Na batida certa: distribuição de plantas na área de cultivo
Por Eduardo Lima do Carmo, Carlos Eduardo Leite Mello, Luiz Fernando Ribeiro Júnior, João Vitor Alves de Sousa e Gustavo André Simon, da Universidade de Rio Verde
O sistema de produção que envolve o plantio da soja no verão e o milho safrinha ocupa a maior área plantada no Brasil: 17 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2023). No entanto, esse manejo envolve muitos desafios. Um dos principais é o controle do milho voluntário, popularmente conhecido como milho tiguera, e suas graves consequências na lavoura.
A primeira preocupação é com a matocompetição durante o desenvolvimento da cultura da soja, já que as plantas voluntárias de milho apresentam elevada capacidade competitiva por água, luz e nutrientes. Estudos mostram que o rendimento da oleaginosa é afetado de forma crescente, conforme aumenta a densidade de plantas de milho tiguera na área. De acordo com Penckowski (2014), a presença de uma só planta de milho voluntário por m² provoca perdas de até 29,8% na produtividade da soja. Quando a população de milho aumentou para 16 plantas por m², as perdas no rendimento da soja foram muito significativas, atingindo 76,2%.
Outro fator crítico do milho voluntário é a fonte para a reprodução e sobrevivência da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), inseto vetor causadora do complexo de enfezamento, doença causada por molicutes, microrganismos semelhantes a bactérias. O enfezamento afeta o desenvolvimento, a nutrição e a fisiologia das plantas, causando sintomas como folhas amareladas e avermelhadas, redução do porte, espigas menores ou deformadas, problemas de colmo, acamamento e morte prematura da planta.
A cigarrinha possui enorme poder de multiplicação. Apenas uma fêmea da cigarrinha no milho voluntário pode colocar, em média, 500 ovos durante o seu ciclo de vida (Doenças em milho: insetos-vetores, molicutes e vírus, de Charles Martins de Oliveira e Elisabeth de Oliveira Sabato, publicado pela Embrapa em 2017). Considerando essa capacidade de oviposição (500 ovos por fêmea da cigarrinha), estudos da Corteva Agriscience demostraram que quando há presença de milho voluntario desde o início da germinação até a colheita, isto é, em média 4 meses o que corresponde o ciclo da oleaginosa, o número de insetos adultos que se multiplicam no milho tiguera pode chegar a 1,25 milhão/ha. Isso representa cerca de 200 cigarrinhas por planta de milho, em um universo de 60 mil plantas por hectare. Sendo assim, se o milho tiguera não for controlado na soja, há uma grande possibilidade de o cultivo do milho safrinha já iniciar com uma alta pressão de cigarrinha.
Uma outra pesquisa, realizada pelo time de Agronomia da Corteva em uma área de 6.699 hectares de soja na região Centro-Norte, na safra 2022/23, mostrou que 33,8% da área apresentou presença de milho voluntário, com média de 2.042 plantas de milho tiguera por hectare. Além disso, os dados mostraram que 71,4% das avaliações se enquadraram em nível alto de risco de enfezamentos.
É importante quebrar a chamada “ponte verde”, mantendo um período mínimo de 90 dias livre de milho voluntario, antecedendo o plantio do milho safrinha. Assim, fazendo com que o ciclo da cigarrinha seja quebrado e, consequentemente, diminuindo a quantidade de cigarrinhas e de patógenos causadores do enfezamento nos plantios subsequentes.
Uma vez que o milho tiguera é eliminado na cultura da soja, a cigarrinha passa a não ter o ambiente propício para se alimentar e se reproduzir. A recomendação é fazer o manejo já nos primeiros fluxos de emergência do milho tiguera e isso pode se iniciar, inclusive, na dessecação anterior ao plantio da nova safra de soja. As aplicações de herbicida também devem ser realizadas em uma frequência maior, sempre que necessário. Áreas de médio ou alto risco podem demandar uma ou mais aplicações adicionais de herbicida, sempre seguindo o rótulo do produto aplicado, como também as boas práticas agrícolas, para um controle mais eficiente e sustentável.
Sendo assim, o manejo do milho tiguera é um dos maiores desafios para o Brasil avançar em termos de produtividade e seguir sendo o maior produtor e exportador de soja do mundo, assim como o maior exportador de milho.
Por Josemar Foresti (na foto abaixo), engenheiro agrônomo, Corteva Agriscience
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