Uma análise das doenças da soja na safra 2017/18

Por Carlos Alberto Forcelini, Eng. Agr., Ph.D. em Fitopatologia, Professor Titular da Universidade de Passo Fundo (RS) e consultor da divisão agrícola da Bayer

29.05.2018 | 20:59 (UTC -3)

A safra de soja no Sul do Brasil teve diversos cenários de clima, os quais influenciaram as doenças e a produtividade da cultura. Houve presença de doenças iniciais, afetando o estabelecimento da soja, posteriormente podridões radiculares, oídio, mofo-branco e a ferrugem asiática. Seu impacto sobre o rendimento de grãos da cultura variou de intensidade conforme a região, por isso é necessária uma análise regionalizada.

No Rio Grande do Sul, houve excesso de chuvas no mês de outubro, retardando a implantação da soja. Condições de solo encharcado, associadas à compactação do mesmo, resultaram em morte de plântulas de soja logo após a emergência, a qual foi principalmente associado ao fungo Phytophtora, presente habitualmente no solo. Estas mesmas condições também favoreceram à podridão vermelha, causada por espécies de Fusarium. Ambas as doenças variaram de intensidade em função das cultivares utilizadas, por isso é importante conhecer seu comportamento. No final do ciclo, especialmente entre fevereiro e março, houve uma estiagem mais prolongada, com temperaturas mais altas, que favoreceram à podridão de raízes por outro fungo de solo, Macrophomina phaseolina.

Entre os meses de dezembro a março houve ocorrência de períodos secos, acompanhados de temperaturas noturnas amenas, favoráveis ao oídio, causado por Erysiphe diffusa. Este fungo não necessita molhamento foliar para infecção das plantas, e sua preferência é por temperaturas máximas menores que 29 oC, por isso sua presença foi maior nesta safra. A intensidade variou entre cultivares e locais, mas atingiu severidades superiores a 50% em alguns deles, acentuando a desfolha das plantas. O oídio se manifesta já a partir da fase vegetativa da soja, por isso as primeiras aplicações devem contemplar fungicidas eficazes no seu controle.

Em alguns experimentos conduzidos na Universidade de Passo Fundo e em lavouras comerciais no Planalto Médio do RS, a ausência da primeira aplicação de fungicida no pré-fechamento das entrelinhas resultou em diferenças de -3 a -6,8 sc/ha na produtividade final. Tais diferenças estão associadas ao controle do oídio, manchas foliares, antracnose e prevenção da ferrugem.

Também é importante não atrasar este primeiro tratamento. Em três anos de comparação, na UPF, entre manejos com quatro aplicações, a primeira iniciada antes ou após o fechamento das entrelinhas (diferença média de 7 a 9 dias), as variações na produtividade final da soja atingiram 8 sc/ha (2016), 4,5 sc/ha (2017) e 5 sc/ha (2018) a favor do pré-fechamento.

A ferrugem asiática ocorreu mais tarde nesta safra. A presença das plantas de soja guaxas, responsáveis pela manutenção do agente da doença (Phakopsora pachiryzzi) na entressafra, foi mínima após a geadas ocorridas em julho. Nestas situações, o início da doença depende dos esporos liberados a partir de lavouras em outras regiões. A infecção das plantas provavelmente ocorreu na segunda quinzena de janeiro, cuja frequência de chuvas foi quase diária. Sua percepção no início é dificultada pela emissão de folhas novas pela planta, pela latência da doença (tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas e sinais), e pela limitação do olho humano em encontrar a doença quando abaixo de 5% de incidência em folíolos.

A evolução da ferrugem ocorreu entre fevereiro e março, portanto, na fase final da cultura. Sua severidade atingiu entre 20 e 70% conforme a época de semeadura e cultivar. O comprometimento da produtividade foi menor, mas ainda assim significativo, especialmente nos plantios mais tardios. Em experimento conduzido na Cotripal, em Condor-RS, a diferença de produtividade entre quatro aplicações de fungicida e nenhuma, variou de 6,9 sc/ha (semeadura em setembro) a 17,9 sc/ha (outubro), 17,7 sc/ha (novembro) e 20,0 sc/ha (dezembro).

O controle da ferrugem asiática na safra 2017-18 atingiu melhores resultados que no ano anterior. Vários fatores podem ser associados a este desempenho superior. Em função da ocorrência mais tardia da ferrugem, as primeiras aplicações foram mais preventivas, os produtores conseguiram manter intervalos regulares de 14-15 dias entre as aplicações, houve inserção maior dos reforços com outros fungicidas (triazóis, morfolinas e, principalmente, os multissítios) e, possivelmente, uma menor frequência dos mutantes resistentes aos fungicidas. A capacidade destes em sobreviver na entressafra está sendo avaliada, mas é possível que os mesmos tenham sido mais afetados pela eliminação da soja guaxa pelo frio. Como consequência, especialmente em relação aos fungicidas do grupo químico carboxamida, seu desempenho na safra 2017/18 foi bem superior ao ano anterior.

Contrariamente, no estado do Paraná, especialmente na região Oeste, houve maior dificuldade para o manejo da ferrugem. Nesta safra ocorreu atraso na implantação da cultura devido à falta de chuvas, expondo a soja a um período maior de contato com o patógeno da ferrugem. A frequência de chuvas em alguns períodos foi quase diária, favorecendo à infecção. A proximidade com o Paraguai também pode ter contribuído, na medida que o cultivo da soja em segunda safra favorece a perenização da ferrugem e a seleção de indivíduos mais resistentes aos fungicidas.

O estado do Paraná, nas safras anteriores, apresentou médias ≤ 3 nas aplicações de fungicidas em soja. Em algumas regiões do estado possivelmente menos ainda, assim como foi menor também a inserção dos reforços com multissítios. Com o agravamento do quadro da ferrugem na safra 2017/18, os programas de manejo que vinham sendo praticados foram, provavelmente, insuficientes.

Uma doença muito importante na safra 2017/18, em vários locais no Sul do Brasil, foi o mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum. O mesmo se beneficia de períodos com chuvas frequentes e temperaturas médias menores que 21oC durante a floração da soja, o que ocorreu em dezembro (PR) e janeiro (PR e RS). O prejuízo à produtividade é proporcional à incidência do mofo-branco entre as plantas, que atingiu até 30 a 40% das plantas em alguns locais. Nestas áreas, a doença pode se manifestar novamente nas próximas safras, desde que repetida a combinação favorável de chuva e temperaturas amenas na floração. Por isso é importante a adoção de medidas preventivas (cobertura do solo com palha, arranjo de plantas menos adensado, cultivares com menor ramificação, ...), deixando a decisão pela aplicação dos fungicidas específicos ao mofo-branco condicionada à previsão de ambiente favorável à doença na floração.

Em resumo, a safra de soja 2017/18 foi bastante variável, entre regiões, quanto à ocorrência de doenças, com presença principal do oídio, da ferrugem e do mofo-branco. O controle de tais doenças requer fungicidas e manejos diferentes, por isso a atualização técnica, o monitoramento da lavoura e a atenção às condições climáticas são fundamentais. Medidas de controle preventivas são mais seguras e efetivas, por isso devem ser priorizadas no planejamento e condução da lavoura de soja, especialmente em relação às doenças.

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