Veloz e eficiciente

Lançado no início do ano, o Uniport 2500 da Jacto passou por algumas modificações em sua estrutura original. A equipe da Cultivar Máquinas testou o pulverizador com a nova configuração e pôde conferir

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Sensação interessante é andar a 18 quilômetros por hora em uma lavoura, aplicando produto químico. Para quem está familiarizado com velocidades de 4-5 km/h em preparo do solo ou colheita, ou 6-8 km/h em semeadura, realmente impressiona. Estamos falando do pulverizador autopropelido Uniport 2500, testado pela equipe da Cultivar Máquinas e pelo Dr. Hamilton Ramos, do Instituto Agronômico de Campinas, na Usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP).

Quando se designa este tipo de máquinas como “gigante”, não é fora de propósito, especialmente em comparação aos demais tipos de tratores. A máquina vazia pesa 8.500kg. Some-se aí os 2.500 litros de calda, combustível (275 l), peso do operador, e estamos em mais de 11.000kg.

O comprimento é de 7,20 metros, a altura total chega a 3,65 m, para uma largura de 2,98 m com as barras fechadas. Uma certa dificuldade para o transporte “embarcado”, em caminhões de piso rebaixado, mas sem problemas de deslocamento rodando, já que normalmente os acessos em propriedade rurais têm no mínimo quatro metros.

O vão livre, característica muito importante para este tipo de equipamento, é de 1,25 m quando equipado com pneus 16,9X30 ou 1,28 m com pneus 12,4X36. O primeiro tipo de pneus, embora com leve diminuição do vão livre, proporciona maior área de contato com o solo, opera com menor pressão de inflagem, diminuindo a compactação por ele induzida.

Com uma distância entre eixos de 3,91 m e bitola de 2,55 m não é de se esperar um raio de giro muito pequeno. São 7,50 m, e às vezes chega a fazer falta nas manobras de retomada, embora deva-se considerar que o equipamento em funcionamento tem 24 metros de largura. Existem soluções no sistema de direção, ou de acionamento, que permitem diminuir este espaço. É um ponto que a empresa certamente repensará no futuro.

Com a altura total já citada de 3,65 m somos levados a pensar nas condições de operação em terreno inclinado. O Centro de Massa (Centro de Gravidade) da máquina situa-se a cerca da 1,50 m de altura, na linha central longitudinal, e a outros 1,50 m à frente do centro do eixo traseiro. Esta posição permite com que seja permitida a operação, com segurança, em declives de até 10 %, condição dificilmente encontrada nas extensivas lavouras às quais a máquina se destina.

O Uniport é estruturado a partir de um chassi principal, com longarinas de perfil “U”, dimensionadas em função da experiência de mais de 15 anos da Engenharia da empresa com projeto estrutural, totalmente baseada em dados nacionais e programas de computador de última geração. Portanto, há segurança de que não vai haver chassi torto ou quebrado.

Subestruturas fixam a motorização e transmissão, ou o sistema de barras aplicadoras. Os eixos são fixados ao chassi através de barras tensoras e suspensão com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos. O sistema oferece bom conforto ao rodar, amortecendo os impactos das irregularidades normalmente encontradas nas lavouras, mesmo em cana-de-açúcar, onde os sulcos de plantio podem ser bastante profundos.

O motor é um diesel de quatro tempos, marca International (de origem Perkins), modelo 1006-6T, de seis cilindros em linha, turboalimentado. A cilindrada de seis litros com taxa de compressão de 16:1 e injeção direta permite potência de 114 kW (155 cv) a 2200 rpm medida de acordo com a Norma NBR 5484. O torque de 550 Nm (55 mkgf) é bem posicionado, tendo seu pico a 1600 rpm.

A montagem do motor é feita “dentro” do quadro do chassi, em nível inferior ao reservatório de calda. Esta montagem dificulta um pouco as operações de manutenção, por outro lado diminui a altura do centro de gravidade.

O filtro de ar, devido às condições severas de trabalho é de dois elementos e possui indicador de restrição no painel do operador.

A primeira parte da transmissão está montada solidária ao motor, com embreagem tipo monodisco seco, de acionamento hidráulico. A caixa de câmbio é de 5 velocidades à frente (sendo 1ª. 2ª e 3ª operacionais. 4ª e 5ª são utilizadas para deslocamento) e uma à ré, provida de alarme sonoro para manobras nesta marcha.

