Controle preventivo da mancha zonada em cucurbitáceas

Causada pelo fungo L. Momordicæ, doença foliar afeta diversas cucurbitáceas como melancia, melão, abóboras, pepino e chuchu

13.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

No que diz respeito às doenças de etiologia fúngica, a mancha zonada ou mancha reticulada é a principal doença foliar do pepineiro e uma das principais do chuchuzeiro, sendo a produção limitada quando as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. A doença encontra-se amplamente distribuída em praticamente todo o território brasileiro. Em cultivos de pepino nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a mancha zonada é a principal doença da cultura. Também têm sido relatados prejuízos na cultura do chuchu. Nesta cultura, a doença tem apresentado maior importância no Norte e no Nordeste do País. Em visitas a lavouras de pepino e chuchu na região de Jagauaquara, Bahia, principal região produtora destas duas culturas no Nordeste do Brasil, observou-se que a mancha zonada era a principal doença e os produtores se queixavam da escassez de fungicidas registrados para seu controle no chuchuzeiro. 

No campo, não é comum encontrar plantas de melancia, abóboras, melão ou maxixe apresentando sintomas da doença. Entretanto, já foi demostrado que estas culturas podem ser infectadas pelo patógeno quando são inoculadas, em condições controladas, com os esporos do patógeno provenientes de pepino, chuchu ou melão de são caetano.

O PATÓGENO E CONDIÇÕES FAVORÁVEIS

O agente causal da mancha zonada das cucurbitáceas é o fungo L. momordicæ que foi descrito pelo botânico brasileiro Eugênio Rangel em 1913, parasitando melão de São Caetano (Momordica charantia), no Rio de Janeiro. Os conídios (esporos) deste fungo são escuros, quando maduros, produzidos apenas na face inferior das lesões.

A espécie L. momordicae apresenta micélio e conidióforos hialinos. Os conídios são globosos, muriformes, hialinos inicialmente, tronando-se escuros com a maturidade e apresentam diâmetro de 27µm a 50µm. Os conídios consistem de sete a 18 células globosas, cada uma medindo 6µm a 20µm de diâmetro.

Pouca informação sobre a epidemiologia da mancha zonada está disponível na literatura. Na maioria das regiões do Brasil, a doença ocorre em todas as épocas do ano em que as duas culturas estão presentes no campo. Os conídios são produzidos no centro de lesões avançadas e quase nunca em lesões novas. Entretanto, sob condições de alta umidade, massas de conídios podem ser produzidas em lesões novas e velhas, sempre na face inferior das folhas.

Não se sabe por quanto tempo o patógeno é capaz de sobreviver em restos de cultura. Tem-se conhecimento de que sobrevive em plantas de várias espécies de cucurbitáceas, como o melão-de-são-caetano, que vegeta o ano todo em cercas e beiras de mato. Além disso, o patógeno pode sobreviver em lavouras velhas de chuchu ou em plantas voluntárias de pepino.  

A doença se dá em condições de elevada umidade, sendo a faixa de temperatura entre 18ºC e 25°C ideal à infecção pelo patógeno. A dispersão dos conídios ocorre principalmente através do vento. A presença de plantas de melão, melancia, abóbora, melão-de-são-caetano e outras cucurbitáceas selvagens pode constituir potencial fonte de inóculo e contribuir para a ocorrência ou agravamento da doença em pepino e chuchu, por exemplo, que são as principais hospedeiras cultivadas de L. momordicae.

SINTOMAS DA DOENÇA

Os sintomas da mancha zonada nas plantas hospedeiras começam nas folhas mais velhas, progredindo para as mais jovens. Em folhas de pepino e chuchu, a sintomatologia tem início com pequenas manchas encharcadas que, em seguida, evoluem para pequenos pontos necróticos brancos. As lesões crescem e subdividem-se em pequenas áreas angulosas esbranquiçadas, misturadas com áreas amarronzadas com uma aparência de rede, justificando um dos nomes da doença, que é “mancha reticulada”. Em estádio mais avançado da doença, as lesões podem se tornar arredondadas e coalescer. Com a coalescência das lesões, grandes áreas da folha podem se tornar necrosadas e secar. Em plantas de pepino, na região de Jaguaquara, Bahia, foram observadas manchas atípicas de grande tamanho e totalmente brancas. Sob condições muito favoráveis à doença, pode causar a queima de muitas folhas e desfolha das plantas. Não são observados sintomas da doença nos caules e pecíolos das plantas atacadas.

