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A rotação de culturas é uma importante medida no manejo integrado de doenças, sobretudo no sistema plantio direto. Esta técnica consiste em alternar diferentes espécies vegetais em uma mesma área agrícola por, pelo menos, um ano. Além de auxiliar a preservar o solo, favorecendo o incremento da produtividade das culturas, quanto ao controle de doenças, a rotação evita a proximidade entre os propágulos de patógenos, agentes causais de doenças, presentes nos restos culturais do solo, e as espécies vegetais hospedeiras, reduzindo, deste modo, as chances de inoculação das plantas pelos patógenos que sobrevivem nestes resíduos. Ao mesmo tempo, com menor possibilidade de atingir as plantas hospedeiras, os patógenos vão gradativamente perdendo a viabilidade durante a decomposição destes restos culturais.
O agricultor, muitas vezes, encontra dificuldade em implantar a rotação, optando por uma determinada cultura em função da previsão de melhores oportunidades de comercialização do produto final naquele ano agrícola. Desta forma, na maioria das regiões produtoras de milho safrinha, predomina o cultivo contínuo de soja no verão e milho safrinha no outono-inverno, há mais de uma década, sendo o milho a única cultura utilizada no verão para sucessão com a soja, ou seja, em alguns anos ocorre também a semeadura do milho no verão antecedido ou seguido de milho safrinha.
A eficácia da rotação de culturas, usada integradamente com as outras medidas de controle, tem sido claramente demonstrada para a redução da severidade de doenças em outras culturas, como, por exemplo, os cereais de inverno. Porém, sua potencialidade de uso em milho no Brasil ainda não tem sido devidamente quantificada, conforme ressaltam Reis et al (Manual de Diagnose e Controle de Doenças do Milho, 2004).
Em outros países, a redução da severidade da mancha de Cercospora, sob rotação, foi constatada por vários autores, embora não tenham avaliado o efeito na produtividade do milho (Nazareno et al, Pl. Disease, v.77, n.1, p.67, 1993; Ringer & Grybauskas, Pl. Disease, v.79, n.1, p.24, 1995). Na África do Sul, Smit & Flett (South Afr. J. of Pl. and Soil, v.17, n.3, p.143, 2000) concluíram que a alternância da cultura de milho com soja não é efetiva para controlar a cercosporiose sob condições epidêmicas. Estes autores, todavia, estudaram sucessão e não rotação de culturas.
Efeito da rotação de culturas sobre o milho
Com o objetivo de quantificar o efeito desta prática cultural no controle das doenças foliares de ocorrência natural e na produtividade do milho foram realizados experimentos de campo durante três cultivos sucessivos, safra 2010/11, safrinha 2011 e safra de verão 2011/12, em dois ambientes de produção no estado de São Paulo: Palmital (altitude de 508m) e Capão Bonito (altitude de 705m).
Os tratamentos incluíram as culturas de soja e milho, na safra de verão, e de trigo e milho safrinha, na safra de outono-inverno. Utilizou-se o sistema de plantio direto na palha e o híbrido de milho 2B710 Hx. A severidade das doenças de ocorrência natural no milho foi estimada com auxílio da escala diagramática Agroceres, através de notas de 1 a 9, correspondendo a 0; 1; 2,5; 5; 10; 25; 50; 75 e mais de 75% de área foliar afetada. Quando se realizaram avaliações sequenciais da mesma doença no experimento, foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para representar a severidade daquela doença.
Em Capão Bonito, onde foram observados sintomas de deficiência de nitrogênio nas folhas inferiores das plantas de milho, foi realizada a contagem do número de folhas com os referidos sintomas, em dez plantas por parcela.
Benefícios no manejo
Durante a safrinha 2011, em Palmital, onde predominou ambiente com pouca umidade, foi possível observar as manchas de Bipolaris (Bipolaris maydis) e de Cercospora (Cercospora spp.), em pequena severidade, nas folhas do baixeiro do milho, próximas ao solo, quando as plantas se apresentavam no início do estádio de grãos leitosos, sendo a severidade das doenças menor no milho em sucessão à soja que após o milho (Figura 1).
Figura 1 - Severidade das manchas de Bipolaris maydis e de Cercospora no milho, após alternância com diferentes culturas, em Palmital durante a safrinha 2011
Estas doenças foram, provavelmente, causadas a partir de inóculo do patógeno oriundo dos restos culturais do milho da safra anterior, presentes na superfície do solo das parcelas sob monocultura do milho. Em Capão Bonito, o milho safrinha 2011 foi destruído por geadas antes da quantificação de doenças.
