Pasto de alto potencial

Estudo realizado no Mato Grosso mostra que com pastagens formadas por capins do gênero Panicum, consorciadas com leguminosas, é possível obter rendimentos de carne de 325 a 560 kg/ha/ano.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Capins do gênero

são originários da África tropical, sendo plantas pioneiras em áreas recém-desmatadas e abundantes em pastagens com sombras esparsas. Relata-se que foram introduzidos no Brasil pelos escravos, sendo que, até a década de 70, constituíam a maior parte das áreas com pastagens do território nacional. Entretanto, submetidos ao manejo extensivo e com o desgaste dos solos, estes capins foram substituídos pelas braquiárias, mais rústicas, de menor exigência quanto a solo e manejo.

As cultivares de

atualmente disponíveis no Brasil, selecionadas por instituições de pesquisa nacionais, podem produzir até 50 t/ha.ano de matéria seca de forragem de boa qualidade. O valor nutritivo elevado é decorrente da maior proporção de folhas da forragem produzida, correspondendo à cerca de 70-80%. Estes capins são exigentes quanto à fertilidade do solo, adaptando-se melhor a solos com saturação por bases acima de 40% e com boa drenagem. Necessitam precipitação anual acima de 1000 mm, não sendo indicados para regiões onde ocorrem geadas freqüentes e em altitudes acima de 800-1000 m, tendo em vista que, para forrageiras tropicais, temperaturas abaixo de 10oC são limitantes para a produção de matéria seca.

Por serem altamente produtivos e responderem bem à adubação nitrogenada, são muito utilizados em sistemas de pastejo rotacionado, que permitem um melhor aproveitamento da forragem disponível, evitando-se que o capim fique muito alto ou “passe do ponto”, situação na qual a forragem apresenta-se com altos teores de fibra e com menor digestibilidade, revertendo em menor produção animal. Pelo hábito de crescimento cespitoso ou ereto, requerem um manejo da desfolha que proporcione um resíduo com reservas para rebrotação. Normalmente, em termos de altura de corte ou de pastejo, deve-se deixar um resíduo de 25-30 cm, para melhor recuperação das touceiras.

O período de descanso dependerá das condições edafoclimáticas da região e da época do ano, de modo que devem atingir uma altura em torno de 1 m a 1,20 m para se iniciar o pastejo e/ou corte destes capins.

Atualmente, as principais cultivares disponíveis no mercado são: Colonião, Vencedor, Tobiatã, Tanzânia e Mombaça. Recentemente, a cv. Massai, um híbrido espontâneo entre

e

, foi lançada pela Embrapa.

A cv. Massai é, morfologicamente, muito distinta das demais cultivares de

existentes no mercado, apresentando porte baixo, cerca de 60 cm, e folhas finas. Além disto, apresenta maior resistência às cigarrinhas-das-pastagens, maior tolerância ao alumínio e maior capacidade de cobertura do solo. Conseqüentemente, o manejo desta cultivar também deve ser diferenciado das demais, sendo indicada para solos de menor fertilidade, como uma alternativa para diversificação das pastagens.

Com relação à produção de forragem, destacam-se dois grupos, um mais exigente e produtivo, formado pelas cultivares Mombaça, Tanzânia e Tobiatã, e outro, de menor capacidade produtiva, formado pelas cultivares Vencedor, Colonião e Massai. Dentre as cultivares do primeiro grupo, destaca-se a cv. Mombaça, com capacidade de produzir 33 t/ha.ano de matéria seca foliar, enquanto as outras duas produzem, cada uma, cerca de 26 t/ha.ano de matéria seca foliar. Entretanto, o manejo sob pastejo da cv. Tanzânia é facilitado devido às características das touceiras, de menor porte e com colmos mais finos, que diminuem a rejeição de consumo dos animais, quando o capim atinge mais de 1,50 m ou após o florescimento.

As cultivares do segundo grupo são capazes de produzir cerca de 14-17 t/ha.ano de matéria seca foliar. A cv. Vencedor resiste bem à seca e ao frio, enquanto que a cv. Massai tolera solos de menor fertilidade e maior teor de alumínio. Em estudos desenvolvidos pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), no município de Tangará da Serra, sob condições de pequenas parcelas, em Latossolo Vermelho Distrófico, textura argilosa, em dois cortes (a 25cm do solo) durante período das águas, as cultivares Mombaça, Tobiatã e Tanzânia apresentaram produção acumulada de 1,72, 1,54 e 1,04 kg/m2 de matéria verde seca (lâmina foliar e colmo), respectivamente.

Considerando-se a relação lâmina/colmo, destas mesmas cultivares, observou-se valores de 2,31, 2,28 e 2,59, respectivamente. Apesar da menor produção de forragem do capim-Tanzânia, a maior proporção de lâmina foliar é indicativo de forragem de melhor qualidade. Entretanto, deve-se avaliar não só a proporção de lâmina foliar (qualidade) como também a quantidade produzida, tendo em vista que esta é a fração mais nutritiva da planta. Neste sentido, observou-se maior produção acumulada de lâmina foliar das cultivares Mombaça e Tobiatã, com 1,20 e 1,07 kg/m2 de MS, respectivamente, indicando maior potencial para produção animal por área, sob estas condições.

Com relação à capacidade de cobertura do solo, na época seca, as cultivares Massai, Mombaça, Tanzânia e Tobiatã, apresentaram, respectivamente, 21; 11; 7 e 4 touceiras/m2, reforçando a indicação da cv. Massai como boa protetora do solo. Quanto à produção animal, segue-se a mesma tendência da produção forrageira. Na literatura, encontram-se dados de produção de carne variando de 117 a 432 kg/ha/ano de peso vivo, sem adubação, e de 270 a 645 kg/há/ano de peso vivo, com adubação de até 100 kg/ha de nitrogênio.

Entretanto, em sistemas intensivos de produção, envolvendo pastejo rotacionado, irrigação e elevados aportes de adubos, estima-se chegar a produções da ordem de 1600 à 2000 kg/ha/ano de peso vivo. No caso de sistemas menos intensivos, estes capins também podem ser consorciados com leguminosas forrageiras, sendo mais indicadas as arbóreas e arbustivas, que agregam a produção de sombra na pastagem, e as herbáceas de hábito de crescimento volúvel ou trepador, como, calopogônio, soja-perene, kudzu-tropical e centrosema.

As consorciações são recomendáveis por proporcionarem pastos com forragem de melhor valor nutritivo e com maior persistência ao longo do tempo. Este benefício ocorre em função do aporte de nitrogênio (N) proveniente da fixação biológica realizada por bactérias do gênero

ou

, em associação simbiótica com as raízes das leguminosas, que, em pastos consorciados, pode chegar a 50-150 kg/ha/ano de N, gratuitamente.

Em pastos de

consorciado com leguminosas, pode-se obter rendimentos de carne de 325 a 560 kg/ha.ano de peso vivo, além dos benefícios ambientais proporcionados pela diversificação de espécies forrageiras, como diminuição de problemas com pragas e doenças, menor necessidade de uso de insumos, tanto para o pasto quanto para os animais, levando à produção de carne com qualidade e retardando o processo de degradação das pastagens, por manter-se um ecossistema mais próximo àquele de origem destes capins.

Roberto Giolo de Almeida

UNEMAT

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