Lesões crescem e subdividem-se em pequenas áreas angulosas.
Lesões crescem e subdividem-se em pequenas áreas angulosas.

MANEJO DA DOENÇA

A doença pode ser bastante severa, nas culturas do pepino e do chuhcu. Quando as condições são favoráveis ao patógeno, as plantas podem ser destruídas em curto período de tempo, variando de uma a duas semanas. A escassez de conhecimento sobre os mecanismos de sobrevivência do patógeno em restos de cultura tem dificultado o manejo adequado da enfermidade. Por isso, o controle deve ser preventivo, sempre que possível. Porém, quando a doença já se encontra na lavoura, recomenda-se adotar estratégias que promovam a redução do inóculo, de modo a diminuir a taxa de progresso da doença. Medidas de controle cultural, juntamente com o controle químico, constituem importantes ferramentas no manejo da mancha zonada, uma vez que quase não há oferta de cultivares comerciais resistentes ao patógeno. Entretanto, a literatura relata tolerância em algumas cultivares comerciais de pepino. 

MEDIDAS CULTURAIS

A adoção de algumas medidas culturais pode auxiliar no manejo da doença, como a eliminação de plantas espontâneas de cucurbitáceas, por exemplo o melão-de-são-caetano, ou plantas voluntárias de pepino e chuchu. Não realizar o plantio próximo a culturas velhas, assim como de outras cucurbitáceas cultivadas, como bucha, abóbora, melancia e melão, por serem possíveis fonte de inóculo. Evitar plantio adensado, de modo a dificultar a geração de um microclima favorável ao processo infeccioso. Por isso, também, deve-se evitar a irrigação por métodos que promovam o molhamento das folhas. Pode ser recomendada a rotação de culturas com plantas não hospedeiras. Algumas medidas de controle alternativo, como o uso de compostos orgânicos (vermicomposto e composto de casca de café) podem ajudar na redução da severidade da doença.

Em estádio mais avançado da doença, as lesões podem se tornar arredondadas e coalescer.
Em estádio mais avançado da doença, as lesões podem se tornar arredondadas e coalescer.

CONTROLE QUÍMICO

Atualmente, a maioria dos fungicidas utilizados no controle da mancha zonada é sistêmico, e com o desenvolvimento da classe das estrobilurinas, novas formulações se tornaram disponíveis. Existem 16 fungicidas registrados no Minsitério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para pepino. Entretanto, apenas quatro princípios ativos diferentes estão registrados para o controle da doença nesta cultura. São o tebuconazol, a azoxistrobina, o clorotalonil e o tiofanato-metílico. Dois dos produtos comerciais registrados para o pepino são misturas entre princípios ativos, pertencentes a duas classes distintas de fungicidas (isoftalonitrila + benzimidazol). Os demais pertencem à classe das estrobilurinas, triazóis, isoftalonitrila, e benzimidazóis. Na cultura do chuchu há apenas um produto com registro no Mapa, na abóbora há dois, para a melancia e o melão são sete (ver Agrofit - http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). Uma das dificuldades para a utilização de fungicidas no controle da doença reside no fato de que em alguns casos, os produtos podem não ser eficientes, quando as condições ambientais são altamente favoráveis ao desenvolvimento do patógeno, o que pode levar a aplicações em doses e frequência exageradas. Em plantios em que ocorre colheita diariamente, como no caso de pepino para picles, aplicações frequentes não são recomendadas, por conta da necessidade de respeitar o período de carência. 

Cucurbitáceas

Muitas espécies de cucurbitáceas (plantas da família Cucurbitaceae), como a melancia, o melão, as abóboras, o pepino e o chuchu, são olerícolas de grande importância econômica no Brasil, sendo seus frutos e sementes destinados à alimentação humana. Em alguns casos, são utilizadas na alimentação animal, ou ainda como ornamentais, medicinais, aromáticas ou como matéria-prima de produtos processados. Em relação aos aspectos nutricionais, os frutos constituem importante fonte de minerais e vitaminas (principalmente A e C), na forma de carotenoides e ácido ascórbico. Além disso, as sementes de cucurbitáceas possuem alto valor nutricional devido à grande quantidade de ácidos graxos insaturados.

As cucurbitáceas são vulneráveis ao ataque de diversos patógenos, que implica redução da produtividade das lavouras. Estima-se que há mais de 200 doenças que afetam os cultivos de cucurbitáceas. A maioria é causada por fungos e oomicetos, que podem afetar os diferentes órgãos das plantas.

Ailton Reis, Embrapa Hortaliças; Maria Isabella de Souza Feitosa, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

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