Na safra de verão 2011/12, em Palmital, o clima foi bastante seco, desfavorecendo o desenvolvimento de epidemias de doenças. Apenas quando já se apresentavam no estádio de grãos farináceos a duros, após a ocorrência de curto período de chuvas, foi possível verificar no milho, após trigo, severidade menor das manchas de Bipolaris e de Cercospora que em monocultura. Nas parcelas que permaneceram sem cultivo do milho durante as duas safras anteriores, isto é, com rotação por um ano agrícola (soja-trigo-milho), houve ausência das doenças (Figura 2).
Figura 2 - Severidade das manchas de Bipolaris maydis e de Cercospora no milho, após alternância com diferentes culturas, em Palmital, durante a safra de verão 2011/12
No terceiro cultivo em Capão Bonito, safra de verão 2011/12, onde predominou o clima chuvoso, ocorreu, no milho, a mancha de Cercospora. Provavelmente pelo ambiente propício, com chuvas intensas e constantes, proporcionando umidade elevada, o desenvolvimento desta doença teve alta severidade, sobretudo nas parcelas em sucessão ao milho da safrinha 2011. Os resultados das avaliações da cercosporiose no milho, quando as plantas se apresentavam no estádio de enchimento de grãos e quando atingiram o estádio de grãos pastosos, estão representados pela área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) na Figura 3.
Figura 3 - Severidade da mancha de Cercospora e incidência de folhas com sintomas de deficiência de nitrogênio no milho, após alternância com diferentes culturas, em Capão Bonito, durante a safra de verão 2011/12
Houve grande redução da severidade da mancha de Cercospora no milho, neste local, durante o terceiro cultivo, causado pelo plantio anterior (safrinha 2011) do trigo, em comparação ao do milho, de forma semelhante ao ocorrido em Palmital (Figura 3). Por outro lado, a doença foi mais severa neste terceiro cultivo quando o primeiro (safra 2010/11) foi soja e não milho. Buscando explicar a causa deste resultado, observou-se, também, que ocorreram sintomas foliares de deficiência de nitrogênio no milho, que foram mais acentuados nas parcelas em que, inversamente, o primeiro plantio foi milho e não soja (Figura 3). Sabe-se que o nitrogênio pode favorecer o desenvolvimento da cercosporiose, entre outras doenças, conforme já constatado por Caldwell et al (Pl. Disease, v.86, n.8, p.859, 2002) e Okori et al (Eur. J. of Pl. Pathology, v.110, n.2, p.119, 2004).
Provavelmente, as chuvas intensas ocorridas em Capão Bonito, no terceiro cultivo, favoreceram a lixiviação do nitrogênio, e o maior nível deste elemento, nas parcelas em rotação com soja, pode ser explicado pela presença do nitrogênio residual, fixado pelo cultivo da soja, em seus restos culturais, conforme citam Mascarenhas et al (Nucleus, v.8, n.2, p.15, 2011). Nas parcelas após trigo e milho, ao contrário, deve ter havido imobilização do nitrogênio durante a decomposição das palhas destas culturas, que são resíduos vegetais lignificados, segundo referência de Franchini et al (Informações econômicas, n.134, 2011).
Incremento na produtividade
A produtividade na safra de verão 2011/12 em Palmital foi baixa devido à seca, não ocorrendo diferenças significativas entre os tratamentos.
Já em Capão Bonito, sob ambiente chuvoso, observou-se nitidamente a influência da interação de dois fatores, causados pelas safras anteriores, na produtividade do milho na terceira safra: oferta de nitrogênio às plantas e severidade da cercosporiose. A produtividade foi maior nas parcelas em que o primeiro cultivo foi soja e não milho, com tendência de maiores médias onde foi feita, verdadeiramente, a rotação de culturas (soja-trigo-milho) (Figura 4).
Embora o cultivo da soja, no primeiro plantio, também tenha proporcionado aumento da severidade da cercosporiose no terceiro, tanto com milho como com trigo na safrinha 2011; quando se utilizou a rotação soja-trigo-milho, houve interação dos efeitos principais de menor carência de nitrogênio, conferido pela soja, e de menor severidade da doença, acarretado pelo trigo, proporcionando os melhores resultados de produtividade na safra 2011/12.
Clique aqui para ler o artigo na Revista Cultivar Grandes Culturas, edição 175.
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