Aprenda a controlar a lagarta Helicoverpa armigera
O manejo do inseto exige muita atenção e medidas racionais, como alternar, nas aplicações, inseticidas com diferentes mecanismos de ação
Detectada recentemente no Brasil a mancha de mirotécio, causada por Myrothecium roridum, é uma doença agressiva, passível de ser confundida com outras de ocorrência mais freqüente em cafeeiro, como as manchas de Phoma e de Ascochyta. Embora não existam produtos específicos registrados no Brasil contra o fungo, triazóis e estrobilurinas de uso autorizado para a cultura têm apresentado bons resultados no combate.
A mancha de mirotécio do cafeeiro, causada pelo fungo Myrothecium roridum, foi constatada pela primeira vez na Índia, em 1955. Posteriormente, a doença foi relatada na Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Indonésia. No Brasil, a mancha de mirotécio foi observada pela primeira vez em 2003, em um viveiro de mudas de café Arábica (cultivares Catuaí 144, IAC Obatã, Iapar 59 e IAC Tupi) no estado do Rio de Janeiro. Apesar de sua ocorrência em cafeeiros no Brasil, a doença havia sido detectada em baixa incidência. Em 2013 e 2014, a doença foi detectada em viveiros de mudas de café Conilon (Coffea canephora) no Espírito Santo, atingindo cerca de 30% das mudas.
A mancha de mirotécio é caracterizada inicialmente por pequenas lesões circundadas por um halo amarelo, formato circular e coloração marrom, com centro branco-acinzentado em ambas as faces da folha. Ao se expandirem, as lesões formam anéis concêntricos e se tornam marrom-escuras, alcançando até 3cm de diâmetro. Nas lesões mais desenvolvidas, observam-se as estruturas reprodutivas do fungo, que são os esporodóquios superficiais, circundados por um micélio de coloração branca e encobertos por uma massa negra de esporos. Em condições favoráveis, as lesões coalescem e afetam grandes áreas do limbo foliar, ocasionando a perda da área foliar fotossinteticamente ativa. A ocorrência da doença leva ao retardamento do desenvolvimento da muda e à queda de suas folhas, tornando-as impróprias para o plantio.
As lesões iniciais podem ser confundidas com a mancha de olho pardo, devido ao seu formato e aspecto, enquanto as lesões mais velhas são confundidas com a mancha de Phoma e a mancha de Ascochyta. No entanto, a mancha de mirotécio expande-se rapidamente, possui formato regular nas bordas das folhas e atinge maior tamanho de lesão, o que a diferencia das demais doenças citadas.
No Brasil, foram descritos apenas os sintomas de manchas foliares causadas por esta doença. No entanto, sabe-se que outros sintomas como morte dos ponteiros, podridão do colo e necrose dos ramos também já foram relatados em outros países.
A mancha de mirotécio é mais frequente em condições de temperatura e umidade elevadas. Estas condições ambientais são requeridas para a doença, pois o patógeno pode ser disperso por água na forma de respingos de chuva, orvalho ou de irrigação, necessitando de longos períodos de molhamento foliar e temperaturas próximas a 28ºC para que ocorra a infecção. Estas condições favoráveis ocorrem na maioria das regiões de cultivo de café Conilon (estação das chuvas), nas lavouras de café Arábica localizadas no cerrado brasileiro e principalmente em viveiros de produção de mudas.
M. roridum é um fungo saprófita oportunista que ataca mais de 200 espécies de diferentes famílias botânicas. No Brasil, já foi relatado em abóbora, acerola, algodão, amendoim, arroz, berinjela, café, feijão, feijão caupi, girassol, melancia, melão, milho, pepino, pimenta, pimentão, soja, tomate, trigo e diversas plantas ornamentais e daninhas. Isso indica que estas plantas próximas a viveiros de mudas de cafeeiro podem servir de fonte de inóculo do patógeno.
Além da ampla gama de hospedeiros, esse patógeno pode sobreviver no solo e em restos culturais. Em alguns hospedeiros, o fungo sobrevive nas sementes. Embora ainda não seja encontrado em grãos de café, os produtores devem monitorar a doença no campo, pois o fungo produz micotoxinas que podem afetar a qualidade da bebida.
A doença foi detectada recentemente no Brasil e, por isso, informações sobre as medidas de controle ainda são escassas. Até o momento, faltam dados a respeito da resistência genética e não existem fungicidas registrados para essa doença. As principais medidas que vêm sendo implementadas nos viveiros são baseadas nas características do patógeno, manejo utilizado em outras culturas e observações feitas por produtores e pesquisadores. Estas medidas têm por objetivo evitar novas infecções e disseminação do patógeno, além de desfavorecer o desenvolvimento da doença.
O local de instalação do viveiro é um dos primeiros passos para o manejo da doença. Por isso, áreas sujeitas à alta umidade devem ser evitadas e recomenda-se dar preferência a áreas que não possuem plantas hospedeiras do fungo.
Nutrição adequada se faz necessária, uma vez que a doença pode ser mais severa em plantas sob estresse, sobretudo o nutricional. Neste sentido, deve-se tomar cuidado com a qualidade do substrato utilizado para plantio das mudas.
É importante evitar o molhamento foliar, uma vez que a água na forma de respingos contribui para a disseminação e infecção do patógeno.
Embora não existam fungicidas registrados no Brasil, sabe-se que alguns produtos utilizados para o controle de doenças do cafeeiro são efetivos para a mancha de mirotécio. Em observações prévias, tem sido verificada a redução da doença em áreas que receberam a aplicação de fungicidas do grupo dos triazóis e das estrobilurinas.
A convivência de produtores com a doença já vem ocorrendo no campo e em viveiros. No entanto, é necessário um maior entendimento da doença na cultura do cafeeiro, para que cada vez mais medidas de manejo possam ser implementadas, com o objetivo dereduzir os danos.
Danilo Batista Pinho, Athus Diego de Azevedo Silva, Olinto Liparini Pereira, Universidade Federal de Viçosa; Hélcio Costa, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural; Ueder Pedro Lopes, Universidade Federal Rural do Pernambuco
Artigo publicado em dezembro de 2014, na edição 187 da Cultivar Grandes Culturas.
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