Prejuízos causados pela Mosca-das-frutas-sul-americana na maçã

Principal praga na cultura da macieira, a mosca-das-frutas-sul-americana acarreta prejuízos tanto pelas injúrias causadas aos frutos como pelo aumento de custos e pelas barreiras quarentenárias impostas por países importadores

10.03.2016 | 20:59 (UTC -3)

A maçã é a segunda fruta de clima temperado de maior importância para o comércio in natura, tanto no mercado nacional como internacional. A região Sul concentra em torno de 98% da produção brasileira, que provém das cultivares Gala e Fuji ou seus clones. Entre os grandes polos produtores da fruta destacam-se as regiões de Vacaria (RS), Palmas (PR), São Joaquim e Fraiburgo (SC). A mosca-das-frutas-sul-americana, Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae), é o principal inseto-praga da macieira, constituindo-se em preocupação constante nos cultivos, tanto pela injúria que causa aos frutos, como pelas medidas quarentenárias impostas pelos países importadores. Além disso, os danos provocados pela praga acarretam aumento nos custos, em função das frequentes aplicações de inseticidas e perdas na produção.


Em maçãs, o dano de A. fraterculus é causado tanto pela oviposição nos frutos, quanto pelo hábito carpófago das larvas, que durante a alimentação fazem galerias, alterando o sabor, causando amadurecimento precoce, apodrecimento e queda. Além disso, o ferimento realizado durante a oviposição pode propiciar a infecção por fungos e bactérias, tornando-os impróprios para a comercialização e o consumo.

Os danos podem ser observados em maçãs ainda verdes, com aproximadamente 20mm de diâmetro, até naquelas próximas à colheita. Mesmo sem sobreviverem nos frutos imaturos, as larvas, ao eclodirem, causam a morte dos tecidos próximos às puncturas, fazendo com que cresçam deformados, o que reduz o valor comercial.

Flutuação populacional

A flutuação populacional de A. fraterculus varia entre diferentes anos e regiões, bem como em função das variáveis meteorológicas e do período de maturação dos frutos.

Em Santa Catarina, nos pomares de macieira, as coletas de adultos em armadilhas podem começar em setembro e estenderem-se até abril. Entretanto, o início das capturas dependerá da fenologia de frutificação dos hospedeiros alternativos presentes nas diferentes regiões, os quais são responsáveis pelo surgimento e repovoamento das moscas nos pomares.

Na região de Caçador (Santa Catarina) observa-se maior densidade de moscas em janeiro e fevereiro, o que está relacionado ao início da maturação das cultivares de macieiras precoces e intermediárias. Os últimos indivíduos de A. fraterculus normalmente são registrados em abril e coletados novamente em novembro ou dezembro. No período em que as macieiras entram em dormência, no mês de maio, as temperaturas começam a diminuir, podendo a média ficar abaixo dos 13oC até agosto, exercendo influência na bioecologia do inseto (na longevidade e na fecundidade). Com isso, as ocorrências de temperaturas abaixo do limiar inferior, de maio a setembro, desfavorecem o desenvolvimento de A. fraterculus. Resultados de pesquisa indicaram que em Caçador, onde a temperatura média anual fica em torno de 16oC, estima-se que A. fraterculus poderia ter tido 8,3, 7,7, 7,8 e 8,7 gerações em 2009, 2010, 2011 e 2012, respectivamente.

No Sul do Brasil, após o período de inverno, normalmente as populações de mosca-das-frutas começam a se recompor nas áreas de mata nativa, onde os hospedeiros possibilitam a multiplicação destes insetos que, por sua vez, passam a migrar para os pomares em busca de sítios de oviposição. Nas matas, uma grande diversidade de hospedeiros pode ser encontrada, especialmente da família Myrtaceae. A frutificação destas plantas é determinante no tamanho das populações de mosca-das-frutas que irão colonizar os pomares de macieiras, pois contribuem para que a reprodução ocorra praticamente o ano todo.

Em Caçador os principais hospedeiros de mosca-das-frutas são: a cerejeira-do-rio-grande (Eugenia involucrata), a pitangueira (Eugenia uniflora), a guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa), a goiabeira-serrana (Acca sellowiana), a capoteira ou sete-capotes (Campomanesia guazumifolia), o araçazeiro (Psidium spp.), a uvaieira (Eugenia pyriformis), o guabijeiro (Myrcianthes pungens) (Myrtaceae), o ingazeiro (Inga spp.) (Fabaceae) e o araticunzeiro (Annona cacans) (Anonaceae), cujos períodos de frutificação antecedem ou coincidem com os da macieira.

