Floração do abacaxizeiro no Extremo Sul da Bahia em função do tamanho da muda e da época de plantio

Experimentos realizados no Extremo Sul da Bahia com a cultivar Pérola mostra as diferenças encontradas nos frutos em função do tamanho da muda e época de plantio.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A floração é um processo integrado, de natureza complexa. Em decorrência de sua grande importância para as plantas e a produção agrícola, muitos trabalhos têm sido desenvolvidos em todo o mundo sobre o assunto. Neste contexto, destaca-se o abacaxizeiro como a primeira planta a ter o florescimento induzido artificialmente. A indução floral tornou-se uma prática cultural de grande importância no cultivo desta fruteira.

O abacaxizeiro, ao alcançar um nível crítico de desenvolvimento vegetativo, que pode corresponder a diversos tamanhos da planta influenciados pelas condições ambientais, tende a iniciar a floração quando os dias se tornam mais curtos. No entanto, a sua diferenciação floral natural é favorecida também por temperatura e insolação baixas e por condições extremas de umidade (seca ou umidade excessiva) (Cunha, 1999). Devido a estas características, uma das principais limitações para a abacaxicultura na região Extremo Sul da Bahia é a ocorrência de diferenciações florais naturais do abacaxizeiro em junho/julho, que resulta na concentração da colheita dos frutos do início até meados de dezembro, época de grande oferta e, consequentemente, de preços baixos.

A melhoria dos preços se inicia a partir do final de dezembro, com o início da temporada de férias na região, quando também cai a produção oriunda das florações naturais. Combinações de época de plantio e de tamanho de mudas são usadas para tentar evitar a concentração da safra e conseguir deslocar a produção para épocas de preços mais altos. Oliveira et al. (2003 e 2004), a partir de observações relacionadas às épocas de plantio e à indução do florescimento em unidades experimentais do Extremo Sul da Bahia, recomendaram para a região o plantio no período de março a maio, efetuando-se a indução floral em torno de 10 meses após o plantio, o que determina a realização da colheita entre julho e outubro do ano subseqüente. O deslocamento da produção de abacaxi para o período de entressafra com maiores demandas e preços dos frutos (janeiro a março) na região Extremo Sul da Bahia é um anseio dos produtores da região. Nesse sentido, têm sido desenvolvidos pelos pesquisadores da Embrapa estudos de manejo cultural, testando-se a antecipação do plantio e o uso de mudas de diferentes tamanhos, como forma de deslocar a época de colheita.

Para tanto, foram realizados plantios em janeiro de 2006, no município de Santa Cruz Cabrália, Bahia, com a cultivar ‘Pérola’, plantada no espaçamento de fileiras duplas 0,90 m x 0,40 m x 0,40 m. A amostra de solo da área apresentou as seguintes características químicas na camada de 0-20 cm de profundidade: pH (H2O) 5,9; P (mg/dm3) 0,0; K (cmolc/dm3) 0,04; Ca (cmolc/dm3) 2,1; Mg (cmolc/dm3) 0,4; Al(cmolc/dm3) 0,1; Na (cmolc/dm3) 0,03; H+Al (cmolc/dm3) 2,42; V(%) 51 e MO (g/kg) 14,15. Na cova foi aplicado 0,5 L de esterco de curral e 13 g de superfosfato simples. Em cobertura, foram adicionados por planta 42 g de sulfato de amônio e 22 g de cloreto de potássio, parcelados em quatro aplicações. Foram estudados dois tamanhos de mudas 1) grandes (> 40 a 50 cm) e 2) pequenas (30 a 40 cm). Após o plantio, foram realizadas inspeções na área para erradicação de plantas com sintomas de fusariose (resinose, gomose), principal doença do abacaxizeiro no Brasil.

