Commelina erecta

26.05.2025 | 18:34 (UTC -3)
Foto: E. Bell
Foto: E. Bell

Commelina erecta L., conhecida popularmente como trapoeraba, marianinha ou erva-de-santa-luzia, representa um dos principais desafios fitossanitários nos sistemas agrícolas brasileiros e mundiais.

Pertencente à família Commelinaceae, esta espécie herbácea tem se destacado como uma das plantas daninhas mais problemáticas em diversas culturas comerciais, exigindo compreensão aprofundada de suas características biológicas e estratégias eficazes de manejo para minimizar seus impactos na produtividade agrícola.

Características morfológicas e taxonômicas

Commelina erecta apresenta morfologia característica que facilita sua identificação e compreensão de seu comportamento ecológico.

A espécie desenvolve caules herbáceos e suculentos, com nós e entrenós bem definidos, que podem atingir entre 30 a 80 centímetros de altura.

Uma característica fundamental é a capacidade de enraizamento adventício nos nós quando em contato com solo úmido, conferindo à planta extraordinária capacidade de propagação vegetativa.

O sistema radicular é fibroso e relativamente superficial, explorando eficientemente a camada superior do solo, rica em nutrientes e umidade. As folhas são simples, alternas, lanceoladas a ovado-lanceoladas, com bainha fechada característica da família Commelinaceae.

A inflorescência apresenta flores organizadas em cimas escorpioides protegidas por uma bráctea espatácea em forma de barco, sendo as flores zigomorfas com três pétalas distintas: duas azuis maiores e uma menor, frequentemente branca ou translúcida.

Esta arquitetura morfológica confere à espécie vantagens competitivas significativas em agroecossistemas, permitindo exploração eficiente de recursos e rápida colonização de novos ambientes através de múltiplas estratégias reprodutivas.

Diferenças entre <i>Commelina benghalensis</i> e <i>Commelina erecta</i>
Diferenças entre Commelina benghalensis e Commelina erecta

Biologia reprodutiva e ciclo de vida

A complexidade do sistema reprodutivo de Commelina erecta constitui um dos principais fatores de seu sucesso como espécie invasora. A espécie apresenta reprodução sexuada através de polinização entomófila, realizada principalmente por pequenos insetos atraídos pelas flores azuis vistosas.

Adicionalmente, desenvolve cleistogamia, produzindo flores fechadas que se autofecundam, garantindo produção de sementes mesmo na ausência de polinizadores adequados.

A reprodução assexuada ocorre através da fragmentação do caule e posterior enraizamento nos nós, permitindo colonização rápida de novas áreas e perpetuação da espécie em condições adversas. Esta estratégia reprodutiva dupla confere extraordinária plasticidade adaptativa, explicando a persistência da espécie em diferentes ambientes e condições de manejo.

O ciclo de vida varia entre anual e perene de vida curta, dependendo das condições ambientais.

Suas sementes não apresentam dormência física, sendo permeáveis à água. E podem exibir dormência fisiológica, com sementes livres germinando imediatamente após a queda e sementes revestidas entrando no banco de sementes (Panigo, 2024).

A germinação é favorecida por 12 horas de luz a 24-29°C e 12 horas de escuridão a 10-15.6°C, sendo fotoblástica positiva.

O desenvolvimento vegetativo inicial é relativamente lento, mas acelera significativamente após estabelecimento do sistema radicular, com início do florescimento entre 40-60 dias após germinação.

Adaptações ecofisiológicas

Commelina erecta desenvolveu diversas adaptações que explicam seu sucesso em agroecossistemas. A espécie apresenta características suculentas, armazenando água nos caules e folhas, conferindo tolerância a períodos de déficit hídrico moderado. Esta capacidade é fundamental para sobrevivência em sistemas agrícolas sujeitos a variações hídricas sazonais.

A plasticidade fenotípica representa outra adaptação crucial, permitindo ajustes morfológicos conforme condições luminosas. Em sombreamento, desenvolve entrenós mais longos e folhas maiores, enquanto em pleno sol apresenta crescimento mais compacto e resistente. Como planta C3, apresenta fotossíntese típica de espécies temperadas adaptada a condições tropicais através de ajustes morfofisiológicos específicos.

A eficiência na absorção de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, permite competição efetiva com culturas agrícolas por recursos essenciais. Esta característica, combinada com tolerância a ampla faixa de pH (4,5-7,5) e diferentes texturas de solo, explica sua ocorrência generalizada em diversos sistemas produtivos.

