No plantio direto o milho é o melhor

A cultura do milho apresenta grandes vantagens sobre as demais no PD. Todavia é preciso observar uma série de recomendações para não ver um bom negócio afundar.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No últimos anos tem-se dado ênfase ao plantio de várias culturas em sistema de plantio direto, pelas vantagens deste sistema quando comparado ao sistema convencional, principalmente com relação à melhor conservação do solo. Estima-se hoje que, no Brasil, cerca de 10 milhões de hectares estejam em sistema de plantio direto.

O plantio direto tem a característica de ser um sistema de manejo no qual se evita a mobilização do solo. Isso cria um novo ambiente ecológico - diferente daquele existente no sistema convencional - que resulta em uma série de vantagens para o agricultor e para o meio ambiente. Dentre estas vantagens podem ser ressaltadas: o controle da erosão, a conservação da umidade, o controle de plantas daninhas, a melhoria da estruturação do solo e das condições fitossanitárias da cultura, assim como maior economia em adubação e maquinaria.

A rotação de culturas é a base de sustentação do plantio direto e, nesse aspecto, a rotação de verão, principalmente entre as culturas de milho e soja, apresenta papel de destaque. Além do aumento de suas produtividades (tanto no milho como na soja), essa rotação facilita o controle de pragas, doenças e plantas daninhas, além de propiciar melhor aproveitamento de nutrientes.

A cultura de milho, num programa de rotação cultural, oferece vantagens adicionais, pela maior produção e manutenção de restos culturais (palhada) na superfície do solo. Dados experimentais mostram que o milho produz duas vezes mais matéria seca por hectare do que a aveia, quatro vezes mais do que o trigo e seis vezes mais do que a soja.

Além dos cuidados normais que o produtor deve ter na instalação de um plantio direto, no caso do milho o agricultor deverá ter ainda as seguintes preocupações:

A) A adubação nitrogenada deve ser revista. Embora áreas em plantio direto por vários anos apresentem maiores teores de matéria orgânica, tem sido constatada deficiência de nitrogênio em milho, com diferenças significativas em relação ao preparo convencional, quando a seqüência de culturas é predominantemente de gramíneas. Este efeito, entretanto, pode ser bastante reduzido com a inclusão de mais uma leguminosa no sistema de rotação. Em termos genéricos, recomenda-se maior quantidade de nitrogênio na semeadura (30 a 40kg/ha) para reduzir os efeitos da carência inicial de nitrogênio devido à imobilização deste nutriente. A adubação nitrogenada em cobertura segue a mesma recomendação do sistema convencional. Em sistema de plantio direto bem estabelecido, é possível haver uma economia no uso da adubação fosfatada. Com relação ao potássio, não têm sido constatadas diferenças entre o plantio direto e o convencional.

B) Outro importante aspecto no plantio direto do milho é o estabelecimento da densidade de plantio desejada. A ocorrência de uma densidade de plantio aquém da desejada é comum em plantio direto, onde as condições de solo e da plantadeira não são favoráveis. Onde há excesso de palha, palhada mal distribuída, microrrelevo irregular, normalmente associados a solo com maior teor de umidade do que o adequado, pode haver uma redução na densidade de plantio, além de causar emergência desuniforme e atraso no desenvolvimento inicial. Estes problemas podem ser agravados se a qualidade da plantadeira não for boa. Sugere-se, nestes casos, aumentar, na regulagem da plantadeira, a quantidade de sementes de 5 a 10% comparado com o plantio convencional. Também é importante manter a velocidade de semeadura dentro dos limites recomendados.

O estabelecimento da densidade de plantio adequado é também favorecido pelo uso de sementes de melhor qualidade e de cultivares adaptadas. Nesse aspecto, recomenda-se cultivares de alta produtividade, adaptadas a região com boas características agronômicas. No caso do plantio direto do milho, deve ser enfatizado o uso de cultivares que apresentem um melhor enraizamento e bom vigor inicial, para que se possa assegurar a densidade de plantio adequada e germinação, além de emergência rápida e uniforme.

C) As cultivares escolhidas devem ser tolerantes a pragas e doenças, considerando que o plantio direto favorece a maior incidência de microrganismos. Nesse aspecto, a rotação de culturas é um instrumento essencial, pois a falta de um programa adequado de rotação poderia favorecer a ocorrência e a proliferação crescente de pragas e doenças, além da seleção e perpetuação de plantas daninhas. Muitas vezes, a rotação de culturas permite o controle de pragas, doenças e plantas daninhas (que não poderiam ser reduzidas economicamente apenas com o uso de agroquímicos).

As demais operações não têm muita diferença entre o plantio direto e o convencional, lembrando, entretanto, que, no plantio direto do milho, o manejo da palhada produzida é importante, de forma a evitar problemas com a cultura seguinte. Muitas vezes é necessário o uso de um espalhador ou picador de palha.

Todas as considerações feitas até aqui se referem ao plantio direto do milho na safra normal. Mas, no Brasil, existe hoje a safrinha de milho, que já ocupa mais de dois milhões de hectares. Nesse sistema de plantio, o milho é plantado, sem irrigação, após uma cultura na época normal (geralmente a soja precoce). Nesse caso, a rotação soja precoce-milho ocupa a mesma área em um mesmo ano agrícola. O plantio direto, nesse caso, apresenta como vantagens adicionais a maior disponibilidade de água promovida pelo plantio direto e a possibilidade de plantio mais cedo, logo após a colheita da soja, reduzindo os riscos na produção do milho safrinha. Por outro lado, o milho safrinha favorecerá a produção da palhada necessária para a sustentabilidade do plantio direto.

José Carlos Cruz

Embrapa Milho e Sorgo

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