Três doenças radiculares da soja que merecem atenção

Por Jaqueline Huzar Novakowiski (Volvere Biotech); Ana Paula Burko e Marlon Paloschi (Unicentro); Maicon Balbinotti, Michele Gevinski Otolakoski e Suelen Cappellaro (UPF)

28.08.2024 | 14:54 (UTC -3)

Nos últimos anos, temos acompanhado vários relatos de problemas em lavouras de soja quanto à ocorrência de morte precoce de plantas ou redução da produtividade em função de podridões radiculares como, por exemplo, podridão de carvão, podridão vermelha da raiz e rizoctoniose.

As doenças radiculares são, geralmente, consideradas de difícil controle, uma vez que: a) os agentes causais têm a capacidade de produzir estruturas especializadas de resistência que podem sobreviver no solo por vários anos; b) apresentam ampla gama de plantas hospedeiras; c) as cultivares de soja não apresentam elevado nível de resistência genética; e d) o uso de fungicidas químicos é restrito ao tratamento de sementes. Além disso, é muito comum observar mais de uma doença afetando a planta de soja, o que indica que um complexo de patógenos está presente no campo (Figura 1).

Podridão de carvão da raiz

A podridão de carvão da raiz ou podridão cinzenta é causada, principalmente, pelo fungo Macrophomina phaseolina. Entretanto, outras duas espécies, M. pseudophaseolina e M. tecta, foram recentemente reportadas no Brasil.

Plantas de soja afetadas pela podridão de carvão da raiz, geralmente, morrem de forma precoce e as folhas permanecem aderidas à haste. Para confirmação da ocorrência da doença é necessário arrancar as plantas do solo e observar as raízes. Comumente, a epiderme da raiz se destaca com facilidade, apenas com uma leve pressão dos dedos. Caso isso não aconteça, deve-se remover a epiderme com o auxílio de um canivete, para examinar os tecidos mais internos da raiz. Os sintomas da doença são caraterizados pela presença de coloração acinzentada na raiz da soja com “pontos pretos”, os quais são os microescleródios produzidos pelo fungo (Figura 2).

Os microescleródios são estruturas especializadas de resistência que podem sobreviver no solo por até 15 anos e são considerados uma das principais fontes de inóculo. Além disso, o fungo pode ser disseminado por sementes. As plantas de soja podem ser infectadas em qualquer estádio de desenvolvimento, porém, quando há períodos de veranico e estresse hídrico, a doença tende a expressar com maior severidade.

O fungo M. phaseolina pode afetar mais de 500 espécies vegetais incluindo culturas como feijão, milho, sorgo e girassol. Portanto, a rotação de culturas não é considerada uma prática completamente eficaz para reduzir os problemas com a podridão de carvão. Todavia, a rotação de culturas é interessante do ponto de vista de adição de diversidade biológica ao sistema de produção, assim como de matéria orgânica, o que pode contribuir para a melhoria das condições do solo e auxiliar no manejo da doença.

Podridão vermelha da raiz

A podridão vermelha da raiz (PVR) ou síndrome da morte súbita (SDS) em soja pode ser causada por diferentes espécies de Fusarium que fazem parte do complexo de Fusarium solani FSSC. No Brasil, atualmente, há relatos das espécies Fusarium tucumaniae, Fusarium brasiliense, Fusarium crassistipitatum e Fusarium paranaense como agentes causais. A doença pode interferir tanto no processo de formação de vagens quanto na formação e no peso de grãos.

Os sintomas da podridão vermelha da raiz são caraterizados por coloração avermelhada logo abaixo da epiderme da raiz (Figura 2). Para observação dos sintomas, deve-se remover os tecidos mais externos da raiz com auxílio de um canivete. Na parte aérea das plantas de soja pode-se, às vezes, visualizar sintomas de “folha carijó” (Figura 3), os quais ocorrem devido à produção de uma toxina pelo fungo. Mas, atenção: a ocorrência da “folha carijó” não é regra! Por exemplo, foi constatado que F. crassistipitatum e F. paranaense não induziram sintomas nas folhas.

O sintoma de “folha carijó” causado pela podridão vermelha da raiz é muito similar aos sintomas de fitotoxicidade após a aplicação de fungicidas como o protioconazol. Entretanto, o padrão de distribuição dos sintomas no campo e a velocidade de aparecimento são diferentes. No caso de fitotoxicidade, geralmente, o campo todo (ou grande parte dele) vai apresentar os sintomas nas folhas e isso ocorre poucos dias após a aplicação do fungicida, enquanto no caso da podridão vermelha da raiz, os sintomas são mais esparsos no campo e de aparecimento mais lento. Vale lembrar que o sintoma de “folha carijó” não é exclusivo da podridão vermelha da raiz; outras doenças, como podridão parda da haste (Phialophora gregata), cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis) e alguns nematoides, também podem acarretar o aparecimento da “folha carijó”.

A sobrevivência no solo das espécies de Fusarium que causam a podridão vermelha da raiz ocorre por meio de restos culturais ou clamidósporos que são as estruturas especializadas de resistência do fungo. Os clamidósporos podem sobreviver no solo por vários anos e condições de elevada umidade no solo favorecem a ocorrência da doença.

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