Frankliniella occidentalis

26.05.2025 | 10:26 (UTC -3)

Frankliniella occidentalis (Pergande, 1895), conhecida como tripes-ocidental ou tripes-californiano, destaca-se como uma das pragas mais devastadoras e cosmopolitas do mundo.

Originária da região oeste da América do Norte, esta pequena praga expandiu sua distribuição geográfica de forma exponencial nas últimas décadas, estabelecendo-se como um problema fitossanitário de primeira ordem em todos os continentes onde a agricultura é praticada.

O impacto econômico de F. occidentalis transcende os danos diretos causados por sua alimentação, uma vez que atua como vetor eficiente de vírus fitopatogênicos, particularmente tospovírus, que podem causar perdas totais nas culturas afetadas.

Esta dupla capacidade destrutiva, aliada à sua extraordinária adaptabilidade ecológica e resistência crescente aos métodos de controle convencionais, torna esta espécie um dos maiores desafios contemporâneos da entomologia agrícola.

Caracterização taxonômica e morfológica

Frankliniella occidentalis pertence à ordem Thysanoptera, família Thripidae, subfamília Thripinae, representando uma das aproximadamente 230 espécies do gênero Frankliniella.

Sua classificação taxonômica reflete uma evolução especializada dentro dos tisanópteros, grupo caracterizado pela metamorfose paurometábola e aparelho bucal sugador-raspador assimétrico.

Morfologicamente, F. occidentalis apresenta características distintivas que facilitam sua identificação. Os adultos medem entre 1,0 e 1,8 mm de comprimento, exibindo coloração que varia do amarelo-alaranjado ao marrom-claro, dependendo de fatores ambientais e genéticos.

O dimorfismo sexual é evidente, com fêmeas ligeiramente maiores e portadoras de um ovipositor serreado bem desenvolvido, estrutura fundamental para a inserção de ovos nos tecidos vegetais.

As antenas octosegmentadas, com sensilas forqueadas nos segmentos III e IV, constituem estruturas sensoriais altamente especializadas para detecção de estímulos químicos e mecânicos.

O aparelho bucal, adaptação evolutiva notável, permite a raspagem eficiente da superfície celular através de mandíbulas assimétricas, seguida da sucção do conteúdo extravasado. Esta especialização morfológica explica tanto a eficiência alimentar quanto a capacidade de transmissão viral da espécie.

Aspectos biológicos e ecológicos

A biologia de F. occidentalis revela adaptações que explicam seu sucesso como praga cosmopolita. Seu ciclo de vida paurometábolo compreende seis estágios: ovo, duas instares larvais, pré-pupa, pupa e adulto, com duração total de 15 a 30 dias, dependendo das condições ambientais. Esta rapidez no desenvolvimento permite múltiplas gerações anuais, variando de 8 a 15 ciclos conforme a região geográfica.

A capacidade reprodutiva da espécie é notável, com fêmeas depositando 40 a 100 ovos durante sua vida útil de 20 a 35 dias.

A reprodução por partenogênese arrenótoca confere vantagem adaptativa significativa, permitindo que uma única fêmea estabeleça novas populações na ausência de machos. Esta estratégia reprodutiva, combinada com alta fecundidade e rápido desenvolvimento, resulta em crescimento populacional exponencial sob condições favoráveis.

Ecologicamente, F. occidentalis demonstra extraordinária plasticidade, adaptando-se a uma ampla gama de condições climáticas.

Sua faixa térmica de desenvolvimento estende-se de 8°C a 38°C, com ótimo entre 20°C e 25°C.

A ausência de diapausa obrigatória permite atividade contínua em regiões tropicais e subtropicais, enquanto a capacidade de quiescência facilita a sobrevivência em condições temperadas adversas.

Aspectos etiológicos e patogênicos

A etiologia dos danos causados por F. occidentalis apresenta complexidade que transcende os efeitos diretos da alimentação.

O mecanismo de alimentação por raspagem-sucção resulta em danos característicos: pontuações prateadas resultantes da ruptura celular e entrada de ar nos espaços intercelulares, bronzeamento por oxidação de compostos fenólicos, e necrose localizada dos tecidos perfurados.

Contudo, os danos indiretos através da transmissão viral frequentemente superam em gravidade os efeitos diretos da alimentação.