Da caixa de câmbio o movimento é levado ao eixo traseiro por árvore de transmissão tipo cardan. No eixo traseiro está o diferencial e a transmissão final de correntes duplas já dentro das “pernas” de acionamento e fixação das rodas.

A direção nas rodas do eixo dianteiro é hidrostática, e o volante tem regulagem de posição (afastamento) com relação ao operador. O freio é de discos nas quatro rodas, frenagem total, sem independência, de acionamento hidráulico. Existe freio de estacionamento atuando sobre a árvore de transmissão.

A cabine possui sistema de ar condicionado, equipado com filtros de carvão ativado para elevar a segurança do aplicador. No entanto, não se observou uma pressão positiva na cabine, forçando com o ar a sair ao invés de entrar, tambem foram verificadas pequenas aberturas, como a da haste do pedal de embreagem, que permitem a entrada de ar externo na cabine de comando.

Todo o sistema hidráulico e as barras do pulverizador são controlados por botões dentro da cabine, com sistema on/off de acionamento, montado em painel posicionado à direita do operador, que, com um pouco treino, estará apto a operá-lo adequadamente. O projeto, feito a partir de sugestões recolhidas entre os usuários da máquina, procurou colocar os comandos de forma ergonômica, mas ainda exigem um certo giro no tronco do operador, que pode causar dores e cansaço depois de um dia de trabalho. O console também é espesso, volumoso, e tende a tirar um pouco da visibilidade para o lado direito da cabina. Poderia ser mais esbelto.

O assento ergonômico com suspensão de molas e amortecedor é ajustável em altura e posição. Ao lado esquerdo do operador existe um assento auxiliar que pode ser utilizado por instrutor, supervisor ou aprendiz.

Os vidros da cabina são escurecidos, diminuindo a incidência dos raios solares. O frontal curvo, evita o acúmulo de poeira e o efeito-espelho, que diminui a visibilidade do operador. A proteção do sol é completada por um parasol retrátil. Amplos espelhos externos facilitam a verificação das condições de operação das barras traseiras de pulverização.

Um monitor eletrônico supervisiona o funcionamento de todas as funções de pulverização, e contactores elétricos facilitam ações de ligar e desligar pontos da barra de pulverização, ou regular pressão de pulverização. Opcionalmente o Uniport pode ser equipado com barra de luzes para controle das faixas de aplicação, ou piloto automático para aplicação em faixas. Também estão disponíveis os marcadores de espuma.

Embora o tipo de máquina não enseje grandes vôos de design, por sua função e forma, as linhas são harmoniosas, a frente e a cabina estão bem integrados. O modelo testado sofreu várias modificações no projeto original, com informações recolhidas entre os usuários da máquina e outros itens ainda estão sendo observados pela equipe de engenharia. Um dos pontos que talvez mereça atenção é o acesso à cabine, realizado por meio de uma escada frontal, atualmente sem apoios para as mãos, o que dificulta um pouco a operação. O sistema de retração da escada também é primitivo e não condiz com a tecnologia que a máquina traz em si.

As plataformas de acesso ao motor e ao tanque são bastante amplas e permitem o deslocamento do operador ao redor de todo o equipamento, embora ainda não possuam barras de proteção contra quedas.

O sistema de levante das barras, acionado pelo operador de dentro da cabine através de componentes eletro-hidráulicos, aliado ao sistema de estabilidade das barras, que utiliza amortecedores com nitrogênio, permite a adequada manutenção, e rápida correção quando necessário, da altura da barra ao alvo, mesmo nas maiores velocidades. Apesar da elevada qualidade desse sistema, um limitador de altura na ponta da barra poderia ser fornecido para evitar possíveis danos às mesmas.

A bomba que equipa o pulverizador possui vazão de 300 l/min e é acionada por motor hidráulico, cuja rotação é alterada em função da rotação do motor. Tal fato, que pode interferir na vazão da bomba, não é problema neste pulverizador uma vez que, na menor rotação recomendada para o motor (1600 rpm), a bomba ainda gera um volume de calda suficiente para a aplicação de 294 l/ha, considerando-se a maior velocidade recomendada (18 km/h) e o espaçamento entre bicos de 0,35 m.