Observou-se a incidência do florescimento natural mediante contagem de plantas com flores, nos meses de agosto e setembro de 2006. Foram avaliados o peso, comprimento e largura da folha ‘D’ do abacaxizeiro, que é a folha mais longa e fisiologicamente mais ativa, aos oito meses após plantio, e o número e peso dos frutos colhidos de dezembro de 2006 a junho de 2007. Nos meses de junho, julho e agosto, período de dias mais curtos do ano, foram observadas as menores temperaturas do ano (19,2; 17,4; 18,9 oC, respectivamente), apontando-se dias com temperaturas mínimas de até 11,5 oC, condições favoráveis ao florescimento natural. Porém, o ano de 2006 apresentou uma boa distribuição de chuvas, com um total acima de 1.800 mm. Nos primeiros três meses de plantio foram observadas precipitações mensais de 101, 28 e 185 mm nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2006, favorecendo um bom desenvolvimento das plantas.

Aos oito meses após plantio observaram-se taxas médias iguais de erradicação de plantas devido à incidência da fusariose, tanto para mudas grandes como pequenas (19,3%), demonstrando que o tamanho da muda não afetou a incidência da doença.

As perdas relativamente elevadas confirmam que a fusariose é um dos principais fatores limitantes para o desenvolvimento da abacaxicultura na região do Extremo Sul da Bahia. Aos oito meses de idade, o crescimento das plantas, avaliado com base no peso e dimensões da folha ‘D’, não diferiu entre os tratamentos. Os valores médios gerais foram peso fresco de 56 g, largura mediana de 6 cm e comprimento de 80 cm, os quais foram inferiores aos recomendados por Reinhardt et al. (2001) como críticos para a realização da indução floral visando à obtenção de frutos com tamanho adequado para a comercialização.

A percentagem de plantas com inflorescência aos oito e nove meses de idade, bem como a percentagem de frutos colhidos, diferiram em função do tamanho da muda. As mudas maiores apresentaram os maiores percentuais de florescimento e, consequentemente, de frutos colhidos. Nas parcelas plantadas com mudas grandes, foram colhidos 61% dos frutos nas plantas sadias, enquanto nas mudas pequenas, este valor foi de 42%. Em plantio realizado no mês de outubro na área do assentamento Coqueiro Alto, em Porto Seguro-BA, observaram-se altas taxas de florescimentos naturais em setembro do ano seguinte, mostrando que a maturidade das mesmas é fator preponderante na diferenciação floral a partir do estabelecimento das condições ambientais locais favoráveis.

Houve diferença significativa na percentagem de frutos colhidos ao longo dos meses. No caso de uso de mudas maiores (40 a 50 cm), a colheita dos frutos se concentrou no período de dezembro do mesmo ano de plantio a fevereiro do ano seguinte (11 a 13 meses após o plantio) e continuou até junho (17 meses após o plantio), enquanto que no caso de mudas menores (30 a 40 cm) a colheita se estendeu de janeiro a junho do ano seguinte ao plantio (12 a 17 meses após o plantio), com picos em fevereiro e abril. De janeiro a março foram colhidos cerca de 65% e 50% do total dos frutos colhidos, respectivamente com o uso de mudas grandes e pequenas. Em termos médios, o maior percentual de frutos foi colhido no mês de fevereiro 2007, portanto aos 13 meses após o plantio (38%).

As percentagens totais de frutos colhidos até 17 meses (junho de 2007) após o plantio em resposta às florações naturais indicam que 39% e 58% das plantas oriundas de mudas grandes e pequenas, respectivamente, não deram frutos no período estudado, exigindo a realização da indução floral artificial. Esta deveria ser realizada nos meses de setembro ou outubro nas plantas sem diferenciação floral natural, permitindo que a colheita dos frutos se realize ainda no período de preços mais favoráveis (até março) e que a floração das plantas ocorra em período pouco favorável à incidência da fusariose nos frutos (novembro/dezembro) devido à umidade menor e temperatura mais alta.

