Bergamota atacada por vírus

As bergamoteiras atacadas por vírus apresentam sérias injúrias e perdem o seu potencial produtivo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A convite da Secretaria de Agricultura de Caxias do Sul, visitamos um pomar de bergamotas no distrito de Vila Cristina. O produtor vinha observando que as plantas definhavam lentamente. Das 2000 mudas plantadas, adquiridas através da Subprefeitura, de algum viveirista da região, já foram arrancadas e replantadas mais de 200, 2-3 anos após o plantio.

As bergamoteiras doentes estavam ananicadas, a folhagem era muito esparsa e as folhas eram pequenas. Plantas de 4 anos de idade não aparentavam mais que 2 anos. Analisando o porta-enxerto dessas plantas,

, constatou-se depressões irregulares e elevações tipo bolhas, na casca, que uma vez removida, revelou depressões arredondas ou alongadas (canaletas) curtas, de alguns milímetros até cerca de 1 cm de comprimento, e bolhas, de maior ou menor relevo. Foi observado, também, depressões pontuais, na união de enxertia e espalhadas pelo porta-enxerto, algumas das quais têm depósito de goma marrom. Essas cavidades correspondiam a saliências ou protuberâncias da casca. Um crescimento desuniforme na união de enxertia conferia um aspecto de joelho e o tronco da copa era liso, porém, mais fino e bem menos desenvolvido que nas plantas sadias

Entre os viróides, disseminados em todas as regiões citrícolas do mundo, o viróide da exocorte e os viróides do grupo CV (viróides de citrus) I a IV poderiam ser responsáveis por estes sintomas. O envolvimento do viróide da xiloporose é menos provável, devido à reação das bergamoteiras no porta-enxerto

, geralmente tolerante à xiloporose.

A exocorte afeta, principalmente, as cidras, os limões, as limas, o

e seus híbridos (Citranges, híbridos de laranjas doces com

. A depender da virulência do isolado, o viróide pode causar descascamento longitudinal e o engrossamento do enxerto. O tempo até o início do descacscamento varia segundo o isolado, e é mais intenso em climas quentes, e pode não ocorrer com isolados fracos. Plantas afetadas declinam.

A reação de plantas cítricas à xiloporose vai de caneluras ( canaletas ou depressões alongadas na madeira) fracas até o descascamento, desorganização do tecido lenhoso e impregnação de goma, esta visível quando se remove superficialmente a casca do tecido sensível. Plantas afetadas declinam gradualmente, as folhas são pequenas e amareladas com sintomas secundários de deficiência mineral pela má circulação da seiva do porta-enxerto para a copa. A xiloporose, importante nos países do mediterrâneo, ocorreu em nosso meio em laranja-doce sobre porta-enxerto de lima da Pérsia ou limão cravo (sensíveis), e nas tangerinas Mexerica do Rio e Dancy. Em geral, são afetadas pela xiloporose as limas doces e as limas ácidas, tangerinas, tangelos (híbridos de tangerina e pomelos – grapefruit) , e tangores (híbridos de tangerina com laranjas).

Entre os viróides de citros dos grupos de I a IV, neste contexto, têm importância o grupo II a, que produz leves rachaduras em P. trifoliata e o grupo III, associado à doença do “Bolso de Goma” do P. trifoliata que ocorre na África do Sul, embora aqui não se tenha observado nas bergamoteiras a acumulação de goma, típica dessa disfunção.

Não se conhecem vetores (insetos ou organismos de solo) que disseminam esses viróides. Os viróides de citros são geralmente transmissíveis por via mecânica. A infecção indesejada pode ser evitada tratando-se as ferramentas em hipoclorito de sódio (Q-Boa) a 1%. A forma de transmissão mais eficiente, na prática, entre espécies cítricas é a enxertia. Isto é, o citricultor e os viveiristas são os seus mais eficientes disseminadores.

No Brasil, essas doenças foram eliminadas com êxito por programas de limpeza clonal no Estado de São Paulo nos anos 60 e 70 e, mais recentemente, pelo trabalho da Embrapa na Bahia. As borbulheiras originadas de clones velhos, entretanto, ainda estão infectadas, como as utilizadas pelo viveirista neste caso.

O diagnóstico dos sintomas nas bergamoteiras, portanto, não pode ser conclusivo: 1. A xiloporose pode ser descartada com agente causal uma vez que P. trifoliata é considerado hospedeiro tolerante e assintomático de xiloporose e não deveria apresentar as caneluras e deformações de madeira aqui observadas; 2. A exocorte geralmente induz descascamento de P. trifoliata, o que aqui não ocorre. Os sintomas observados são atípicos para o que se conhece dod viróides já mencionados. Embora o desenvolvimento de um viróide conhecido seja provável, “é admissível estarmos diante de uma doença nova, causada por viróide, ainda não relatada”, foi a afirmação de Chester Roistacher, reconhecido patologista de citros da Universidade da Califórnia em Riverside, diante das fotos dos sintomas aqui descritos. Finalmente, resta-nos, além da hipótese da associação do quadro de sintomas observados a uma nova doença, não excluir a possibilidade de uma incompatibilidade fisiológica entre copa e porta-enxerto. O diagnóstico inequívoco de viróides requer, a indexagem biológica, eletroforese seqüencial e o teste molecular de PCR.

Programas regionais, de simples execução, para seleção e/ou produção de matrizes sadias, livres dos viróides de citros dos grupos I-IV, exocorte e xiloporose, podem ser implementados utilizando-se da estrutura existente de centros de pesquisa federais e estaduais indexando-se as borbulheiras de viveiristas registrados.

A indexagem de exocorte é feita enxertando-se borbulhas da planta a ser testada em cidra Etrog Arizona 861 em casa de vegetação. Em até 5 meses as folhas da brotação dessa indicadora reagem com uma típica epinastia ( a folha se enrola para baixo, formando um canudo). Outras reações incluem necrose e rachadura da nervura central e enrugamento das folhas, nanismo, menchas e rachaduras no caule. A indexagem rápida, desenvolvida por Sylvio Moreira, IAC, São Paulo, no início dos anos 50, serve-se da enxertia de ramos de limão Cravo (indicadora) em plantas de pomar ou borbulheiras a serem avaliadas. Cerca de 3-4 meses após a enxertia os ramos desenvolvem manchas amarelas e posteriormente rachaduras da casca do caule do limão Cravo.

A xiloporose é indexada no híbrido tangelo Orlando que reage à inoculação com uma típica impregnação de goma já mencionada. Este sintoma representa um meio confiável de diagnóstico precoce e aparece antes de qualquer descascamento ou rachadura da casca. Na Parson’s Special a xiloporose induz impregnação de goma próxima à união de enxertia ou em toda a indicadora, no caso de isolados mais virulentos.

Os próprios viveiristas podem indexar matrizes, inclusive as enxertadas em porta-enxertos tolerante e as de pé franco, portadoras de infecções latentes. Deve-se manter um registro de matrizes, com origem, especificação da copa e do porta-enxerto, data e resultado da última indexagem. O agricultor deve escolher criteriosamente seu fornecedor de mudas. Deve-se evitar comprar mudas de “viveiristas ambulantes”, montados em caminhões que cruzam o país, com mudas de origem e sanidade duvidosas. As Secretarias de Agricultura dos municípios podem contribuir para evitar essas perdas, assessorando o viveirista na escolha do material propagativo de sanidade e origem comprovadas e incentivando a prática da indexagem com a distribuição de indicadoras.

Osmar Nickel

Embrapa Uva e Vinho

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