Os hospedeiros de mosca-das-frutas podem ser classificados em dois grupos: os multiplicadores, que permitem o desenvolvimento de grandes quantidades de insetos, e os alternativos, que são infestados ocasionalmente, gerando poucos indivíduos para a população. Na região produtora de maçãs de Vacaria (Rio Grande do Sul), a cerejeira-do-rio-grande, a goiabeira-serrana e a guabirobeira são consideradas hospedeiros multiplicadores, enquanto que o araçazeiro e a uvaieira são alternativos. Em Caçador, além dos três citados como multiplicadores para Vacaria, inclui-se, também, o araçazeiro, sendo os demais considerados alternativos.

A cerejeira-do-rio-grande é o primeiro hospedeiro multiplicador a frutificar e, assim, gerar moscas que se dispersarão para os pomares de macieira. Desta forma, a frutificação desta planta em novembro é um indicativo do início da ocorrência da mosca-das-frutas em macieiras na região de Caçador.

No período de maturação fisiológica das maçãs (início de fevereiro a meados de abril), verifica-se que há sobreposição com a frutificação de vários hospedeiros. Portanto, durante todo o período em que há frutos maduros em goiabeira-serrana, capoteira, araçazeiro, uvaieira, guabijeiro, ingazeiro e araticunzeiro, há oferta de maçãs nos pomares. Além disso, a goiabeira-serrana, o araçazeiro e o araticunzeiro terminam de produzir frutos juntamente com as macieiras tardias.

A presença de hospedeiros alternativos localizados nas matas do entorno influencia na dinâmica populacional de A. fraterculus e, o desconhecimento sobre a sua fenologia, torna difícil a previsão da infestação e a época de ocorrência da praga em cada safra. Pelo fato das mosca-das-frutas ocasionarem injúrias em frutos ainda verdes e pela incidência ser elevada no período de maturação das cultivares precoces, em janeiro e fevereiro, o monitoramento de adultos deve começar logo após a floração e ser mantido até a colheita de todos os frutos do pomar, tornando possível a tomada de decisão de controle.

Manejo e controle

Em pomares comerciais o controle da mosca-das-frutas é realizado com base no nível populacional da praga e o monitoramento tem sido feito com armadilhas contendo atrativos alimentares, como o suco de uva diluído a 25% e a proteína hidrolisada (3% a 7%). Aproteína hidrolisada (3%) e a levedura Torula (três tabletes/400ml de água) foram os atrativos mais eficientes na captura de mosca-das-frutas, em estudos realizados em pomares de macieira de Caçador e Fraiburgo. Estes atrativos apresentaram menor variação na composição e mantiveram a homogeneidade de captura durante o ciclo da cultura, quando comparados ao suco de uva.

Na região Sul do Brasil recomenda-se que as armadilhas devam ser instaladas de setembro a outubro, na periferia dos pomares, sendo o nível de controle de 0,5 mosca/frasco/dia.

Em macieira, as principais formas de controle das moscas-das-frutas são a utilização de iscas tóxicas e a pulverização de inseticidas em cobertura. As iscas são aplicadas no entorno dos pomares e visam impedir a entrada dos insetos para as áreas de produção.

Os produtores de maçãs dispõem de poucas opções de produtos para o controle químico da mosca-das-frutas e este cenário tende a se agravar nos próximos anos, visto que, entre os inseticidas fosforados registrados para o controle em macieira, apenas o fosmete não possui restrições.

Os países importadores de maçã têm exigido a diminuição dos níveis de resíduos de agroquímicos nos frutos. Desta maneira, uma das metas da Produção Integrada de Maçãs (PIM) é estabelecer normas técnicas de produção para que o fruto brasileiro mantenha-se competitivo no mercado internacional. A comunidade europeia determina anualmente os princípios ativos permitidos e os limites de resíduos de agroquímicos tolerados nos frutos comercializados naqueles países, sendo esta, atualmente, uma das principais preocupações do setor produtivo, especialmente com relação às restrições aos inseticidas utilizados na produção de maçãs.

Uma alternativa para o controle de moscas em áreas pequenas é o ensacamento de frutos, que vem apresentando resultados promissores em especial no sistema de produção orgânica. Esta prática, além de não afetar a qualidade, preserva a aparência e melhora a qualidade organoléptica dos frutos.

A coleta de frutos caídos e sua armazenagem em valas cobertas por telas que retenham os adultos, e que, ao mesmo tempo permitam a passagem dos inimigos naturais, é outra prática que pode contribuir na redução da infestação de mosca-das-frutas nos pomares.

Este artigo foi publicado na edição 88 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas. Clique aqui para ler a edição.

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