
Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid. é um fungo ascomiceto pertencente à família Botryosphaeriaceae. É responsável por diversas doenças agrícolas. Em soja, causa doença popularmente conhecida como podridão-cinzenta ou podridão de carvão.
Reino: Fungi
Filo: Ascomycota
Classe: Dothideomycetes
Ordem: Botryosphaeriales
Família: Botryosphaeriaceae
Gênero: Macrophomina
Espécie: Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid.
Taxonomia
A taxonomia de Macrophomina phaseolina reflete a evolução do conhecimento micológico ao longo do século XX e início do XXI. Inicialmente descrito por Tassi em 1901 como Macrophoma phaseoli, o fungo passou por diversas reclassificações até sua atual posição na família Botryosphaeriaceae, ordem Botryosphaeriales.
Essa classificação, sustentada por análises moleculares filogenéticas baseadas em regiões conservadas como ITS e LSU do rDNA, posiciona o patógeno entre fungos predominantemente necrotróficos com ampla gama de hospedeiros.
A complexidade taxonômica de M. phaseolina é evidenciada pela descoberta de significativa variabilidade genética entre isolados de diferentes origens geográficas e hospedeiros.
Estudos moleculares sugerem a possível existência de um complexo de espécies crípticas, o que tem implicações importantes para o desenvolvimento de estratégias de controle específicas e programas de melhoramento genético de plantas resistentes. Esta diversidade genética também explica, em parte, a extraordinária capacidade adaptativa do patógeno a diferentes condições ambientais e hospedeiros.
Biologia e sobrevivência
A biologia de Macrophomina phaseolina é caracterizada por adaptações sofisticadas que garantem sua sobrevivência e proliferação em ambientes frequentemente adversos.
O elemento central de sua estratégia biológica são os microescleródios - estruturas de resistência microscópicas (50-150 μm) com paredes espessas ricas em melanina, capazes de permanecer viáveis no solo por períodos superiores a uma década. Estas estruturas representam uma solução evolutiva elegante para a sobrevivência em condições de estresse hídrico, térmico e nutricional.
O ciclo de vida do patógeno é otimizado para condições de estresse, apresentando um paradoxo ecológico fascinante: enquanto a maioria dos fungos fitopatogênicos requer alta umidade para infectar, M. phaseolina é mais agressivo sob condições de estresse hídrico.
Essa característica única resulta de sua estratégia necrotrófica, na qual o patógeno mata os tecidos hospedeiros antes de colonizá-los, aproveitando-se do estado debilitado da planta para estabelecer infecção.
A produção de enzimas degradativas e fitotoxinas constitui outro aspecto fundamental da biologia do patógeno. Através da síntese de celulases, pectinases, xilanases e compostos tóxicos específicos como a phaseolinone, M. phaseolina consegue superar as barreiras físicas e bioquímicas da planta, colonizando preferencialmente o sistema vascular e causando a característica obstrução que leva aos sintomas de murcha e morte prematura.
Ecologia e distribuição global
A ecologia de Macrophomina phaseolina exemplifica como fatores abióticos e bióticos interagem para determinar a distribuição e impacto de um patógeno. Sua distribuição cosmopolita, com maior prevalência em regiões tropicais e subtropicais, reflete sua preferência por temperaturas elevadas (28-35°C) e condições de estresse hídrico. Esta distribuição está se expandindo em consequência das mudanças climáticas, com relatos crescentes de problemas em regiões anteriormente consideradas não propícias ao desenvolvimento da doença.
O nicho ecológico ocupado pelo patógeno é complexo e multidimensional. Como necrotrófico facultativo e saprófito secundário, M. phaseolina desempenha papéis duplos no ecossistema: patógeno destrutivo em plantas cultivadas e decompositor secundário na ciclagem de nutrientes. Esta dualidade ecológica contribui para sua persistência ambiental e torna desafiador seu controle através de métodos convencionais.
As interações bióticas de M. phaseolina incluem complexas redes de antagonismo, sinergismo e competição com outros microrganismos do solo. O antagonismo exercido por fungos do gênero Trichoderma e bactérias como Bacillus e Pseudomonas representa uma das bases para estratégias de controle biológico. Simultaneamente, as interações sinérgicas com nematoides e outros patógenos podem potencializar os danos causados às culturas, formando complexos patogênicos de difícil manejo.
Etiologia e mecanismos de patogenicidade
A etiologia da podridão carbonosa revela um processo patogênico sofisticado que integra reconhecimento molecular do hospedeiro, penetração ativa, colonização sistêmica e manipulação da fisiologia da planta.
O processo inicia-se com o reconhecimento quimiotático dos exsudatos radiculares, seguido pela germinação dos microescleródios e formação de hifas infectivas especializadas.
A penetração pode ocorrer tanto por via direta, através da epiderme radicular intacta mediante ação enzimática, quanto por ferimentos, aproveitando lesões mecânicas ou aberturas naturais.
Uma vez estabelecido nos tecidos da planta, o patógeno coloniza preferencialmente o sistema vascular, onde sua presença e a produção de toxinas causam a obstrução dos vasos condutores e a interferência no transporte de água e nutrientes.
Os mecanismos de patogenicidade envolvem a produção coordenada de enzimas degradativas da parede celular e fitotoxinas específicas. Esta combinação permite não apenas a invasão física dos tecidos, mas também a manipulação bioquímica da resposta de defesa do hospedeiro.
A capacidade do patógeno de suprimir ou evadir o sistema imune da planta através da produção de efetores e mascaramento de padrões moleculares associados ao patógeno demonstra a sofisticação evolutiva desta interação.
Impacto na agricultura
O impacto econômico de Macrophomina phaseolina na agricultura global é substancial, com perdas estimadas entre 10-40% em culturas suscetíveis sob condições favoráveis ao patógeno.
Em culturas como soja, feijão e girassol, a doença representa uma das principais limitações produtivas em regiões tropicais e subtropicais. Além das perdas diretas de produtividade, os custos indiretos incluem a necessidade de replantio, aplicações de fungicidas e a redução da qualidade dos produtos colhidos.
O manejo da podridão carbonosa apresenta desafios únicos relacionados à biologia do patógeno e às condições ambientais que favorecem seu desenvolvimento. A longevidade dos microescleródios no solo torna ineficazes as estratégias baseadas apenas na eliminação de restos culturais ou pousio.
A preferência do patógeno por condições de estresse hídrico complica o manejo da irrigação, tradicionalmente usado para controle de doenças fúngicas.
As estratégias de manejo integrado devem considerar múltiplas táticas: rotação de culturas com gramíneas não suscetíveis, correção de fatores predisponentes como compactação e desequilíbrios nutricionais, uso de cultivares resistentes ou tolerantes, controle biológico com microrganismos antagonistas e aplicação criteriosa de fungicidas quando necessário. A eficácia destas estratégias depende de sua implementação coordenada e adaptação às condições locais específicas.
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