Bandejas sob medida

Estudo avalia a relação entre número de células, volume de substrato e o resultado final da produção de mudas de alface. Melhor desempenho foi obtido a partir do uso de modelos menores, em isopor

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A produção de mudas em bandejas vem sendo preferida pelos olericultores de elevado nível tecnológico, certamente por ser superior aos demais sistemas. Observa-se que, por suas vantagens de ordem agronômica e econômica, esse sistema de produção de mudas tende a substituir os demais.

O sistema de bandejas proporciona maior cuidado na fase de germinação e emergência, fazendo com que, muitas vezes, uma semente origine uma planta, além de proporcionar menor custo no controle de pragas e doenças e alto índice de pegamento após o transplante. Outras vantagens importantes deste método são a economia de substrato e a melhor utilização da área de viveiro (racionalização do uso do espaço e do tempo).

No mercado há diversos modelos de bandejas com diferentes números de células individuais (72, 128, 200 e 288); profundidades e volumes diversos. Além disso, os formatos são variáveis, podendo ser redondos, piramidais ou cilíndricos. Há predominância de dois modelos de bandeja, ambos medindo 68 x 34 cm. O modelo “alface” (para plantas asteráceas) apresenta 288 células, menores e com 47 mm de profundidade.

Suspensas, as bandejas facilitam as práticas culturais. As bandejas são colocadas sobre suportes de alumínio ou arame fixados nos cavaletes de madeira, obtendo-se algo como um “canteiro suspenso”. O ideal é a superfície das bandejas situar-se a uma altura de 30 a 50 cm facilitando as operações. As bandejas são leves, mas têm certa resistência, podendo ser reutilizadas mais de 20 vezes se manuseadas com cuidado.

As células nas bandejas apresentam o formato de tronco de pirâmide invertido, com abertura na parte inferior. Propiciam o direcionamento das raízes e impedem o seu enovelamento - defeito comum em outros sistemas de semeadura. Sem o enovelamento das raízes, as mudas transplantadas para o campo retomarão o desenvolvimento com maior rapidez, o que reduz o ciclo da cultura.

A utilização de bandejas para a formação de mudas favorece a “poda pelo ar” que ocorre quando a raiz principal atinge o fundo das células e cessa o crescimento, havendo estímulo para a emissão de raízes secundárias. Proporciona-se, assim, um equilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular. Este equilíbrio entre as duas partes torna-se bastante vantajoso, já que em uma planta jovem que está se estabelecendo, a superfície total do sistema radicular geralmente é bem maior do que a superfície foliar fotossintetizante. É sabido que esta relação tende a equilibrar-se à medida que a planta cresce.

A prática de produção de mudas em bandejas de isopor gerou a necessidade de obter-se substratos adequados ao bom desenvolvimento e formação das mudas. Surgiram daí diversas marcas comerciais com diferentes características químicas, físicas e biológicas, bem como produtos alternativos obtidos na propriedade rural e com potencial de uso como substrato agrícola.

O tipo de substrato utilizado também apresenta relação direta com a produção de mudas de boa qualidade, exercendo influência marcante na arquitetura do sistema radicular e no estado nutricional das plantas. O substrato, além de apresentar ótimas propriedades físicas e teores adequados de nutrientes, facilita a retirada das mudas em ponto de transplante com torrão.

O problema agronômico original da produção de mudas em recipientes é o de assegurar o crescimento e a produção de biomassa aérea com um volume limitado de solo/substrato. Assim, quanto menor for o espaço disponível às raízes, mais difícil será o suprimento de fatores de produção que garantam o crescimento otimizado e desenvolvimento normal da muda.

Portanto, o tamanho da célula na bandeja afeta diretamente o volume de substrato disponível para o desenvolvimento das raízes, resultando em um menor tempo para o transplante.

Na prática, entre os produtores de alface americana, têm-se observado uma preferência por bandejas de 200 células, embora, existam produtores que utilizam as de 128 ou 288 células, utilizando-as sem base científica.

Apesar do produtor ter a opção de escolher o tipo de bandeja na qual irá formar as suas mudas, existe um consenso entre os técnicos e especialistas de que as bandejas com um menor número de células proporcionam a obtenção de mudas de qualidade superior.

Trabalhos recentes encontrados na literatura especializada trazem os resultados da comparação de diferentes tipos de bandeja (com número, volume e altura das células variáveis) em relação à produção de mudas.

O melhor resultado apresentado pelas bandejas com menor número de células independe do tipo de substrato utilizado. O que ocorre é que um maior volume de substrato envolvendo o sistema radicular torna mais fácil o suprimento de fatores ótimos de produção para o crescimento e desenvolvimento das mudas.

