. Esses resultados evidenciam que o inóculo está cada vez mais alto, com possibilidade de transmissão da bactéria para os pomares com e sem manejo da doença.

Em termos de incidência da doença nas regiões produtoras de citros, tem se observado que, a partir do epicentro, onde foram relatadas as primeiras plantas afetadas pelo Greening, nas regiões de Matão e Porto Ferreira, a incidência vai diminuindo tanto no sentido Norte/Noroeste como Sul do estado. As maiores incidências estão concentradas nas regiões de Brotas (55,10%), Limeira (48,30%) e Duartina (32,43%), e as menores nas regiões de Itapetininga (1,09%), no Triângulo Mineiro (0,31%) e em Votuporanga (1,64%).

Das cinco regiões com maior presença de plantas sintomáticas, localizadas na região Central do estado, a incidência, comparando 2018 com 2019, diminuiu ou manteve-se estável em Matão, Porto Ferreira, Duartina e Brotas, mas aumentou consideravelmente na região de Limeira (de 34,01% para 48,30%). No outro extremo, onde a incidência é menor, apesar de ter sido observado aumento na região do Triângulo Mineiro (de 0% para 0,31%), a incidência diminuiu nas regiões de Votuporanga (de 1,96% para 1,64%) e de Itapetininga (de 1,73% para 1,09%). Nas regiões de nível de severidade intermediário, apesar de a incidência ser estável na região de Avaré (~10,76%), houve aumento nas regiões de Altinópolis (de 10,12% para 12,20%), Bebedouro (de 6,78% para 8,15%) e São José do Rio Preto (de 3,74% para 5,02%).

Esses resultados, embora pareçam animadores para algumas regiões, são alarmantes. A preocupação se dá pois se constata a incidência da doença em todas as regiões citrícolas de São Paulo e do Triângulo Mineiro. 

Quanto à faixa etária dos pomares, os resultados dos levantamentos têm indicado que a incidência está estável ou diminuindo nas plantas de até cinco anos de idade. No entanto, tem aumentado naquelas com mais de seis anos de idade (Figura 2). Esses dados  indicam que quanto mais tempo a planta fica no campo, maior é a chance de contaminação, e por isso a maior incidência nos pomares mais velhos.

Para o Greening, o tamanho da propriedade também afeta o manejo. Considerando-se as dimensões, e também a adoção de tecnologias, o manejo é mais fácil em propriedades de maior porte. A incidência de plantas sintomáticas é maior nas faixas de tamanho de propriedade com até 100 mil árvores (Figura 3). As propriedades são caracterizadas pelo número de árvores e correspondem ao tamanho da área, de modo que até dez mil árvores são até 21ha, de dez mil a 100 mil árvores são de 21,1ha a 210ha, de 100 mil a 200 mil árvores são 210,1ha a 1.050ha e, por fim, mais de 200 mil árvores são mais de 1.050ha.

Quais são as recomendações para o combate eficiente ao Greening?

Um passo fundamental é a escolha do local de plantio, em função da incidência de Greening diferenciada entre regiões. Além disso, recomenda-se o plantio em grandes áreas, evitando-se plantios recortados, não uniformes e estreitos para diminuir a área de borda, por onde o inseto vetor, o psilídeo Diaphorina citri, invade a propriedade.

No caso de renovação de pomar, se recomenda fazê-la em blocos grandes, contínuos e extensos, evitando o plantio de pomares novos ao lado de pomares velhos e com incidência da doença. A segunda recomendação é o plantio de mudas sadias, produzidas em viveiros protegidos com tela antiafídica, certificados e cadastrados.

Medidas para a aceleração do crescimento e da produção também devem ser adotadas para evitar a contaminação das plantas, tais como: plantio de mudas com formação, adensamento de plantio, uso de mulching plástico, irrigação e nutrição adequada.

Uma medida que não deve ser esquecida é a inspeção frequente de todas as plantas do pomar. Essas inspeções devem começar a partir do segundo ano da implantação do pomar. É recomendado realizar, no mínimo, seis inspeções em todas as plantas durante o ano, principalmente entre fevereiro e agosto, quando os sintomas do Greening são mais visíveis.

Após as inspeções, detectando-se plantas com sintomas, deve-se realizar a erradicação das plantas doentes. Todas as plantas encontradas devem ser imediatamente eliminadas, independentemente de idade e severidade dos sintomas. Antes da erradicação, recomenda-se a pulverização das plantas doentes para evitar a dispersão de insetos contaminados para plantas sadias.

