Cultivares de trigo para o Cerrado superam produtividade

Cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa alcançam 90% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro

15.07.2016 | 20:59 (UTC -3)

No Cerrado do Brasil central o final do período das chuvas marca também o início da época de semeadura da safra de inverno (cultivos irrigados), que tem na cultura do trigo uma das opções mais competitivas no ano de 2014. A triticultura na região está relacionada com alta produtividade e excelente qualidade industrial, consequência da base tecnológica desenvolvida pela Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo no Cerrado.

A Embrapa, juntamente com órgãos de pesquisa, extensão e cooperativas, definiu na V Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale as informações técnicas para a cultura de trigo irrigado na região do Brasil Central, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso e no Distrito Federal, que deverão ser utilizadas na safra de 2014. Nas informações técnicas são destacadas as cultivares de trigo da Embrapa, época de semeadura e algumas práticas culturais.

O cultivo do trigo irrigado deverá ser antecedido por um planejamento que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos básicos para que o empreendimento chegue a bom termo. No planejamento, deve-se buscar a utilização do conjunto de técnicas que levem a lavoura a ter bom potencial de produção e qualidade dos grãos colhidos.

As cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa que, atualmente, ocupam 90% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro, estão relacionadas por Estado e tipo de solo.

Minas Gerais

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 400m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável

BRS 264

Embrapa 22

BRS 254

Embrapa 42

BRS 264

Embrapa 22

BRS 254

Embrapa 42

Goiás e Distrito Federal

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 500 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável

BRS 264

BRS 254

Embrapa 22

Embrapa 42

BRS 264

BRS 254

Embrapa 22

Embrapa 42

Bahia

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável

EMBRAPA 221

EMBRAPA 421

BRS 2541

BRS 2641

EMBRAPA 221

EMBRAPA 421

BRS 2541

BRS 2641

1 Indicada apenas para a região Oeste do Estado.

Mato Grosso

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável

Embrapa 22

Embrapa 42

BRS 254

BRS 264

Embrapa 22

Embrapa 42

BRS 254

BRS 264

Tabela 1 - Cultivares de trigo irrigado da Embrapa indicadas para o Brasil Central, estados onde são indicadas, ciclo, altura, reação ao acamamento e classe comercial

Cultivar

Estado

Ciclo

Altura

Acamamento1

Classe

BRS 254

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Melhorador

BRS 264

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Pão

Embrapa 22

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Melhorador

Embrapa 42

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

R

Melhorador

Cultivar

Estado

Ciclo

Altura

Acamamento1

Classe

BRS 254

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Melhorador

BRS 264

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Pão

Embrapa 22

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

MR

Melhorador

Embrapa 42

MG, GO, DF, MT, BA

Precoce

Baixa

R

Melhorador

1 R = Resistente; MR = Moderadamente resistente.

Tabela 2 - Cultivares de trigo da Embrapa indicadas para o Brasil Central, com sua reação ao crestamento e às doenças fúngicas

Cultivar

Cresta- mento

Oídio

Ferrugem

Helmin- tosporiose

Brusone

Folha

Colmo

BRS 254

S

S

S

-

MS

S

BRS 264

MS

AS

S

S

S

S

Embrapa 22

MS

AS

S

S

S

S

Embrapa 42

MS

S

S

S

S

S

Cultivar

Cresta- mento

Oídio

Ferrugem

Helmin- tosporiose

Brusone

Folha

Colmo

BRS 254

S

S

S

-

MS

S

BRS 264

MS

AS

S

S

S

S

Embrapa 22

MS

AS

S

S

S

S

Embrapa 42

MS

S

S

S

S

S

Obs.: AS = Altamente suscetível; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível; MR = Moderadamente resistente; R = resistente; - = Sem informação.

