Consórcios microbianos aumentam produtividade e sustentabilidade na agricultura
Pesquisas comprovam que combinações de microrganismos elevam rendimento de culturas e mitigam estresses ambientais, destacando o potencial dos biopesticidas e biofertilizantes no Brasil
21.05.2024 | 08:57 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de Cristina Tordin
Pesquisadores destacam os benefícios do uso de consórcios microbianos no crescimento das plantas. Essa prática supera os métodos tradicionais de inoculação com espécies únicas. A combinação de microrganismos, como Bradyrhizobium e Pseudomonas oryzihabitans, elevou em 11% o rendimento da soja. Além disso, promoveu um crescimento mais robusto das raízes e uma melhor acumulação de nutrientes.
Estudos recentes revelaram que consórcios envolvendo fungos micorrízicos e o fungo Beauveria bassiana melhoraram significativamente o crescimento do algodão. Essas combinações aumentaram os conteúdos de proteínas e carboidratos e reduziram o crescimento da lagarta Spodoptera littoralis. A sinergia entre diferentes cepas de Beauveria resultou em 100% de mortalidade da traça Plutella xylostella. Já um consórcio de duas cepas de B. bassiana mostrou maior eficácia contra as larvas da lagarta Duponchelia fovealis.
Pesquisas indicam que consórcios microbianos são eficazes na mitigação de estresses abióticos, incluindo metais pesados, déficit hídrico e salinização do solo. Para o analista da Embrapa Meio Ambiente, Gabriel Mascarin, micróbios benéficos atuam como biopesticidas, bioestimulantes e biofertilizantes. Eles contribuem para a saúde e sustentabilidade das culturas, alinhando-se com os princípios da agricultura regenerativa.
O uso de consórcios microbianos está ganhando reconhecimento por sua estabilidade em diferentes condições ambientais e redução nos custos de aplicação. Essa abordagem aumenta a biodiversidade microbiana na rizosfera e filosfera das plantas, contribuindo para um ecossistema mais equilibrado. Estudos indicam que consórcios microbianos ajudam na redução de resíduos de pesticidas. Um consórcio de Aspergillus versicolor e bactérias isoladas de lodo de esgoto mostrou eficiência na degradação de moléculas de carbendazim e tiametoxam. Da mesma forma, um consórcio de Pseudomonas plecoglossicida e isolados de Pseudomonas aeruginosa degradou inseticidas organofosforados de forma eficiente.
Consórcios microbianos também demonstram benefícios no controle de doenças de plantas e promoção do crescimento. Em testes com grão-de-bico, a combinação de Purpureocillium lilacinum e Rhizobium sp. forneceu proteção contra o nematoide Meloidogyne javanica e promoveu um crescimento vigoroso das plantas. No Brasil, líder na produção e uso de agentes de controle biológico, mais de 70 milhões de hectares foram tratados com biopesticidas em 2022. A crescente oferta de produtos biológicos contendo múltiplas espécies ou cepas destaca a importância dos consórcios microbianos.
Peterson Nunes, pesquisador da UFLA, acredita que esses avanços apontam para um futuro em que a agricultura de precisão e a gestão holística da fitossanidade se tornam viáveis. Ele destaca que consórcios microbianos oferecem uma solução sustentável para resiliência às mudanças climáticas, melhor ciclagem de nutrientes e redução do impacto ambiental. À medida que a tecnologia evolui, espera-se que desempenhe um papel cada vez mais importante na produção agrícola sustentável.
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