​Frutos enegrecidos: manejo da podridão-preta-do-fruto do maracujá

Causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae a podridão-preta-do-fruto em maracujazeiro favorece a ocorrência de problemas pós-colheita

01.06.2016 | 20:59 (UTC -3)


A cultura do maracujazeiro pode ser afetada por muitas doenças, algumas das quais limitam o seu cultivo, quando não controladas adequadamente. A expansão das áreas de cultivo em algumas regiões tem favorecido o surgimento de novas doenças e o agravamento de um grande número de outras que passaram a ser economicamente importantes.

A evolução da patogenicidade de microrganismos, estimulada por pressões ambientais, tem revelado uma gama de patógenos, antes tidos como secundários, que se tornam primários. Até recentemente considerado como um patógeno ocasional de plantas estressadas, o fungo Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff. & Maubl vem se constituindo em um sério problema para os produtores, pois tornou-se importante para diversas culturas, onde as condições climáticas lhes são favoráveis. Esse patógeno apresenta uma gama de mais de 500 hospedeiros catalogados em regiões tropicais e temperadas.

Dentre os hospedeiros é possível citar espécies que são de grande importância econômica para o país como o cajueiro, a mangueira, o coqueiro, a aceroleira e o maracujazeiro. É também considerado um dos principais patógenos de pós-colheita, devido à alta incidência nos frutos, o que pode inviabilizar a sua comercialização.

No Brasil, as doenças de pós-colheita são responsáveis por perdas significativas de produtos agrícolas durante as etapas de comercialização. Diminuem não apenas a quantidade comercializada, mas também a qualidade dos produtos no mercado. As perdas causadas por essas doenças são variáveis e oscilam em função do produto, da região e da tecnologia empregada na produção. A podridão é o principal fator de depreciação dos frutos no pós-colheita, fato esse comumente encontrado nos frutos de maracujazeiros comercializados no município de Alta Floresta, Mato Grosso, sendo atribuída grande ação ao Lasiodiplodia theobromae, agente causal da podridão-preta-do-fruto.

O gênero Passiflora

O maracujazeiro pertence à família Passiforaceae, que é amplamente distribuída nos trópicos e regiões temperadas e é composta por 18 gêneros e mais de 630 espécies. O gênero Passiflora é o mais importante economicamente e possui 129 espécies conhecidas, nativas do Brasil, das quais 83 são endêmicas, podendo ser utilizadas como alimento, remédio e ornamento. A espécie mais cultivada no Brasil é a Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Degenes (maracujá-amarelo ou maracujá azedo). O maracujá-amarelo tem grande importância devido à qualidade dos frutos, à divulgação junto aos consumidores e ao incentivo da agroindústria. Representa 95% dos pomares brasileiros.

Na comercialização dessa fruta, a aparência é um dos parâmetros de avaliação qualitativa mais utilizados pelos consumidores, sendo doenças pós-colheita um dos principais fatores de perda da qualidade de frutos de maracujá.

Podridão-preta-do-fruto

Essa doença é causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff. & Maubl. Trata-se de um fungo de ampla distribuição e grande número de hospedeiros, tido como oportunista em alguns casos, apresentando pouca especialização patogênica, geralmente associado a hospedeiros suscetíveis como plantas estressadas, com ferimentos naturais ou provocados por insetos, pássaros e pelo próprio homem, através de práticas culturais.

Essa doença se torna importante para a cultura do maracujazeiro pois, após a colheita, a suscetibilidade dos frutos às podridões é elevada, com ocorrência significativa de perda de massa fresca e fermentação da polpa. Sabe-se que, para uma boa aceitação pelos consumidores, os frutos devem estar com a casca amarela, lisa ou pouco enrugada e com ausência de manchas e de defeitos que possam afetar a qualidade da polpa, tais como rachaduras, presença de fungos e sinais de ataque por insetos. A indústria não exige qualidade estética dos frutos para processamento do suco.

Epidemiologia

As doenças de pós-colheita do maracujá, na maioria dos casos, originam-se no campo, fase conhecida como pré-colheita. Fatores como condições climáticas desfavoráveis à cultura, e os tratos culturais e fitossanitários aplicados incorretamente favorecem as doenças de pós-colheita.

A ocorrência de podridão-preta-do-fruto por Lasiodiplodia está associada a estresse hídrico. No pós-colheita, a disseminação ocorre pelo contato entre frutos doentes e sadios, direta ou indiretamente, assim como aqueles caídos no solo ou em tecidos infectados na planta, como caules e hastes.

