Cultivo de soja em terras baixas em ano de El-niño

Levantamentos apontam que a metade sul do RS é, praticamente, a única região com área disponível para expansão da cultura no Estado. A soja pode melhorar a fertilidade do solo, reduzir plantas daninhas e trazer, o

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Na última década, a área cultivada com soja na metade Sul do RS aumentou mais de 10% ao ano, e a cultura vem sendo inserida tanto em áreas altas quanto nas terras baixas da região. Diversos levantamentos apontam que a metade sul do RS é, praticamente, a única região com área disponível para expansão desta cultura no Estado. Nas terras baixas, a incorporação da soja ao sistema de produção de arroz pode melhorar a fertilidade do solo, reduzir plantas daninhas e trazer, onde antes amplas áreas permaneciam em pousio, a possibilidade de uso agrícola e obtenção de recursos financeiros ao produtor. Dentre os componentes de um cenário favorável ao cultivo de soja podem-se citar, ainda, a crescente demanda mundial por alimentos e por energia, a vantagem logística regional quanto à distância ao porto de Rio Grande - condição que diminui gastos com transporte de fertilizantes e escoamento da produção - e a redução do custo de diversos insumos para esta safra 2009/10 quando comparados aos custos do ano anterior.

O ano de 2009 está se caracterizando pela abundância de chuvas em praticamente todas as regiões do RS. O fenômeno El-niño mostra sua força ao trazer precipitações, vendavais e tempestades com frequência e intensidade acima dos níveis considerados normais, o que tem causado perdas severas nos cultivos de inverno, em fruteiras e nas hortaliças, além de atrasar os preparos e a semeadura dos cultivos de verão. Ademais, os institutos que acompanham o clima mundial indicam que o fenômeno continuará atuando, pelo menos até o final deste ano.

A cultura da soja, diferente do arroz, não tolera o encharcamento prolongado do solo, e esta característica implica na necessidade de se realizar técnicas específicas de manejo quando for cultivada em terras baixas, na rotação com o arroz irrigado. Nesta safra de El-niño, alguns aspectos tornam-se ainda mais importantes e merecem atenção especial por parte do produtor. Destacam-se neste sentido, a drenagem da área, o aumento do risco de doenças na fase inicial da cultura e a maior pressão de plantas daninhas. As operações para drenagem e escoamento de água das chuvas são bem conhecidas e envolvem o uso de valetadeiras, plainas e outras máquinas que fazem limpeza de canais e drenos externos e internos da lavoura. A orientação mais crítica para este ano é que, imediatamente após a semeadura, o produtor faça os drenos e valetas internas da área, para retirar o excesso de água previsto em função do El-niño. Como o volume de chuvas estimado é alto, é prudente fazer as valetas e os drenos com planejamento para que passem com exatidão pelo centro das depressões da lavoura, além, de, preferencialmente, serem em maior número e terem profundidade maior do que nos anos secos.

O excesso de água, além de diminuir a viabilidade das sementes e prejudicar plantas novas e adultas de soja, pode ocasionar o aparecimento de doenças com maior intensidade que nos anos mais secos, principalmente na fase inicial da cultura. A indicação, nesse sentido, é que se adotem medidas preventivas para manter a população da soja, como a utilização de sementes tratadas com fungicidas específicos para esta finalidade (existem diversas marcas comerciais), e semear ao menos dezessete sementes por metro linear, no espaçamento de 45cm entre as linhas. A inoculação com rizobium, que deve ser adicionado às sementes após o tratamento com fungicidas, é importante, de baixo custo e necessária para se obter boa produtividade em áreas de terras baixas, principalmente quando a cultura for implantada sob plantio convencional ou cultivo mínimo. Por fim, os anos chuvosos são caracterizados pela elevada pressão de plantas daninhas, especialmente de gramíneas. O cultivo de soja RR facilita o controle destas invasoras, contudo, deve-se evitar o erro frequente de semear a soja e ver a mesma emergir junto das infestantes. As perdas associadas à competição não são percebidas visualmente, mas comprometem a lucratividade da lavoura. Orienta-se aos produtores que a emergência da soja ocorra sem a presença de plantas daninhas na lavoura, com a dessecação logo antes ou imediatamente depois da semeadura, ou, ainda, com gradagens nos casos de plantio convencional. Estas medidas facilitam o controle das invasoras em pós-emergência, reduzindo a probabilidade de ocorrer resistência aos herbicidas e evitando perdas de produção.

Diversas práticas culturais devem ser feitas com exatidão para que a soja apresente produtividade e lucratividade satisfatórias quando implantadas em rotação com o arroz irrigado. Além das já citadas, a análise de solo - para adição do tipo certo de fertilizante - e a aplicação de fungicidas e inseticidas somente após a população das pragas atingir o nível de dano econômico, são importantes para que o potencial produtivo da lavoura seja alcançado e mantido até a colheita, e que não se efetuem gastos desnecessários.

Nesta safra de verão 2009/2010, devido à forte influência do El-niño, crescem em importância as práticas de drenagem, do estabelecimento de população de soja em nível adequado, e do controle precoce de plantas daninhas, como mencionado. Nas terras baixas da região de Pelotas, as melhores produções de soja são obtidas com semeaduras entre 21 de outubro e 10 de dezembro, existindo diversas cultivares indicadas. Lembra-se, contudo, que os cultivares muito precoces geralmente são os menos tolerantes ao encharcamento, e que os cultivares tardios poderão finalizar o ciclo em fins de maio ou mesmo em junho, época caracterizada pela abundância de chuvas.

Informações mais detalhadas sobre a cultura podem ser encontradas nos livros de indicações técnicas para o RS e SC (que, na internet, pode ser obtido nos endereços

e em

) e, para seu cultivo em terras baixas, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado (53 3275 8400).

Giovani Theisen

Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado

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