Centro de recursos biológicos é inaugurado no Rio de Janeiro

​Foi inaugurado no Rio de Janeiro nesta quarta-feira, 10 de maio, o Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner

12.05.2017 | 20:59 (UTC -3)
Liliane Bello

Foi inaugurado no Rio de Janeiro nesta quarta-feira, 10 de maio, o Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner, que, além de reunir microrganismos de reconhecida importância agrícola, oferecerá diversos serviços e atividades relacionadas a bioprocessos, produção e análise de inoculantes microbianos, utilizados para estimular a fixação biológica de nitrogênio (FBN) e, consequentemente, aumentar a produtividade nas lavouras. “A agropecuária, hoje, é responsável por quase 25% do PIB brasileiro e quase 40% do emprego. E não é exagero falar que muito disso se deve à tecnologia da inoculação”, destacou o diretor-executivo da Embrapa, Ladislau Martin Neto, durante solenidade de inauguração do centro.

Ele lembrou o quanto a FBN alavancou a agricultura nacional ao longo das décadas e como a Embrapa Agrobiologia foi protagonista nessa história. “Esta é uma casa muito respeitada. É uma Unidade protagonista da mudança da realidade brasileira e que, hoje, também destaca-se em vários portfólios da Embrapa, como os de FBN, mudanças climáticas e agricultura orgânica, por exemplo. Ver o esforço dessa equipe para a nossa empresa faz toda a diferença”, elogiou.

Para o chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, Gustavo Xavier, a inauguração do CRB-JD é a concretização de um esforço conjunto de muitos anos, englobando a dedicação e o trabalho de equipes atuais e anteriores à sua gestão. “Atuamos da pesquisa básica até propriamente a produção e a distribuição de inoculantes, para chegar onde a indústria não consegue chegar. Somos a única instituição, hoje, recomendada pelo Ministério da Agricultura como provedora oficial de bactérias de interesse da indústria”, salientou.

Atualmente, o CRB-JD conserva mais de 3 mil microrganismos, além de disponibilizar para projetos de pesquisa e difusão de tecnologia mais de 300 microrganismos e mais de mil doses de inoculantes anualmente. Além disso, foi estruturado um banco de DNA microbiano, que vem sendo utilizado para estudos sem que haja a necessidade de cultivos, encurtando o tempo das pesquisas e garantindo material de qualidade.

Histórico e reconhecimento

O CRB-JD foi criado a partir da junção das estruturas das coleções de culturas da Embrapa Agrobiologia, que se iniciou na década de 1950, e do laboratório de bioprocessos e análise de qualidade de inoculantes. Ele faz parte do CRB-Agronegócio, cuja estruturação global é responsabilidade da Embrapa para a Rede de Centros de Recursos Biológicos Brasileira.

Em 2016, a Embrapa Agrobiologia já havia obtido junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) o cadastro de laboratório para análise de controle de qualidade de inoculantes e também o de estabelecimento produtor de inoculantes. Neste ano, portaria do órgão concedeu à Unidade o status de Coleção Oficial para atender às demandas das indústrias do produto.

De acordo com a chefia e com a coordenação do CRB-JD, a expectativa é de que, com a nova infraestrutura, seja possível avançar na conservação dos microrganismos e, principalmente, realizar pesquisas e negócios com o setor produtivo. As pesquisas deverão envolver prospecção de microrganismos e moléculas com potencial biotecnológico para a agricultura, desenvolvimento de bioprocessos – como novas formulações – e estudos de taxonomia microbiana.

Segundo o pesquisador Jerri Zilli, curador do CRB-JD, há ainda a intenção de promover o treinamento de alunos e de profissionais de indústrias na produção de inoculantes, bioprocessos, conservação e caracterização microbiana. “Além disso, pretende-se oferecer análises de qualidade de inoculantes, seguindo as normas do Mapa, e a produção de inoculantes para a pesquisa, para a difusão de tecnologias e, eventualmente, para o atendimento a pequenas demandas de produtores”, explicou.

