Cancro com dias contados

Pesquisadores do IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) desenvolveram as primeiras laranjas transgênicas nacionais, o que pode representar o fim do cancro cítrico (Xanthomonas axonopodis pv. citri) nos pomares nacionais.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Grupo de pesquisadores do IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) desenvolveram as primeiras laranjas transgênicas nacionais. A variedade comercial de laranja-pêra foi transformada com um gene que tem atividade antibacteriana (chamado de sarcotoxina) que pode aumentar a resistência ao cancro cítrico.

O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, sendo responsável por metade da produção mundial de suco concentrado, que é um dos nossos principais produtos de exportação. O volume movimentado no país pelo agronegócio citrícola supera R$ 5 bilhões por ano, com a geração de cerca de 400 mil empregos diretos.

A citricultura apresenta vários problemas fitossanitários entre os quais se destacam o cancro cítrico e o CVC (amarelinho), doenças provocadas por bactérias. A forma mais econômica para controlar esses problemas seria o desenvolvimento de variedades resistentes. Entretanto o melhoramento convencional da laranjeira não tem alcançado sucesso devido principalmente ao seu longo período juvenil (tempo em que as plantas ainda não começaram a florescer) e a problemas de incompatibilidade entre certos genótipos.

Frente a esses problemas, a transformação genética da laranjeira se mostra como uma estratégia de melhoramento muito promissora, podendo ser utilizada para a introdução de novas características em variedades elite.

Transformação de Laranja

As primeiras laranjas transgênicas nacionais foram obtidas no Laboratório de Biotecnologia (LBI) do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Assim o Brasil se junta a um seleto grupo de laboratórios (dois nos EUA, um na Espanha e um no México) que detêm a tecnologia para transformação genética de laranja.

A laranja-pêra, principal variedade de laranja usada na produção de suco no Brasil, foi transformada com o gene da sarcotoxina, que codifica uma pequena proteína (peptídeo) com atividade antibacteriana.

A metodologia de transformação de laranja desenvolvida usou a Agrobacterium (uma bactéria do solo) como vetor para inserção do gene da sarcotoxina. Um importante aspecto da metodologia é a utilização de material vegetal maduro para a transformação, o que vai reduzir em pelo menos cinco anos o início de produção e avaliação das laranjas transgênicas. Além disso, o método é muito eficiente, sendo que 15% das plantas regeneradas são transformadas. As laranjas transgênicas estão atualmente sendo cultivadas e testadas em casa de vegetação para selecionar aquelas que produzem mais sarcotoxina.

Cancro cítrico

O principal objetivo da transformação de laranja com o gene da sarcotoxina é o aumento da resistência ao cancro cítrico. O cancro é uma doença causada pela bactéria

pv. citri e tem provocado grandes prejuízos para a citricultura nacional. Essa doença afeta toda a parte aérea da planta, causando lesões em frutos, folhas e ramos. Os frutos ficam depreciados e caem precocemente, reduzindo a produção da planta. Somente no ano de 1999 foram gastos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais cerca de R$ 33 milhões na erradicação de pomares infectados com o cancro.

O gene da sarcotoxina foi cedido ao IAPAR em um convênio científico com o Instituto Nacional de Recursos Agrobiológicos (NIAR) do Japão. Em testes preliminares, a sarcotoxina se mostrou bastante eficiente na inibição do crescimento da bactéria do cancro. As laranjeiras transgênicas estão sendo analisadas para se saber se a expressão desse gene na planta vai impedir o desenvolvimento do cancro.

Essa linha de pesquisa foi considerada pelo grupo de Consultoria Técnica em Cancro Cítrico (Flórida, EUA, junho de 2000) como altamente prioritária devido ao seu potencial de impacto e probabilidade de sucesso no controle da doença.

Perspectivas para a laranja

O projeto para o desenvolvimento da laranja transgênica foi iniciado em 1998 e foi financiado pelo CNPq, através do programa RHAE, e por recursos do próprio IAPAR. As pesquisas têm sido realizadas de acordo com as normas estabelecidas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Isso significa que todos os testes necessários para se conhecer o efeito da introdução do gene nas plantas, na segurança alimentar e o seu impacto no ambiente serão feitos antes que essa tecnologia possa ser utilizada. Por isso serão necessários pelo menos dez anos antes que essas laranjas estejam disponíveis comercialmente.

Com o domínio da tecnologia para transformação de laranja, é possível inserir novos genes que podem contribuir para minimizar outros problemas da citricultura tais como o ataque de pragas e a resistência à seca.

João Carlos Bespalhok Filho, Adilson Kenji Kobayashi e Luiz Gonzaga Esteves Vieira

IAPAR

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