O peso médio dos frutos foi maior para mudas pequenas (1,259 kg) do que para mudas grandes (1,177 kg), diferença estatisticamente não significativa. Plantas provenientes de mudas pequenas apresentaram diferenciação floral mais tardia e, portanto, período de crescimento vegetativo mais longo, o que pode ter determinado maior acúmulo de fotossintatos favorecendo a formação de frutos um pouco maiores. O peso médio geral dos frutos colhidos foi de 1,218 kg, classificado por Souza (2003) como do Tipo 2 (1,201 kg a 1,500 kg). Apesar do peso médio do fruto um pouco inferior obtido para plantas oriundas de mudas grandes, estas determinaram a obtenção de produtividade média superior (21,3 t/ha), sobretudo devido a maior percentagem de plantas com frutos colhidos (61%) no período de colheita estudado (até junho). Para mudas pequenas a produtividade média foi de 16,1 t/ha com 42% de plantas com frutos colhidos no período. No cálculo da produtividade foram consideradas as perdas de plantas constatadas até o final do período experimental, que foram de 23% e 21%, respectivamente para mudas grandes e mudas pequenas, tendo a fusariose como causa preponderante.

Analisando esses resultados, conclui-se que nas condições ambientais do município de Santa Cruz Cabrália, localizado no Extremo Sul do Estado da Bahia, é possível colher abacaxi da cv. Pérola no período de entressafra com maiores preços mediante plantio no mês de janeiro do ano anterior, em condições de boa pluviosidade nos meses iniciais de plantio. Isto resulta na incidência de florações naturais a partir de julho do mesmo ano e colheita dos frutos durante o primeiro semestre do ano seguinte. O uso de mudas maiores resulta em produtividade maior, embora o ciclo relativamente curto determine a redução do peso médio dos frutos colhidos, cuja maioria se enquadra nos limites inferior do tipo II (1,2 a 1,5 kg) e superior do tipo I (0,9 a 1,2 kg) das normas brasileiras de classificação de abacaxi.

Arlene Maria Gomes Oliveira1; Domingo Haroldo Reinhardt2; Jackson Lopes de Oliveira3; Karina Christo4

1MSc, Eng. Agr., Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Caixa Postal 83, 45810-970, Porto Seguro, BA,

; 2PhD, Eng. Agr., Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Caixa Postal 007, 44380-000, Cruz das Almas, BA,

; 3BSc, Administrador, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Caixa Postal 202, 45810-970, Porto Seguro-BA,

; 4Engenheira Agrônoma, Secretaria de Agricultura, 45807-000, Santa Cruz Cabrália,BA,

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Referências

CUNHA, G.A.P. da. Aspectos agroclimáticos. In: CUNHA, G.A.P. da; CABRAL, J.R.S.; SOUZA, L.F. da S. O abacaxizeiro – cultivo, agroindústria e economia. Brasília, DF: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. Cap.2, p.53-66.

OLIVEIRA, A.M.G.; CABRAL, J.R.S.; SOUZA, L.F. da S.; COUTINHO, S. da C. Adubação e sistemas de plantio para o abacaxizeiro, em área de pequeno produtor, em Porto Seguro-BA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 29, 2003, Ribeirão Preto-SP. Anais... Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2003, CD-ROM.

OLIVEIRA, A.M.G.; SOUZA, L.F. da S; CABRAL, J.R.S.; COUTINHO, S. da C. Tecnologias para o cultivo do abacaxizeiro, em área de assentamento, em Santa Cruz Cabrália-BA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 18, 2004, Florianópolis-SC. Anais... Florianópolis: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2004, CD-ROM.

REINHARDT, D.H.; CUNHA, G.A.P. da; MENEGUCCI, J.L.P. Indução Floral. IN: REINHARDT, D.H.; SOUZA, L.F. da S.; CABRAL, J.R.S. Abacaxi irrigado em condições semi-áridas. 1ª Edição. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2001, p. 60-63.

SOUZA, L.F. da. Abacaxi: tamanho é documento? Revista Cultivar HF, outubro/novembro, 2003, p.18-19.

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