O chefe-geral da Unidade acrescenta que, com a nova estrutura, espera-se preencher lacunas na pesquisa ou no desenvolvimento tecnológico de novos bioinsumos para uso na agricultura, contribuindo com os avanços de bioeconomia no País. “O principal diferencial será a aproximação com o setor produtivo, buscando a troca de conhecimento e experiência na solução de problemas da agricultura nacional e a aproximação das parcerias público-privadas”, afirmou Xavier.

Homenagem a Avílio Franco

Ex-pesquisador e ex-chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, o engenheiro agrônomo Avílio Franco foi um dos homenageados da cerimônia de inauguração do CRB-JD. O prédio que agora abriga o complexo dos laboratórios recebeu o nome do pesquisador, que ainda hoje permanece ativo, mesmo depois de várias décadas dedicadas à pesquisa na Embrapa e após passar pela superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento da instituição e pela superintendência da área de Institutos e Pesquisa Tecnológica da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), entre outras funções.

“Eu nasci lá no meio do mato, então foi um grande desafio viver essa história. No início éramos um grão de areia na praia, mas hoje somos um centro reconhecido internacionalmente”, disse Franco sobre a relevância da Embrapa Agrobiologia para a tecnologia da FBN. Natural de Cachoeiro de Itapemerim, no Espírito Santo, ele ingressou na Embrapa, ainda como estudante, em 1966. “Esta é minha casa. Não preciso nem falar sobre as pessoas que hoje estão aqui, dando continuidade aos estudos para beneficiar o agricultor”, ressaltou.

Para a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento, Maria Elizabeth Correia, a homenagem a Franco não poderia ser mais acertada: “A lição mais valiosa que aprendi ao lado do Avílio foi o entusiasmo e a dedicação à pesquisa, a alegria a cada pequena descoberta, ao superar os desafios cotidianos. Jamais vou esquecer disso. Avílio é sinônimo de otimismo, perseverança, amor, alegria e amor ao serviço público.”

Além do pesquisador Avílio Franco e do diretor-executivo Ladislau Martin Neto, estiveram presentes na solenidade de inauguração do CRB-JD o prefeito de Seropédica, Anabal Barbosa de Souza; a diretora de tecnologia da Faperj, Eliete Bouoskela; a chefe e a subchefe da pesagro-Rio, Marineide da Cunha Pampolha e Maria Luiza de Araújo; o chefe da Flona Mário Xavier, Ricardo Nogueira; o consultor de produtos biológicos Solon Araújo, da Stoller do Brasil; o chefe-geral da Embrapa Solos, Daniel Vidal Perez; e o pesquisador Marcos José de Oliveira Fonseca, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, representando a chefia-geral da Unidade, entre outros convidados.

Johanna Döbereiner

O Centro de Recursos Biológicos da Embrapa Agrobiologia leva o nome da pesquisadora Johanna Döbereiner, a principal responsável pela criação da Unidade e também pelo início dos estudos sobre fixação biológica de nitrogênio no mundo. “A tecnologia da FBN, que é responsável por uma enorme economia na produção da soja brasileira, tem origem na Embrapa Agrobiologia, a partir de um trabalho pioneiro iniciado pela Johanna. Isso foi uma bomba propulsora, que ainda hoje estimula a pesquisa”, apontou o chefe-geral Gustavo Xavier.

O pesquisador aposentado Avílio Franco acrescentou: “Sem Johanna não estaríamos aqui, continuaríamos sendo aquele grão de areia na praia. E o que existe hoje é fruto do trabalho e da dedicação de todos os que trabalharam aqui ao longo dos últimos 50 anos.”

Johanna recebeu inúmeros prêmios e homenagens em vida e também póstumas. Liderou a pesquisa no então Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas – o precursor da Embrapa Agrobiologia – e foi chefe da Unidade. Em um século em que a agricultura somava desafios e tinha a presença masculina como regra, ela foi a exceção. Ao instituir o uso de microrganismos e alavancar a agricultura tropical, dando um novo alento na busca por competitividade frente a grandes mercados, ela selou seu nome na história. Sua contribuição transformou o Brasil no segundo maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos. Faleceu em 2000, vítima de enfermidade neurológica.


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