Assim como a inspeção de plantas sintomáticas, é importante realizar o monitoramento do psilídeo. Identificar a presença do inseto é fundamental para saber o momento e os talhões mais adequados para realizar as pulverizações. O monitoramento deve ser realizado com armadilhas adesivas amarelas instaladas nas plantas das bordas da propriedade e dos talhões. Além disso, é fundamental que os pragueiros façam a inspeção periódica das diferentes fases do ciclo de vida do psilídeo, nas inspeções rotineiras de outras pragas. Detectada a presença do inseto-vetor, deve-se realizar o controle, seja com inseticidas sistêmicos ou de contato.

Tanto para o monitoramento do inseto-vetor quanto para a inspeção de plantas sintomáticas deve-se dar atenção especial às bordas das propriedades. Aproximadamente 80% dos psilídeos e das plantas infectadas encontram-se nos primeiros 100 metros a 200 metros da divisa da propriedade, a chamada faixa de borda. Isso ocorre porque quando o inseto voa de um pomar para outro, pousa nas primeiras plantas de citros e, a partir daí, invade o restante do pomar. Em posse desse conhecimento é plausível a aplicação de inseticidas na faixa de borda com mais frequência que na área central.

Nessas áreas de borda da propriedade, outra medida que se tem tomado é o plantio mais adensado, com as linhas paralelas à borda para facilitar a aplicação de inseticida. É recomendado também o replantio frequente nessa faixa de borda após erradicações, evitando que as aberturas facilitem a penetração e distribuição do psilídeo ao longo da propriedade.

Para um manejo eficiente do Greening não basta as ações dentro da propriedade, há necessidade também de ações fora dela e, muitas vezes, em conjunto com os vizinhos. Nem todas as plantas de citros ou de murta (Murraya paniculata), hospedeiro tanto do inseto-vetor como da bactéria, recebem os cuidados necessários para evitar a contaminação pela bactéria. Assim, essas plantas podem servir de fonte de inóculo para a disseminação do Greening, principalmente aquelas em pomares orgânicos ou abandonados, em chácaras e em quintais. Portanto, há necessidade de estenderem algumas ações às áreas adjacentes às propriedades, tais como:

- Eliminação de plantas de citros com sintomas de Greening e plantas de murta na vizinhança. Pode-se propor a troca por mudas de outras frutíferas.

- Aplicação de inseticida em plantas de citros e de murta localizadas em quintais ou pomares vizinhos, onde não for possível a eliminação, quando for detectada a presença do psilídeo.

- Liberação do parasitoide Tamarixia radiata, inimigo natural de D. citri, em áreas urbanas, quintais, pomares abandonados ou orgânicos onde não há aplicação de inseticidas.

O manejo eficiente do Greening exige medidas integradas e amplas.
O manejo eficiente do Greening exige medidas integradas e amplas.
Folha de citros com a presença de sintomas provocados pela doença.
Folha de citros com a presença de sintomas provocados pela doença.

Conclusão

Nesses 15 anos de convivência com o Greening, muito se avançou nas pesquisas e no conhecimento tanto do agente causal como do inseto-vetor. Muito recurso foi gasto para desenvolver tecnologia para o manejo da doença. Entretanto, o Greening continua avançando e sua incidência aumentando a cada ano, apesar do decréscimo de sua evolução em alguns anos.

O poder de destruição dessa doença é inquestionável e, caso medidas de manejo, tanto dentro da propriedade quanto nas vizinhanças, não forem adotadas, o Greening se alastrará e incidirá em toda a propriedade. Essa doença intensificou o uso de inseticidas nos pomares, retornando a prática outrora não utilizada nos citros de aplicação de produtos fitossanitários em calendário, tornando a sua racionalização um grande desafio para a citricultura. Cabe aos pesquisadores, consultores e produtores trabalharem em conjunto, estabelecendo práticas sustentáveis no manejo do vetor e da doença. 

Figura 1 - Incidência de plantas cítricas com sintomas do Huanglongbing, ou Greening, no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro. Fonte: Fundecitrus (2019).
Figura 1 - Incidência de plantas cítricas com sintomas do Huanglongbing, ou Greening, no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro. Fonte: Fundecitrus (2019).
Figura 2 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função da idade das árvores. Fonte: Fundecitrus (2019).
Figura 2 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função da idade das árvores. Fonte: Fundecitrus (2019).
Figura 3 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função do tamanho da propriedade citrícola. Fonte: Fundecitrus (2019).
Figura 3 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função do tamanho da propriedade citrícola. Fonte: Fundecitrus (2019).

Pedro Takao Yamamoto, Ana Clara Ribeiro de Paiva, Fernando Henrique Iost Filho, Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo

Cultivar Hortaliças e Frutas Novembro 2019

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. Na edição de novembro de 2019 você confere também: 

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