BRS 264

Possui alto potencial produtivo e boa qualidade industrial dos grãos. É a cultivar mais semeada pelos triticultores do Brasil central, ocupa 80% da área cultivada com trigo no cerrado. Trata-se da mais precoce das indicadas para o Brasil central. Seu ciclo da emergência à maturação é de 110 dias, enquanto as outras cultivares apresentam ciclo em torno de 125 dias. A BRS 264 não tolera chuvas no estádio de maturação final dos grãos, por isto a semeadura deve ser programada de modo que a colheita seja realizada na época de menor risco de chuvas. Possui elevado potencial de produtividade, nas safras de 2012 e 2013 foram observadas várias lavouras com rendimentos de grãos superiores a sete toneladas de grãos por hectare nas regiões tritícolas do Brasil central. No município de São João da Aliança, Goiás, foram colhidas 7,6 toneladas de grãos por hectare, em uma área de 120ha, irrigada por pivô central. Para se alcançar alta produtividade, deve-se utilizar em torno de 140kg/ha de nitrogênio total (base + cobertura) e aplicação de redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,5L/ha. A cultivar BRS 264 é classificada como Trigo Pão, tem Força geral do glúten (W) média de 270 x 10-4 Joules variando de 250 a 314 x 10-4 Joules e uma estabilidade média acima de 15 minutos. Apresenta rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de 66,4% (base 14% de umidade) em média. Também tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto. Esta cultivar tem uma boa aceitação por parte da indústria moageira que produz farinha destinada à produção de pães e macarrão.

BRS 254

Cultivar com excelente qualidade industrial e potencial produtivo. Produz grãos com alta força do glúten. Nas safras de 2012 e 2013 foram observados rendimentos de até 6,5 toneladas de grãos por hectare, em lavouras com boa fertilidade do solo, na região tritícola dos estados de Minas Gerais e Goiás. Para alcançar este potencial produtivo é indicada a utilização de aproximadamente 140kg/ha de nitrogênio total (base + cobertura) e aplicação do redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,5L/ha. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio se não for utilizado o redutor de crescimento. A BRS 254 apresenta em média uma força geral do glúten (W) de 350 x 10-4 J (obtido pela alveografia), sendo considerado trigo de glúten mais forte dos materiais que estão sendo indicados para o Brasil central; apresenta uma estabilidade média de 20 minutos e um rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de 62,2% (base 14% de umidade), em média. Tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto.

Embrapa 22

É uma cultivar antiga e ainda está no mercado pelas suas excelentes características de qualidade industrial e produtividade. Embrapa 22 é classificada como trigo melhorador, em média tem alta força de glúten (W) superior a 350 x 10-4 Joules e uma estabilidade acima de 16 minutos. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é de 6.000kg/ha. Para se alcançar essa produtividade, deve-se utilizar o redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4L/ha. Tem baixa tolerância ao acamamento e alta capacidade de perfilhamento. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio, se não for utilizado o redutor de crescimento.

Embrapa 42

Cultivar de excelente qualidade industrial e bom potencial de produtividade. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é de 5.700kg/ha. Possui uma força do glúten (W) média de 300 x 10-4 Joules, estabilidade média de 15 minutos, considerado um trigo de glúten "balanceado". Com essas características a cultivar Embrapa 42 é classificada comercialmente como Trigo Melhorador. Cultivar com boa tolerância ao acamamento. Pela sua menor capacidade de perfilhamento, deve ser cultivada com densidade maior de plantas que as outras cultivares indicadas para o Brasil central. Nos últimos anos tem mostrado grande suscetibilidade geral às doenças, especialmente às manchas foliares.

Época de semeadura

Indica-se a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, dando-se preferência ao mês de maio. Nesta época, o trigo encontra condições favoráveis para um bom desenvolvimento, sendo favorecido por temperaturas mais baixas nos meses de maio, junho e julho.

Semeaduras no mês de abril correm maior risco da incidência de Brusone e das manchas foliares (helmintosporioses). Por outro lado, semeaduras atrasadas correm o risco de redução da produtividade devido a uma combinação entre temperatura e fotoperíodo desfavoráveis, além do risco das indesejáveis chuvas na colheita com consequente perda de qualidade dos grãos.

Densidade, espaçamento e profundidade de semeadura

Respeitando-se os espaçamentos (17cm-20cm entre linhas), deve-se obter cerca de 330 a 400 plantas nascidas por m2, sendo que densidades menores que 330 plantas por m² podem afetar a produtividade e maiores que 400 plantas por m2 tendem a levar ao acamamento com consequente perda de produtividade e qualidade dos grãos. A profundidade de semeadura deve ficar em torno de 5cm.

Deve-se dar preferência à semeadura em linha, por distribuir mais uniformemente as sementes, oferecer maior eficiência na utilização de fertilizantes e menor possibilidade de danos às plantas, quando da utilização de herbicidas em pré-emergência.

Confira o artigo na edição 181 da Grandes Culturas.

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