​Biotecnologia abre novos caminhos para a agricultura nacional

Palestras realizadas durante o XX CBSementes apontam aspectos regulatórios como gargalo para que soluções cheguem até os agricultores

08.08.2017 | 20:59 (UTC -3)
Danielle Castro Garcia

Já imaginou controlar uma planta daninha, ou a ação de um inseto ou fungo, com total especificidade, sem efeitos colaterais em nenhum organismo vivo do ambiente, que não seja o alvo? Técnicas de controle de pragas e doenças baseadas na interferência por RNA (RNAi) permitem essa precisão e podem ser uma alternativa ao controle químico e foram discutidas no XX Congresso Brasileiro de Sementes.

Para o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Eduardo de Andrade, a segurança é uma das maiores vantagens dessa tecnologia. “É possível controlar apenas a espécie desejada sem afetar outras, principalmente as benéficas - como espécies que se comportam como inimigos naturais desta praga, ou mesmo polinizadores como abelhas e borboletas. Além disso, é possível realizar análises preliminares para saber se haverá risco de afetar espécies não-alvo”.

Outro aspecto positivo, abordado durante sua palestra no XX Congresso Brasileiro de Sementes, é a possibilidade de tratar mais de uma praga de forma simultânea, “mesmo se tratando de um inseto e um fungo, pode-se desenhar uma molécula de RNA que contenha a parte da sequência de um gene de um inseto e parte da sequência de um fungo, de modo a afetar estes dois organismos”, conclui.

Outra possibilidade de aplicação futura para a tecnologia é a criação de produtos comerciais que contenham as moléculas de dsRNA para serem utilizados via pulverização. Neste caso, o produtor poderia, por exemplo, aplicar na lavoura para “combater” a resistência de determinada planta daninha aos herbicidas disponível. “Até algum tempo atrás, o custo de se produzir artificialmente grandes quantidades de dsRNA tornava a tecnologia inviável. Este gargalo aparentemente foi superado, e não acredito que o custo de produção será alto”.

Plantas melhradas a partir desta tecnologia j;a estão disponíveis no mercado. Recentemente foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio) para comercialização no Brasil, a primeira variedade de milho com resistência a insetos mediado por RNAi. A planta é resistente à larva-alfinete, inseto que não tem grande relevância nas lavouras brasileiras, mas provoca severos danos nos Estados Unidos, onde foi desenvolvida a variedade.

Vale ressaltar que ainda não existe uma regulamentação do governo brasileiro quanto ao uso de produtos comerciais contendo tecnologia RNAi. No caso de plantas transgênicas contendo a tecnologia, estas são regulamentadas pela CTNBio.

Tecnologia CRISPRs - Melhoramento muito mais rápido e barato

O pesquisador da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, encerrou a programação desta segunda-feira com a palestra Novas Tecnologias de Melhoramento Genético, trazendo um panorama sobre a tecnologia CRISPR, suas possibilidades de aplicação e impacto para o mercado de sementes nacional.

Descoberta em 2012, a tecnologia CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) é considerada revolucionária por permitir a manipulação de genes com maior precisão, rapidez e menor custo. Tornando possível, “olhar as estratégias e adaptações desenvolvidas pela natureza para que sejam utilizadas no desenvolvimento de plantas com características que sejam de nosso interesse”, explica.

Segundo o pesquisador, híbridos de milho com alto teor de amilopectina, gerados a partir de edição genômica, não foram considerados OGMs, já obtendo autorização para comercialização em países como Estados Unidos e Argentina. “Esse precedente pode influenciar os aspectos regulatórios que estão sendo definidos para essa tecnologia atualmente em vários países, inclusive o Brasil. O que deve levar à rápida introdução no mercado de plantas genomicamente editadas que não contém fragmentos de DNA de outras espécies e/ou grandes alterações na sequência de DNA endógena”.

O menor custo de produção e agilidade de comercialização poderia resultar na descentralização do mercado de sementes. “Ao reduzir o custo para o desenvolvimento de novas cultivares, a tecnologia permite a entrada de novos players no mercado”, conclui.

Para essa terça-feira, o XX CBSementes traz um painel completo sobre Vigor de Sementes e seus múltiplos aspectos; debate questões sanitárias envolvendo a movimentação internacional de sementes, com o pesquisador da Universidade de Iowa/ USA e ainda aborda a os avanços tecnológicos e Cloud Computer na cadeia sementeira.

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