O patógeno desenvolve-se rapidamente em solos argilosos ou de subsolo impermeável com umidade elevada. Há pleno desenvolvimento do fungo em temperaturas entre 12°C e 25ºC. Lasiodiplodia theobromae (Pat.) é um patógeno típico das regiões tropicais e subtropicais, onde causa sérios prejuízos a numerosas espécies vegetais cultivadas, sendo considerado um parasita não especializado.

A disseminação do patógeno é feita através de vento, chuvas ou por irrigação quando não manejada adequadamente. Penetra no tecido do hospedeiro por meio de ferimentos ou aberturas naturais, principalmente quando a planta hospedeira encontra-se predisposta.

O fungo pode sobreviver em restos culturais ou permanecer quiescente em ramos ou lesões no tronco. As condições favoráveis para ocorrência dessa doença são: elevada umidade relativa (superior a 70%), plantios adensados ou período com chuvas frequentes e altas temperaturas (acima de 30ºC).

Sintomas

Esse fungo não é sistêmico, portanto, sua infecção é localizada e progressiva, destruindo célula por célula, até penetrar no interior do órgão vegetal. Os sintomas ocorrem somente nos frutos maduros ou em processo de maturação. Inicialmente, surgem pequenas manchas marrom-claras, arredondadas que se unem e, no início, podem ser confundidas com a antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides.

Posteriormente, essas manchas tornam-se escuras, coalescem e tendem a envolver todo o fruto, que se torna escuro e murcho. A doença difunde-se rapidamente para o interior do fruto atingindo facilmente a polpa, fermentando-a e apodrecendo as sementes.

Em condições de umidade elevada, as lesões tornam-se cobertas com o micélio cinza do fungo e muitos picnídios (estruturas de resistência e responsáveis pelas disseminações dos esporos). É um fungo de rápido crescimento que geralmente provoca apodrecimento e mumificação do fruto. Na pós-colheita a doença é mais severa em temperaturas na faixa de 25ºC a 30ºC e em condições de alta umidade relativa.

Controle

O manejo preventivo dessa doença vem sendo o que apresenta melhores resultados, principalmente quando se adotam espaçamentos maiores entre as fileiras de plantas, proporcionando maior aeração, evitando-se o plantio em baixadas úmidas, bem como os excessos na irrigação, para não criar um microclima favorável ao desenvolvimento do patógeno.

O controle deve começar ainda no campo, para reduzir a fonte de inóculo e evitar danos nos frutos durante o manuseio, como a adoção de práticas de manejo integrado pré-colheita. Em pós-colheita, devem-se utilizar medidas alternativas para o controle dessas doenças, como o tratamento hidrotérmico e a refrigeração.

Apesar da inexistência de fungicidas registrados no Brasil para podridão-preta-do-fruto, há informações do uso de produtos à base de cobre, com aplicações principalmente no período chuvoso. Plantas afetadas devem ter todos os frutos da florada atual removidos, maduros e verdes, afetados ou não, recolhendo-se aqueles já caídos, a fim de reduzir as fontes de inóculo na área de cultivo.

O maracujazeiro (box)

Originário da América Tropical, o maracujazeiro se adaptou muito bem às condições de ambiente do Brasil que, atualmente, é o maior produtor e consumidor mundial. A fruticultura é um dos investimentos mais atrativos da agricultura brasileira, devido às condições de clima favoráveis do país, permitindo a produção de frutas durante o ano inteiro e a geração de renda em áreas relativamente pequenas, principalmente pela agricultura familiar.

A cultura do maracujazeiro tem ocupado uma posição de destaque na fruticultura brasileira, mesmo quando comparada a outros frutos tropicais com maior tradição de consumo. A qualidade nutricional de seus frutos apresenta grande importância, por serem ricos em sais minerais e vitaminas. O suco extraído dos frutos tem aroma e sabor agradáveis, sendo muito bem aceito nos diversos mercados.

No Brasil, mais de 60% da produção doméstica se destina para o consumo in natura e o restante às indústrias de processamento de polpa e suco. Quanto aos aspectos sociais, desempenha importante papel nas regiões onde a cultura é explorada, caracterizando-se por ser uma atividade predominantemente desenvolvida em pequenas propriedades e mão de obra familiar.


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