Torna-se claro que um menor volume de terra exerce grande influência no comportamento das plantas, afetando-lhes a arquitetura, o desenvolvimento, o peso, a qualidade e, consequentemente, a produção.

Na bandeja com 128 células, o maior volume de terra disponível para a formação da muda resulta em maior massa fresca e seca, maior número de folhas e maior altura de plantas, o que sugere que as mudas com um bom desenvolvimento inicial poderão ser transplantadas em um menor espaço de tempo. Existe uma preferência para períodos menores de 22 a 30 dias para o transplante das mudas para o campo, em função do menor tempo de permanência na estufa e menor custo. Quando utiliza-se bandejas com 288 células, as mudas são transplantadas mais tardiamente.

Silva et al. (2000), avaliaram o efeito de dois tipos de bandejas (128 e 72 células) sobre a produção de mudas de alface cultivar Regina. Os autores afirmam que o menor tempo para o transplante e a maior área foliar são obtidos na bandeja com número reduzido de células, sendo ainda verificado que os diferentes substratos testados produzem mudas de melhor qualidade neste tipo de bandeja.

Em um estudo recente realizado na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), foram avaliados os efeitos de três tipos de bandejas de isopor sobre a produção de mudas de alface cultivar Vera, e o posterior desempenho das plantas no campo. Concluiu-se que as melhores mudas foram produzidas nas bandejas com células de maior volume (128 células). Nas plantas adultas, já transplantadas para o canteiro definitivo no campo, observou-se que aquelas provenientes das bandejas de 128 e 200 células não apresentaram diferenças entre si, com relação ao desempenho de campo. Já as mudas provenientes da bandeja de 288 células, que tiveram um menor volume de substrato disponível para o desenvolvimento do sistema radicular, apresentaram qualidade inferior e um pior desempenho da produção de campo.

O preço da bandeja e dos substratos são considerados no custo de produção da cultura. O preço da bandeja, independentemente do tipo, gira em torno de R$ 5,00. A quantidade de substrato a ser utilizada (em média 2,5 Kg por bandeja) também independe do número de células na bandeja.

Desta forma, quando são computados os custos da bandeja e do substrato, a economia no custo de produção das mudas deve ser obtida em função do tipo de substrato a ser utilizado (comercial ou produzido na propriedade).

Por outro lado o questionamento sobre o custo de produção para cada tipo de bandeja pode ser baseado no fato de que as bandejas com um maior número de células possibilitam a obtenção de um maior número de mudas. De fato, quando compara-se o custo de produção de mudas isoladamente, as bandejas de 288 células são mais vantajosas. O que ocorre, porém, é que as mudas originadas por este tipo de bandeja são de pior qualidade, e proporcionam piores plantas adultas, havendo prejuízos na produção final.

Os resultados apresentados por Resende et al. (2003), numa avaliação sobre o efeito de tipos de bandeja e idade de transplantio das mudas sobre o desenvolvimento e a produção da alface americana, corroboram este fato. Os autores afirmam que, economicamente, a bandeja com 288 células proporciona o menor custo das mudas por hectare (R$ 139,50), seguida pelas bandejas de 200 células (R$ 212,23) e 128 células (R$ 505,93). No entanto, a bandeja com 288 células não resulta em um maior retorno ao produtor em termos de produtividade comercial, já que o peso comercial da planta produzida na bandeja de 128 células é maior (500,1 g.planta), contra pesos de 452,2 e 421,9 g.planta para as bandejas de 200 e 288 células, respectivamente.

De uma maneira geral, este melhor desempenho das bandejas com maior volume celular também repetiu-se na avaliação da produção de mudas de outras culturas, tais como maracujá (Oliveira et al., 1993), cebola (Cardoso & Costa, 1999) e quiabo (Modolo & Tessariole Neto, 1999).

Finalmente, para a produção de mudas de alface recomenda-se o uso da bandeja de isopor de 128 células, a qual permite a obtenção das melhores plantas adultas, com as vantagens já anteriormente citadas.

A produção de mudas de hortaliças constitui-se numa das etapas mais importantes do sistema produtivo. Dela depende o desempenho final das plantas nos canteiros de produção, tanto do ponto de vista nutricional, quanto do tempo necessário para a colheita e, consequentemente, do número de ciclos possíveis por ano.

A semeadura indireta para a produção de mudas e posterior transplante para a lavoura definitiva é o método de propagação mais empregado para a maioria das espécies de hortaliças. A modernização deste sistema somente teve início em 1985, com a adoção do procedimento de bandejas de isopor (poliestireno expandido) multicelulares.

Unoeste

Esalq/USP

Unoeste

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