Sutil diferença

Dermatofilose e dermatofitose bovina são doenças de pele que, embora tenham baixas taxas de mortalidade, são problemas graves por causa do custo do tratamento e da diminuição de peso corporal.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Dermatofilose e dermatofitose constituem doenças de pele de bovinos, de caráter infecto-contagioso e de importância econômica na bovinocultura. Estas enfermidades, embora possam ser semelhantes clinicamente, são completamente diferentes em relação aos seus agentes etiológicos e, conseqüentemente, nos seus tratamentos, o que justifica a preocupação da realização do diagnóstico diferencial e definitivo.

A dermatofilose é uma dermatite exsudativa, causada pelo

, uma bactéria filamentosa, oportunista, Gram positiva. Sob determinadas condições, como umedecimento prolongado e lesões mecânicas da pele, pode provocar infecção cutânea num grande número de espécies animais, principalmente bovinos, ovinos e eqüinos. Apresenta distribuição mundial sendo mais freqüentemente observada em áreas tropicais e subtropicais, particularmente, após períodos intensos de chuva, quando pode atingir proporções epizoóticas, resultando em perdas econômicas consideráveis. A sua ocorrência em climas secos é descrita como esporádica ou rara. No Rio Grande do Sul, observa-se a enfermidade com freqüência em bovinos, eqüinos e ovinos, durante os meses de inverno e primavera, quando há maior precipitação pluviométrica. As lesões tendem a desenvolver-se após o comprometimento da integridade da epiderme, causada por traumatismo, maceração da pele, ectoparasitas, inflamação ou infecção, o que determina o desequilíbrio das barreiras superficiais de defesa, permitindo a invasão do tegumento por D. congolensis. Os reservatórios são os próprios animais enfermos e a transmissão pode ocorrer por contato direto, indireto e através de vetores mecânicos e biológicos. Em áreas endêmicas, mais de 50% dos bovinos aparentemente saudáveis podem ser portadores da bactéria.

As lesões clínicas iniciam comumente no lombo, estendendo-se da cernelha à região posterior do animal.

Inicialmente a lesão consiste numa pápula pequena, muitas vezes só detectável por palpação. A ocorrência de exsudação serosa envolvendo grupos de pêlos causa a aglomeração dos mesmos em tufos eretos, que evoluem para crostas elevadas, arredondadas, espessas de aparência circunscrita e bem delimitadas, cinzento-acastanhada ou amareladas, duras e quebradiças que podem ser facilmente destacáveis com os dedos da mão. O destacamento das crostas revela uma superfície inferior côncava, deixando a descoberto a epiderme úmida e eritematosa. Como as lesões podem, muitas vezes, ser semelhantes as dermatofitoses, sempre se faz necessário realizar o diagnóstico diferencial.

As dermatofitoses, conhecidas como “ringworm” ou “tinhas”, são micoses cutâneas causadas por um grupo de fungos taxonomicamente relacionados chamados dermatófitos. Deste grupo, dois gêneros,

e

, determinam doença em animais domésticos. São fungos filamentosos e queratinofílicos, o que limita a infecção ao estrato córneo da pele e anexos. Infectam várias espécies animais, inclusive o homem. Nos bovinos, o dermatófito mais importante e de maior ocorrência é o

. Também são enfermidades de distribuição mundial, sendo freqüentes em regiões de clima tropical e temperado, particularmente em áreas quentes e úmidas, embora os surtos em bovinos, na sua maioria, sejam observados nos meses de outono e inverno. Nestas estações, como há o aumento do crescimento dos pêlos dos animais, que associado às trocas metabólicas com desprendimento de calor, proporcionam um microclima de temperatura e umidade, ideal para a germinação do

. Embora apresente baixas taxas de mortalidade, constitui-se em grave problema pelas perdas que ocasionam à bovinocultura, devido aos custos de tratamento, e em casos de doença generalizada pela diminuição do peso corporal. Devido a fatores imunitários, os animais jovens são mais suscetíveis que os adultos e a introdução de animais portadores, associada a fatores estressantes, como alta lotação, carência alimentar, desmama e mudança de alimentação, predispõem ao surgimento da doença.

é transmitido aos hospedeiros suscetíveis através do contato direto com um hospedeiro contaminado ou indiretamente por fômites ou ambiente, onde os conídeos podem manter-se viáveis por vários anos.

A doença é estabelecida quando as barreiras de defesa superficial da pele encontram-se alteradas. Nessas situações, os propágulos infectantes do

, e pela ação de queratinases, invadem o folículo piloso, iniciando a infecção pela base do pêlo, e na seqüência invadindo a haste tornando-a frágil, o que resulta em rompimento na superfície da pele e queda dos pêlos (alopecia). O crescimento vegetativo de aspecto circular das lesões é resultante do crescimento centrífugo do fungo que, por ser um microrganismo aeróbio, tende a fugir das áreas de intensa inflamação. As lesões clínicas caracterizam-se por áreas de alopecia de bordos regulares, com descamação e formação de crostas branco-acinzentadas, espessas e salientes. Atingem, principalmente, a cabeça e o pescoço, podendo disseminar-se para o tronco, membros e cauda. Em animais gravemente afetados, observa-se emagrecimento e formação de crostas disseminadas por todo o corpo, que ao serem removidas deixam áreas úmidas e hemorrágicas.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico de ambas é realizado levando-se em consideração, em primeiro lugar, a epidemiologia e sinais clínicos observados. Confirma-se o diagnóstico pelo exame laboratorial. Na dermatofilose, a confirmação é feita quando há a visualização da bactéria na forma filamentosa, em esfregaços corados. Portanto, no caso de suspeita desta enfermidade, torna-se importante enviar ao laboratório crostas frescas, acondicionadas em recipientes limpos. Já na dermatofitose, o diagnóstico é realizado a partir de amostras de crostas e pêlos coletados das bordas ativas das lesões. Confirma-se a infecção quando no exame direto encontram-se estruturas fúngicas (conídeos e hifas) parasitando os tecidos e pêlos.

Tratamento

Como a dematofilose é uma doença bacteriana, usualmente para o tratamento individual, recomenda-se aplicações parenterais de tetraciclina na dose de 5mg/kg de peso vivo, repetidas semanalmente ou tetraciclina de longa ação na dose única de 20mg/kg. Para as dermatofitoses, normalmente o tratamento dos surtos em bovinos tem sido efetuado, com sucesso, utilizando-se o antifúngico de uso agrícola Captan (N-triclorometilmercapeto-4-ciclohexano-l,2-dicarboxamida), em diluições de l:300 a l:400, em banhos de aspersão. Utiliza-se 4-7 litros da calda por animal, dependendo da idade, em duas aplicações com intervalo de duas semanas. Individualmente, o tratamento pode ser feito topicamente com solução iodada e pomadas ou cremes a base de antimicóticos.

Daniela Isabel Brayer Pereira

PUCRS

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