Condições propícias ao desenvolvimento

O estabelecimento e desenvolvimento de Commelina erecta são influenciados por complexa interação de fatores abióticos e bióticos. Climaticamente, a espécie prospera em temperaturas entre 20-30°C, com precipitações entre 800-1500mm anuais, embora tolere condições mais restritivas devido às adaptações morfofisiológicas desenvolvidas.

As características edáficas exercem influência significativa, com preferência por solos franco-argilosos a franco-arenosos, bem drenados e com fertilidade moderada a alta. A tolerância a ampla faixa de pH permite ocorrência em solos típicos de diferentes regiões agrícolas brasileiras.

Práticas de manejo inadequadas podem criar condições extremamente favoráveis ao estabelecimento.

O revolvimento excessivo do solo expõe sementes dormentes às condições ideais de germinação, enquanto sistemas de irrigação criam microambientes úmidos propícios ao desenvolvimento.

Fertilizações superficiais e períodos de solo descoberto entre cultivos oferecem oportunidades ideais para estabelecimento e desenvolvimento da espécie.

Diferenciação entre <i>Commelina benghalensis</i> e <i>Commelina erecta</i> no campo
Diferenciação entre Commelina benghalensis e Commelina erecta no campo

Impactos na agricultura

Commelina erecta causa impactos significativos na produtividade agrícola através de competição interespecífica por recursos essenciais. A competição é particularmente intensa por água, nutrientes e luz, podendo causar reduções substanciais na produtividade de culturas como milho, soja, algodão, cana-de-açúcar e café.

O sistema radicular superficial mas eficiente compete diretamente com culturas por nutrientes na camada mais fértil do solo. A capacidade de desenvolvimento tanto em pleno sol quanto em sombreamento parcial permite competição efetiva em diferentes fases do desenvolvimento das culturas. Adicionalmente, a produção de substâncias alelopáticas pode influenciar negativamente o desenvolvimento de culturas sensíveis.

Os prejuízos econômicos estendem-se além da redução direta de produtividade, incluindo custos adicionais de controle, depreciação de equipamentos devido à presença de caules suculentos durante colheita mecânica, e redução da qualidade de produtos agrícolas devido à contaminação por sementes ou fragmentos vegetativos.

Estratégias de manejo integrado

O controle eficaz de Commelina erecta requer abordagem integrada que combine métodos preventivos, culturais, mecânicos, químicos e biológicos, adaptados às características específicas de cada sistema produtivo.

As estratégias preventivas constituem a base do manejo sustentável. A limpeza rigorosa de equipamentos agrícolas evita dispersão entre áreas, enquanto a utilização de sementes certificadas previne introdução em áreas não infestadas.

O manejo adequado de bordaduras e carreadores elimina reservatórios de propágulos.

Práticas culturais adequadas criam condições desfavoráveis ao desenvolvimento da espécie. A rotação de culturas interrompe ciclos reprodutivos e permite utilização de diferentes estratégias de controle. O ajuste de densidade e espaçamento de plantio acelera fechamento do dossel, reduzindo disponibilidade luminosa para germinação e desenvolvimento.

A época de plantio pode ser ajustada para evitar períodos críticos de germinação, enquanto a adubação localizada favorece culturas em detrimento de plantas daninhas.

O controle mecânico deve ser criteriosamente planejado considerando a biologia da espécie. Cultivos mecânicos são eficazes quando realizados em plantas jovens, antes do enraizamento nos nós, evitando fragmentação que pode multiplicar focos de infestação. Capinas manuais são eficientes em pequenas áreas, devendo ser realizadas antes do florescimento para evitar produção de sementes.

O controle químico oferece soluções eficazes quando integrado adequadamente ao sistema de manejo. Herbicidas pré-emergentes como atrazina, metribuzin e S-metolacloro controlam efetivamente plantas oriundas de sementes, apresentando residualidade adequada para controle de fluxos subsequentes de germinação.

Herbicidas pós-emergentes como glifosato, 2,4-D e nicosulfuron são eficazes contra plantas estabelecidas, especialmente quando aplicados em estágios jovens de desenvolvimento. Combinações de herbicidas ampliam espectro de controle e reduzem riscos de desenvolvimento de resistência.

O manejo sustentável de Commelina erecta deve considerar aspectos de resistência a herbicidas, impactos ambientais e viabilidade econômica a longo prazo. A rotação de mecanismos de ação herbicida, utilização de doses adequadas e integração com métodos não químicos são fundamentais para preservação da eficácia das ferramentas disponíveis.

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