Duas colheitas

A soca de arroz irrigado pode ser cultivada com 50 a 60% menos trabalho, usa menos água que a cultura principal e não necessita de preparo do solo nem de semeadura.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Tem-se verificado que a produtividade da cultura de arroz irri-gado em áreas de várzeas na região tropical é menor que a obtida na região temperada. Isto pode ser resultante dos efeitos prejudiciais de fatores bióticos e abióticos sobre a cultura. Com isso, é necessário desenvolver sistemas de produção que possibilitem minimizar estes efeitos e fazer com que a planta de arroz possa conviver de forma sustentável com esta situação, com danos mínimos ao ecossistema. No entanto, as condições climáticas nas várzeas tropicais possibilitam o cultivo intensivo de arroz, ou arroz seguido de outras espécies, resultando em maior produção anual de biomassa que nas de clima temperado.

O uso sustentável das várzeas compreende a utilização de sistemas de cultivos múltiplos, produzindo duas a três safras por ano na mesma área. Conseqüentemente, uma segunda colheita de arroz, através do aproveitamento da soca, pode ser uma alternativa viável para aumentar a produtividade de arroz em regiões tropicais.

A soca pode ser cultivada com 50 a 60 % menos trabalho, usa 60 % menos água que a cultura principal, e não necessita de preparo do solo nem de semeadura. Com isso, a relação benefício / custo na soca é maior. O menor ciclo da soca possibilita realizar o seu cultivo ainda durante a estação chuvosa e o seu uso pode aumentar a produtividade onde o cultivo sucessivo do arroz é impossibilitado.

Para obter êxito no aproveitamento da soca é necessário realizar o planejamento do sistema de produção de arroz, compreendendo desde o estabelecimento da cultura até a segunda colheita.

Altas produtividades de grãos das culturas somente serão obtidas se a cultivar, as práticas culturais e o ambiente estiverem adequadamente associados. Entre os elementos meteorológicos que afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas, a temperatura e a radiação solar têm sido relatadas como os de maior influência no comportamento da soca. A definição das épocas de semeadura se baseia no conhecimento das condições climáticas preponderantes na região e na disponibilidade de água para irrigação.

A maioria dos estudos não tem mostrado correlação positiva e significativa entre as produtividades de grãos da soca e da cultura principal. Deve-se explorar a soca de genótipos com reconhecida capacidade produtiva nas duas colheitas.

O sucesso do cultivo da soca é, em grande parte, determinado pelas práticas empregadas na cultura principal, como a época de semeadura, o sistema de plantio, a fertilização, a população de plantas, o manejo de água e o sistema de colheita, pois a sua produtividade depende do desempenho da cultura principal. No planejamento da colheita deve-se considerar a época, a altura de corte e os equipamentos das colhedoras. O uso do picador de palha na colhedora é essencial, pois favorece a brotação dos perfilhos e reduz a incidência de doenças. Deve-se evitar o “passeio” desnecessário de colhedoras e graneleiros, para não danificar excessivamente as plantas de arroz. Com o cultivo da soca obtém-se maior eficiência na utilização das colhedoras, pois reduz a sazonalidade de uso de máquinas e implementos.

Práticas culturais que promovam uma brotação rápida e uniforme são especialmente importantes. Dentre as práticas culturais empregadas no cultivo da soca destacam-se a fertilização nitrogenada, o manejo de água e os tratos fitossanitários. A fertilização nitrogenada deve ser feita logo após a colheita, favorecendo, assim, a uniformidade do perfilhamento. A inundação deve ser reiniciada no começo da brotação dos colmos. A soca de arroz possibilita aumentar a produtividade das várzeas tropicais, reduzir a sazonalidade do uso de máquinas e implementos, aumentar a ocupação da mão-de-obra rural e a renda líquida dos produtores.

Embrapa Arroz e Feijão

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