Métodos de combate à podridão radicular em soja
Combate à podridão radicular por fitóftora em soja registrou progressos importantes em métodos e alternativas para evitar o problema
Altas infestações de lagarta falsa-medideira, comum em lavouras de soja e algodão, têm sido detectadas em mamoneira e feijoeiro, em São Paulo. A presença de diferentes fases do ciclo biológico do inseto nas duas culturas indica que a praga está adaptada a colonizar as lavouras, exigindo maior atenção dos produtores.
Conhecida como lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens (Walker) (Lepidoptera: Noctuidae) é um inseto cuja distribuição geográfica abrange desde o norte dos EUA até o sul da América do Sul, estando mais restrito ao hemisfério ocidental. Referida anteriormente como Pseudoplusia includens, hoje considerada sinonímia, no Brasil ocorre desde o Rio Grande do Sul até Roraima.
Trata-se de um inseto polífago, tendo como hospedeiras 73 espécies vegetais, pertencentes a 29 famílias botânicas diferentes. Dentre as plantas de interesse econômico atacadas por esse inseto, destacam-se soja, algodoeiro, feijoeiro, fumo, girassol e hortaliças.
As lagartas de C. includens são de coloração verde-claro, com listras brancas longitudinais e pontuações pretas sobre o dorso. Passam por seis instares larvais e, quando alimentadas com partes da soja, completam a fase imatura ao redor de 15 dias. São facilmente diferenciadas das lagartas de outros noctuídeos, pela presença de três pares de falsas pernas na região abdominal, fazendo com que, ao se deslocarem, ocorra intenso movimento do corpo. Este comportamento, simulando medir palmos, motivou serem chamadas de ”medideiras” ou ”mede-palmo”. Na fase de pré-pupa há acentuada mudança de coloração, que passa para um verde-amarelado uniforme. A fase de pupa ocorre nas folhas, com as lagartas enrolando-se nessas estruturas e tecendo um fino casulo de seda. A cor da pupa varia do marrom ao verde, sendo que o período pupal dura de sete a nove dias até a emergência dos adultos. A longevidade dos adultos também é muito variável, podendo ser de dez a quase 20 dias. As fêmeas podem colocar cerca de 150 ovos a dois mil ovos, sendo que a grande maioria é depositada nas plantas até o sétimo dia. O número de gerações da falsa-medideira por safra varia conforme a gama de hospedeiros existentes e também em função da latitude. Nos Estados Unidos são geralmente registradas de três a quatro gerações ao ano. No entanto, para as condições brasileiras, onde hospedeiros potenciais estão disponíveis durante o ano todo, o número de gerações pode ser superior.
Quanto ao seu hábito alimentar, em soja e algodão as lagartas de C. includens se alimentam de folhas localizadas no terço inferior das plantas. Em seus primeiros instares, as lagartinhas selecionam as folhas mais tenras, se alimentando daquelas com pequena quantidade de fibra, tornando-se menos exigentes à medida que vão se desenvolvendo. Até o terceiro instar, as lagartas deixam intactas as regiões da epiderme. Entretanto, a partir do quarto instar, consomem grandes áreas, preferencialmente de folhas mais velhas, mantendo, porém, íntegras as nervuras principais, o que confere um aspecto rendilhado característico às folhas atacadas, diferente do dano causado por outros desfolhadores. Entre o quarto e sexto instares, as lagartas apresentam o maior potencial de danos para as lavouras, consumindo 95% de todo alimento necessário à fase imatura. Alguns estudos reportam que, do total de alimento ingerido na fase jovem, 50% é obtido nos dois últimos dias de desenvolvimento larval. Embora o inseto seja predominantemente desfolhador, ocasionalmente também pode se alimentar de estruturas reprodutivas. Essa espécie é favorecida por condições de seca, ou estiagens.
No Brasil, C. includens foi tratada por várias décadas como uma praga secundária para a cultura da soja, pois sempre infestava as lavouras dessa leguminosa em baixas populações. No entanto, a aplicação abusiva de fungicidas, associada ao uso de misturas de defensivos, tem reduzido a população de inimigos naturais deste inseto, favorecendo sua proliferação dentro das lavouras e a migração para outras culturas. Em feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris L.), a praga tem importância crescente em alguns estados como Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, em razão dos danos provocados nas últimas safras. Embora o Brasil seja o maior produtor mundial de grãos dessa leguminosa, com áreas de cultivo distribuídas de Norte a Sul, o ataque de insetos desfolhadores como C. includens pode comprometer a produtividade a campo, exigindo atenção dos produtores. No entanto, até o presente momento, não havia relatos desta praga ocasionando danos em mamoneira no Brasil. Neste país, a ascensão da mamoneira se deu pela elevada capacidade adaptativa da espécie e versatilidade do óleo extraído das sementes pela indústria ricinoquímica, impulsionado principalmente pelo advento do biodiesel na busca por fontes energéticas alternativas. Apesar de sua produção expressiva, a produtividade brasileira ainda é considerada baixa em relação a outros países, sendo tal deficiência, em parte, associada ao ataque de pragas. Nesta cultura, os registros de pragas desfolhadoras incluem diversas espécies de lagartas, mas nenhum deles faz referência a C. includens. Na literatura brasileira, as principais lagartas relacionadas em mamoneira são lagarta-rosca [Agrotis ipsilon (Hufnagel)], as lagartas-das-folhas Lophocampa citrina (Sepp.), Spodoptera cosmioides (Walk.), Rothschildia jacobaeae (Walk.), R. arethusa arethusa (Walk.), Oligocentria violascens Herrich-Schaffer e Anacraga citrinopsis Dyar, além da lagarta-dos-cachos Pyroderces riley (Wals.).
A partir de 2009, populações crescentes de C. includens vêm sendo verificadas em lavouras de feijão-comum, cultivar Pérola e mamoneira cultivar IAC-2028 localizadas em áreas de produção da Fazenda Experimental Lageado (22º51’S, 48º26’W 740 m), pertencente à FCA/Unesp de Botucatu (SP). Em feijoeiro, desfolhas próximas a 100% foram verificadas a campo, além do aspecto rendilhado (nervuras preservadas), similar ao que ocorre em plantas de soja. As folhas de mamoneira infestadas apresentavam dano típico e variável, com até 50% de desfolha em algumas plantas. Lagartas características, pupas e adultos foram observados em diversas estruturas das plantas das duas culturas.
Exemplares dos espécimes (lagartas e pupas) foram coletados em plantas de feijoeiro e mamoneira e conduzidos a laboratório (T = 25 ± 2ºC; U.R = 70 ± 10% e fotofase = 12h), onde foram mantidos até que ocorresse a emergência dos adultos, para confirmação da espécie.
Os níveis de desfolha verificados nas duas culturas são expressivos e podem comprometer o desempenho e os índices de produtividade nas próximas safras, indicando a necessidade de adoção de estratégias de controle. A presença das diferentes fases do ciclo biológico do inseto nas duas culturas indica que a praga está adaptada a colonizar as lavouras, exigindo maior atenção dos produtores.
Edson Luiz Lopes Baldin, FCA/Unesp; André Luiz Lourenção, IAC
Artigo publicado na edição 197 da Cultivar Grandes Culturas.
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