Pecuária não é a maior responsável pela destruição da camada de ozônio, diz estudo
Há pouca oferta de gado para abate. O mercado está firme, mas os aumentos de preço têm acontecido em doses homeopáticas. Aliás, no final da semana passada chegaram a ser registrados alguns recuos.
O problema está na demanda. Os frigoríficos argumentam que as margens estão apertadas. E aí o boi empaca.
Vamos analisar alguns indicadores de mercado interno. Um deles é o Equivalente Físico, que nada mais é que a carcaça (carne com osso) no atacado. Ele é formado por 48% de traseiro, 39% de dianteiro e 13% de ponta de agulha.
O outro é o Equivalente Scot. Consideramos, para a formação deste índice, que um animal adulto produz, além da carne, 40 kg de couro e 12 kg de sebo.
Então ficamos assim. O Equivalente Físico indica o quanto o frigorífico recebe pela venda de carne com osso. O Equivalente Scot, por sua vez, apura a receita da indústria na venda da carne com osso, juntamente com o couro e com o sebo.
O Equivalente Físico nós acompanhamos há tempos. O Equivalente Scot foi montado em 2003. Portanto, para podermos analisar os dois em conjunto, vamos restringir o período de estudo de 2003 para cá.
Na média de julho, dias 1 a 10, o boi gordo está em R$82,86/@, com Equivalente Físico em R$73,59/@ e Equivalente Scot em R$75,62/@. A defasagem do Equivalente Físico (carne) para o boi, portanto, está em 11,19%. A do Equivalente Scot (carne + couro + sebo) para o boi está em 8,73%.
A carne, há anos, não paga o boi. Nem colocando o couro e o sebo na conta.
Sendo assim, o que se faz necessário é avaliar se as atuais defasagens dos equivalentes, em relação ao boi, estão acima das médias históricas. Aí saberemos se os frigoríficos, hoje, estão com margens atipicamente apertadas.
A defasagem atual da carne (Equivalente Físico) para o boi não está acima da média histórica. Aliás, esse tem sido um ano relativamente bom, em termos comparativos.
É verdade que, em julho, essa defasagem aumentou. Mas os frigoríficos já enfrentaram situações bem piores.
Veja, porém, que a atual defasagem do Equivalente Scot para o boi está bem acima da média histórica, sendo mais do que o dobro dos patamares de 2005 e 2006. Aliás, essa defasagem vem aumentando sem parar desde 2006.
Interessante destacar também que a diferença entre o Equivalente Físico e o Equivalente Scot está se estreitando. Compare a média de 2009 com a dos anos anteriores.
Isso significa que o aperto das margens da indústria se deve, principalmente, ou ao couro, ou ao sebo, ou aos dois. Alguma coisa aí está perdendo importância econômica. E está fazendo falta!
A cotação do couro verde (no caso estamos analisando o couro catado, pois a nossa série é mais longa), literalmente despencou nos últimos anos. Aliás, ao longo do período analisado, esse é o único derivado bovino que registrou queda de preço mesmo em termos nominais.
O couro tem perdido espaço para os produtos sintéticos. Além do mais, no último ano, foi um dos produtos que mais sentiu o baque da crise econômica. Primeiro, porque o Brasil exporta a maior parte da produção (ao contrário do que acontece com a carne), e foi justamente o mercado internacional que entrou de cabeça na recessão. Segundo, porque o destino final da maior parte dos produtos e artefatos de couro é, principalmente, os Estados Unidos (o pai da crise). Terceiro, porque os setores que mais compram couro, o automotivo e o moveleiro, estão bem no "olho do furacão".
O sebo se valorizou entre 2003 e 2009, mas foi muito pouco. Além do mais, a produção de couro, por animal abatido, é o triplo da de sebo.
É preciso considerar também que, especificamente nas últimas semanas, o sebo começou a trabalhar em baixa, saindo de R$1,50/kg para R$1,30/kg (queda de 13,33%). No frio a demanda por sebo diminui, tanto por parte do setor de higiene e limpeza (por motivos óbvios), quanto por parte do setor de biodiesel. Isso porque a gordura animal, em temperaturas abaixo de 22º C (mais ou menos), tende a cristalizar.
A síntese dessa conversa toda é que, se a margem da indústria não está confortável, o problema, sob uma perspectiva histórica, não está na carne. Está no couro.
Por fim, vale destacar que quando comparamos os valores dos equivalentes com o boi, não estamos considerando os custos da indústria. Os miúdos e as farinhas têm, portanto, que preencher o que falta para chegar ao valor do boi gordo e ainda cobrir os gastos com mão-de-obra, fretes, água, energia, depreciações, etc.
Scot Consultoria
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