Tagosodes orizicolus

09.03.2025 | 09:57 (UTC -3)
<i>Tagosodes orizicolus</i> -&nbsp;<b>(a)</b> macho (cor escura) e fêmea (cor clara); <b>(b)</b> ovo inserido parcialmente no limbo foliar (postura intradérmica); <b>(c)</b> ninfa; <b>(d)</b> macho (cor escura), fêmeas macrópteras e fêmeas braquípteras (asas atrofiadas) - Fotos:&nbsp;Paulo da Silva
Tagosodes orizicolus(a) macho (cor escura) e fêmea (cor clara); (b) ovo inserido parcialmente no limbo foliar (postura intradérmica); (c) ninfa; (d) macho (cor escura), fêmeas macrópteras e fêmeas braquípteras (asas atrofiadas) - Fotos: Paulo da Silva

Tagosodes orizicolus é conhecido popularmente como cigarrinha-do-arroz ou delfacídeo-do-arroz.

Em algumas regiões da América Latina, chama-se sogata.

Culturas atacadas

A cigarrinha-do-arroz é uma praga de grande importância para a cultura do arroz (Oryza sativa), tanto no sistema irrigado quanto no de terras altas.

Além do arroz, o inseto pode se alimentar de gramíneas invasoras, como Echinochloa spp., Brachiaria mutica e Leptochloa fascicularis, que servem de refúgio durante a entressafra.

Biologia

A cigarrinha-do-arroz (Tagosodes orizicolus) pertence à ordem Hemiptera e à família Delphacidae.

Seu ciclo de vida é curto, permitindo múltiplas gerações ao longo da safra, o que facilita sua rápida multiplicação e dispersão nas lavouras.

Os adultos apresentam dimorfismo sexual evidente:

  • Machos: medem cerca de 2,7 mm de comprimento, possuem coloração castanho-escura e asas amareladas e transparentes.
  • Fêmeas: maiores que os machos, com aproximadamente 3,5 mm, possuem coloração amarelada e podem ser braquípteras (asas curtas) ou macrópteras (asas longas), sendo estas últimas mais associadas à dispersão.

As ninfas passam por cinco estágios antes de atingirem a fase adulta.

Elas apresentam coloração esbranquiçada no início do desenvolvimento e adquirem faixas dorsais marrons nos instares mais avançados.

As fêmeas colocam ovos na nervura central das folhas, preferencialmente na face adaxial (superior).

Cada fêmea pode depositar até 300 ovos ao longo da vida, em grupos de aproximadamente sete ovos.

O período de incubação dos ovos varia entre 7 e 19 dias, dependendo da temperatura.

O estágio ninfal dura entre 14 e 21 dias.

O ciclo completo, do ovo ao adulto, ocorre em cerca de 30 dias.

A longevidade dos adultos varia:

  • Machos vivem em média 14 dias.
  • Fêmeas vivem até 44 dias.

Temperaturas entre 25°C e 27°C favorecem a reprodução e a taxa de desenvolvimento da cigarrinha. Em temperaturas abaixo de 25°C, o crescimento populacional pode ser reduzido

<i>Tagososdes orizicolus</i> -  <b>(a)</b> fêmea macróptera; <b>(b)</b> macho; <b>(c)</b> ninfa (escala = 1 mm) - Fonte: Comunicado Técnico 5 - ISSN 0102-099 - Paulo Roberto Valle da Silva Pereira e Moisés C. Mourão de Oliveira Júnior
Tagososdes orizicolus - (a) fêmea macróptera; (b) macho; (c) ninfa (escala = 1 mm) - Fonte: Comunicado Técnico 5 - ISSN 0102-099 - Paulo Roberto Valle da Silva Pereira e Moisés C. Mourão de Oliveira Júnior

Ecologia e características

No Brasil, a população de cigarrinha-do-arroz tem apresentado crescimento principalmente no final da safra. Rebrotes do arroz podem ser uma importante fonte de sobrevivência do inseto na entressafra.

Ambientes quentes e secos favorecem o crescimento populacional. Chuvas frequentes e temperaturas abaixo de 25°C reduzem a população. Durante períodos de estiagem, o inseto pode se dispersar para áreas vizinhas, aumentando a infestação em lavouras próximas.

O inseto possui fototropismo positivo, ou seja, é atraído pela luz, o que permite seu monitoramento por armadilhas luminosas.

Fêmeas macrópteras são mais móveis e são responsáveis pela dispersão da praga entre áreas cultivadas.

Ninfas e fêmeas braquípteras tendem a permanecer próximas ao local de nascimento, alimentando-se das plantas hospedeiras.

A densidade populacional da cigarrinha varia conforme a fase da lavoura:

  • No arroz irrigado, a população tende a ser maior na fase vegetativa, declinando na fase reprodutiva.
  • Em terras altas, a maior densidade é registrada na fase reprodutiva.
  • A população cresce a partir de janeiro, atingindo o pico entre fevereiro e março. Após a colheita, a cigarrinha se mantém em áreas com rebrotes de arroz.

Insetos predadores, como aranhas e vespinhas parasitoides, auxiliam no controle natural da praga.

Fungos entomopatogênicos, como Metarhizium anisopliae, são agentes naturais que reduzem a população da cigarrinha, especialmente em condições de alta umidade.

Danos

A cigarrinha-do-arroz causa danos diretos e indiretos às plantas.

Os insetos alimentam-se da seiva das folhas, colmos e panículas em formação. Durante a alimentação, liberam uma substância açucarada (honeydew), que favorece o crescimento do fungo Capnodium, conhecido como fumagina. Esse fungo forma uma camada escura sobre as folhas, reduzindo a fotossíntese e impactando o desenvolvimento das plantas.

Em infestações severas, as folhas do arroz podem secar completamente, fenômeno descrito como hopperburn. Estima-se que a presença de cinco adultos por batida de rede pode reduzir a produção de grãos em até 25%.

A principal ameaça associada a T. orizicolus é sua capacidade de transmitir o vírus da folha branca do arroz (Rice Hoja Blanca Virus – RHBV). Esse vírus causa manchas cloróticas nas folhas, podendo levar à morte da planta ou esterilidade das panículas. Embora o vírus ainda não tenha sido registrado no Brasil, sua presença na América Latina é um risco para a rizicultura nacional.

Controle

O manejo da cigarrinha-do-arroz deve ser integrado, combinando medidas culturais, biológicas e químicas para reduzir sua população e evitar surtos.

  • Destruição de restos culturais: as soqueiras e gramíneas hospedeiras devem ser eliminadas para reduzir a sobrevivência do inseto na entressafra.
  • Evitar adubação nitrogenada excessiva: o excesso de nitrogênio favorece o crescimento populacional da praga.
  • Monitoramento constante: amostragens semanais devem ser realizadas para identificar a presença do inseto nas lavouras.
  • O fungo Metarhizium anisopliae tem demonstrado eficiência no controle da cigarrinha. Esse fungo entomopatogênico pode se espalhar rapidamente em condições favoráveis de umidade, causando epizootias que reduzem a população da praga.

No Brasil, ainda não há inseticidas registrados especificamente para T. orizicolus. Em alguns casos, são utilizados inseticidas recomendados para outras espécies de cigarrinhas, mas essa prática pode trazer riscos ambientais e selecionar populações resistentes.

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