Fungos contra nematóides

Inimigos naturais apresentam bom desempenho frente ao ataque dos vermes responsáveis por 12% das perdas anuais médias da agricultura mundial.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Com a finalidade de diminuir as perdas causadas pelos nematóides, dentre as diversas medidas de manejo, o controle biológico se destaca como uma alternativa de controle viável. Possui, ainda, as vantagens de não ter efeito danoso sobre o ambiente, não deixar resíduos nos produtos colhidos e ser a alternativa mais adequada em certas circunstâncias, notadamente em parques e jardins de áreas urbanas. O controle biológico também tem enorme potencial de uso nos cultivos protegidos, hortas e agricultura orgânica. Consiste na redução da população do nematóide pela ação de outro organismo vivo, que ocorre naturalmente no solo ou através da manipulação do ambiente, incluindo a introdução de organismos antagonistas.

Mais de 200 diferentes organismos são considerados inimigos naturais dos fitonematóides, dentre os quais são encontrados fungos, bactérias, nematóides predadores, ácaros, entre outros. Desses, cerca de 75% são fungos nematófagos encontrados normalmente no solo; são inofensivos às culturas e ao homem e parasitam ovos ou cistos, predam juvenis e adultos ou, ainda, produzem substâncias tóxicas aos nematóides.

Um grande número de gêneros e espécies de fungos nematófagos são capazes de capturar nematóides, constituindo o grupo de inimigos naturais mais estudados. Os que apresentam maior potencial como agentes do controle biológico produzem estruturas especializadas para captura dos nematóides. Têm despertado a atenção e o interesse da comunidade científica tanto no Brasil como em outros países.

Os fungos nematófagos são classificados de acordo com o modo de ação, em ectoparasitos ou predadores, endoparasitos, oportunistas ou ovicidas, além daqueles que produzem metabólicos tóxicos aos nematóides. Entretanto, os fungos predadores e ovicidas estão entre os mais promissores, eles destacam-se pela facilidade de se estabelecerem no solo, pelas suas habilidades saprofíticas, além da facilidade de crescimento in vitro.

Os fungos predadores possuem desenvolvimento micelial intenso e produzem, ao longo das hifas, estruturas especializadas, denominadas armadilhas, com a finalidade de capturar os nematóides. São conhecidas seis tipos de armadilhas: hifas adesivas não modificadas, redes adesivas tridimensionais, redes adesivas bidimensionais, nódulos adesivos, ramificações adesivas, anéis constritores e anéis não constritores.

A eficiência de muitos desses fungos tem sido confirmada em testes in vitro no Laboratório de Nematologia (FCAV/Unesp, Campus de Jaboticabal). Um isolado de Monacrosporium robustum predou 100% dos juvenis de segundo estádio do nematóide de cisto da soja (

) até o terceiro dia, após a adição dos juvenis à cultura do fungo. Para os nematóides de galha (

e

), esse fungo exibiu 100% de predação dos juvenis, já no primeiro dia. Também, constatou-se que o mesmo fungo predou 100% dos espécimes do nematóide reniforme (

), no período de até três dias após a adição dos nematóides à cultura do fungo. O mesmo resultado foi observado para juvenis e adultos do nematóide dos citros (

), já no primeiro dia. Contudo, testes a campo nas culturas de algodão e laranja não confirmaram a eficácia desses fungos no controle dos nematóides. Entretanto, fatores adversos, tais como um prolongado veranico que ocorreu no período, provavelmente, teria limitado a ação dos fungos. Quando um coquetel de cinco fungos nematófagos (

e

), produzidos em um preparado especial de arroz no Laboratório de Nematologia, foram testados em larga escala em crisântemo de corte (cerca de 8 ha), em estufas altamente infestadas por

, em Holambra (SP), os fungos exibiram eficácia no controle do nematóide. A produtividade dos canteiros altamente infestados por nematóides cujo solo, antes do plantio da muda, recebeu a mistura de fungos foi, no mínimo, 30% superior ao rendimento dos canteiros igualmente infestados, mas que não passaram pelo controle biológico.

Outro benefício do coquetel foi que, na área tratada com os fungos, rendeu flores com hastes de melhor qualidade e maior tamanho e diâmetro. Nas pesquisas de campo, o nematicida ecológico pode ser aplicado no solo da estufa, antes do plantio das flores ou no próprio substrato utilizado para a produção de mudas. Os estudos também comprovaram que o emprego do coquetel de cinco fungos é mais eficiente no combate aos nematóides de galha do que o uso isolado de apenas uma ou duas espécies desses microorganismos. Esses fungos exibiram velocidade de crescimento e capacidade competitiva com outros microrganismos do solo de modo a favorecer a sua eficácia no manejo do nematóide.

No caso de crisântemo de corte em estufas, esses fungos exibiram os melhores resultados no manejo de

, até o presente, à exceção da fumigação do solo com brometo de metila. Isso demonstra o enorme potencial que formulações desses fungos podem ter. Certamente, sua utilização resultará em ganhos ecológicos e econômicos expressivos para a produção hortifrutícola e de plantas ornamentais em cultivos protegidos e orgânicos.

Os melhores resultados que a equipe do Laboratório de Nematologia de Unesp/FCAV tem obtido no controle biológico de nematóides são os de cultivos protegidos. Em cultivos a céu aberto, em que a temperatura e umidade variam muito, o coquetel dos fungos não teve igual desempenho. Contudo, em áreas irrigadas, as condições são mais favoráveis para o crescimento desses fungos, sinalizando com as possibilidades de sua utilização em larga escala, também a campo.

Os nematóides são vermes muito pequenos e quase transparentes, impossíveis de serem vistos a olho nu. Medem de 0,3 a 3,0 mm e causam perdas anuais médias à produção agrícola mundial estimadas em 12%, correspondendo a bilhões de dólares de prejuízo.

Praticamente todas as espécies de plantas cultivadas sofrem danos causados por, pelo menos, uma espécie de nematóide. Algumas culturas, inclusive, são hospedeiras de várias espécies. A maioria dos nematóides atacam, principalmente, partes subterrâneas, como raízes, bulbos, tubérculos e rizomas. Algumas espécies causam danos em partes aéreas, como caules, folhas e sementes. Alguns são distribuídos em sementes. Há registros dando conta de que Anguina tritici, o primeiro nematóide parasito de planta conhecido, pode sobreviver mais de 20 anos em sementes guardadas. Os nematóides mais comuns no Brasil, associados a hortifrutícolas, são do grupo dos nematóides de galha (

spp.). Esses nematóides causam alterações em partes subterrâneas das plantas hospedeiras visíveis na forma de caroços, chamados de galhas. Além de provocarem essas alterações nas raízes, também reduzem a absorção e o transporte de água e nutrientes para a planta, comprometendo ou, em casos extremos, inviabilizando a cultura.

e

Unesp - Jaboticabal

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