O sistema de filtros é composto por um filtro próximo à bomba (peneira 24 e 50), um filtro de linha para cada uma das oito secções da barra (malha 50) e filtro nos bicos (malha 50). Apesar do sistema ser considerado adequado, o posicionamento perpendicular do filtro do tanque faz com que, ao ser necessária sua manutenção, toda a calda do interior escorra diretamente para a mão do trabalhador, elevando a possibilidade de exposição deste à calda de pulverização. Desta maneira, o posicionamento vertical do filtro, como o verificado na maioria dos pulverizadores inclusive da mesma empresa, pode reduzir este problema.

Um ponto importante, principalmente para o operador e para as pessoas envolvidas na operação de pulverização, é a presença do tanque de água limpa, que permite a utilização tanto para a tríplice lavagem dos frascos como para limpeza das mãos e outros equipamentos. Com facilidade, o operador tem fácil acesso ao registro.

A barra tem 24 metros, dividida em oito seções e comporta no total 69 bicos de pulverização, com acoplamento para 2 ou 4 pontas através de engate rápido e sistema antigotejo, espaçados de 0,35 m. Todas as seções possuem sistema de controle individual da pressão, que permite a uniformização da vazão mesmo quando uma ou mais seções da barra estão fechadas. Todo o controle de acionamento das barras é realizado de dentro da cabine de comando sem que, no entanto, como recomendam as normas internacionais de segurança, haja mangueiras pressurizadas dentro da mesma. Todo o sistema de pulverização é monitorado por um controlador JSC6000. Este controlador é de fácil regulagem e possui uma excelente interface com o usuário. Através dele, o operador pode, de maneira simples, realizar o ajuste fino do sensor de velocidade e vazão, especificar o tamanho da barra por seção e o espaçamento entre bicos, bem como selecionar o volume de calda a ser utilizado. Embora de fácil utilização, observou-se durante a avaliação que, apesar de ser recomendada uma pressão máxima de 90 psi para as pontas AVI11004 que equipavam o pulverizador, em função da velocidade ou de falha do operador, a pressão de trabalho indicada no controlador era de 104 psi. Assim, a inclusão de mais duas variáveis, máxima e mínima pressão suportada pelas pontas em uso, poderiam maximizar a eficácia deste controlador.

Não é sem razão que a Jacto detém 80% do mercado de autopropelidos no Brasil, e exporta um bom número para outros mercados. Esta máquina deve repetir o sucesso de suas “irmãs” menores. Qualificação técnica ela tem. O preço? Ao redor de R$ 320.000,00, 100% financiável pelo Finame ou Moderfrota. O custo operacional é alto, mas nas extensas áreas da agroindústria canavieira a que se destina, é compensado pelo elevado comprimento da barra e velocidades de trabalho. O custo por hora aplicada é sem dúvida maior do que os pulverizadores de arrasto. No entanto, a comparação de custos deve ser feita sobre hectares aplicados e não sobre horas de aplicação, já que a máquina com a configuração do Uniport consegue, num mesmo número de horas, aplicar uma área muitas vezes maior do que as máquinas de arrasto, o que acaba diluindo o custo operacional. O ponto marcante é que a máquina é nacional, com tecnologia própria e desenvolvida, baseada em nossas condições, que costumam ser mais severas que aquelas encontradas em países mais avançados tecnologicamente. A durabilidade e confiabilidade devem ser levadas em conta na hora da opção da compra.

No caso do Uniport 2500, merece menção especial (e com louvor!) o manual de instruções. Os especialistas recomendam a criteriosa leitura deste material tanto pelo proprietário (gerente) quanto pelo operador. E mais: tudo indica que a nova compilação da Norma Regulamentadora Rural do Ministério do Trabalho estabelecerá que as máquinas agrícolas saiam de fábrica com dois manuais, um para ficar no escritório, e outra via para estar permanentemente acompanhando a máquina. Bem, a Jacto pode se habilitar, seguramente estará de acordo com as exigências, oferecendo um manual muito completo e claro. Inicialmente deve-se ter um pouco de tempo, pois são 212 páginas.

As informações, consistentes e necessárias, estão divididas nos capítulos de: introdução, precauções (veja: precauções antes de qualquer outra informação!), especificações técnicas, principais componentes, operações e regulagens, manutenção, garantia, o controlador eletrônico de pulverização e os bicos Jacto. Tudo fartamente ilustrado, não deixando margem a falhas de entendimento.

Este foi o primeiro ponto forte do produto, e das impressões sobre o fabricante.

Cultivar Máquinas

IAC

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