F. occidentalis atua como vetor de diversos tospovírus, sendo o vírus do vira-cabeça-do-tomateiro (TSWV) o mais economicamente importante. A transmissão viral ocorre de forma persistente-propagativa, com aquisição durante os estágios larvais e retenção vitalícia no inseto vetor. Esta característica torna cada indivíduo uma ameaça permanente às culturas susceptíveis.

A capacidade vetorial, combinada com alta mobilidade e polifagia, transforma F. occidentalis em um disseminador extremamente eficiente de patógenos virais.

A natureza sistêmica dos tospovírus resulta em sintomas devastadores: necrose generalizada, nanismo severo, anéis necróticos e, frequentemente, morte das plantas infectadas.

Em cultivos de tomate, por exemplo, plantas infectadas precocemente podem apresentar perdas de 100% na produção.

Gama de hospedeiros e impactos econômicos

A polifagia extrema de F. occidentalis manifesta-se na capacidade de se alimentar e reproduzir em mais de 500 espécies vegetais, distribuídas em numerosas famílias botânicas. Esta característica, aliada à sua capacidade dispersiva, facilita a colonização de novos ambientes e a persistência em sistemas agrícolas diversos.

Entre as culturas economicamente importantes, destacam-se as solanáceas (tomate, pimentão, batata), cucurbitáceas (pepino, melão), leguminosas (feijão), hortaliças folhosas (alface, espinafre) e uma vasta gama de plantas ornamentais (rosas, crisântemos, gérberas).

Os danos variam desde depreciação estética até perdas totais de produção, dependendo da cultura, estágio fenológico no momento do ataque e presença de vírus associados.

O impacto econômico global de F. occidentalis é estimado em bilhões de dólares anuais.

Em cultivos de tomate, as perdas podem variar de 30% a 90% quando associadas à transmissão de TSWV.

Na floricultura, setor particularmente vulnerável devido aos padrões estéticos rigorosos, as perdas podem atingir 70% da produção em cultivos severamente infestados.

Além das perdas diretas, devem-se considerar os custos crescentes de controle, que podem representar 10% a 15% dos custos totais de produção.

Desafios no manejo e controle

O controle de F. occidentalis apresenta desafios únicos que resultam de suas características biológicas e comportamentais. A alta capacidade reprodutiva, ciclo de vida curto, hábito críptico e tendência ao desenvolvimento de resistência a inseticidas tornam o manejo convencional frequentemente ineficaz.

O desenvolvimento de resistência constitui uma das principais preocupações no controle desta praga.

Populações resistentes foram documentadas para diversos grupos de inseticidas, incluindo organofosforados, carbamatos, piretróides e, mais recentemente, neonicotinóides.

Esta resistência múltipla limita significativamente as opções de controle químico e exige estratégias sofisticadas de manejo da resistência.

O controle biológico, embora promissor, enfrenta limitações relacionadas à sincronização entre predadores, parasitóides e a praga, além da necessidade de condições ambientais específicas para estabelecimento e eficácia dos agentes de controle.

Predadores como Amblyseius swirskii e Orius spp. demonstram excelente potencial, mas requerem programas de liberação bem planejados e monitoramento contínuo.

Estratégias de manejo integrado

O manejo eficaz de F. occidentalis exige uma abordagem integrada que combine múltiplas táticas de controle.

O controle cultural, através da eliminação de hospedeiros alternativos e uso de barreiras físicas como telas anti-insetos, constitui a base de programas bem-sucedidos. Em ambientes protegidos, telas com malha de 50 mesh podem reduzir infestações em até 95%.

O controle biológico representa componente fundamental do manejo integrado, com ênfase na conservação de inimigos naturais e liberações inoculativas ou inundativas de agentes de controle. A combinação de ácaros predadores (Amblyseius spp.) com percevejos predadores (Orius spp.) tem demonstrado sinergismo significativo no controle populacional de tripes.

O controle químico, quando necessário, deve seguir princípios de manejo da resistência, incluindo rotação entre diferentes modos de ação, uso de produtos seletivos aos inimigos naturais e aplicações baseadas em monitoramento populacional. Produtos como espinosade, abamectina e diamidas mantêm eficácia quando utilizados criteriosamente dentro de programas integrados.

Clique aqui e veja quais inseticidas estão registrados para o controle de Frankliniella occidentalis (tripes)

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