Armadilha ao furão

Iscas com feromônio ajudam a controlar o bicho-furão-dos-citros (Ecdytolopha aurantiana).

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O bicho-furão dos citros, cientificamente conhecido como

, é uma mariposa marrom, mimética com a casca dos ramos dos pés de laranja e que coloca os ovos em frutos maduros, nas infestações menores, e em frutos verdes e maduros em altas infestações. Tais ovos darão origem a lagartas que, em média, 4 horas após a eclosão, penetram nos frutos, provocando seu apodrecimento e queda, inutilizando-os para a indústria e comércio.

Estima-se que para o estado de São Paulo, maior produtor de Citrus no Brasil, esta praga cause perdas da ordem de 50 milhões de dólares anuais, chegando, em altas infestações, a provocar perdas de 0,5 a 1,5 caixa de frutos por árvore atacada.

O ciclo desta praga é de 32 a 60 dias, dependendo da temperatura, sendo que grande parte da pupação ocorre no solo.

Muitos agricultores confundem o ataque de bicho-furão com o de moscas-das-frutas. Tal diferenciação é muito simples. No caso do bicho-furão ficam, externamente, secreções duras, decorrentes de excrementos e restos de alimento das lagartas. No caso das moscas-das-frutas, o local lesionado fica mole e apodrecido .

A praga é mais importante de novembro a março para o estado de São Paulo.

Fatores que afetam o nível populacional

A partir do final da década de 80, a praga aumentou sua importância, principalmente devido a desequilíbrios biológicos, resultantes da aplicação incorreta de produtos químicos para controlar outras pragas. Outro fator que contribui para o aumento da população do bicho-furão tem sido a oscilação de preços da laranja, pois nos anos de preços menores, o agricultor não realiza pulverizações ou mesmo deixa os pomares sem colher, o que contribui para o aumento da população da praga.

Na metade da década de 90, devido à importância assumida pela praga, e, devido ao desconhecimento da sua bioecologia para controlá-la racionalmente, o Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ, começou a estudá-la nos seus diferentes aspectos.

Após tais estudos, chegou-se à conclusão de que a praga é afetada, principalmente, pelos seguintes fatores:

• Temperatura: o inseto é mais importante em locais mais quentes, por ter o seu ciclo biológico encurtado. Em São Paulo pode dar de 7,1 (Limeira) a 8,3 gerações por ano (Barretos).

• Umidade Relativa do Ar: os insetos vivem mais e colocam mais ovos em umidades mais elevadas.

• Umidade do Solo: os adultos emergem em maior quantidade de pupas mantidas em solos com umidades intermediárias. Solos encharcados (principalmente) e muito seco dificultam a emergência.

• Inseticidas x Inimigos Naturais: os inseticidas podem matar os inimigos naturais, principalmente o parasitóide larval Hymenochaonia sp.

• Variedade e Estágio de Maturação: Existem variedades como a Natal, Pêra e Hamlin, que são as mais atacadas pela praga. Em frutos maduros, há um encurtamento do ciclo da praga e menor mortalidade.

Comportamento da praga na planta

De um modo geral, o ataque da praga começa nas proximidades de matas, sendo que, na planta, tem preferência por atacar frutos localizados a uma altura de 1 a 2 metros do solo. Provavelmente, a fêmea, que coloca cerca de 200 ovos, marca o local da postura, pois é comum encontrar-se apenas 1 ovo por fruto. Os adultos do bicho-furão dificilmente são vistos durante o dia, pois ficam em repouso no interior da planta e sua coloração faz com que sejam confundidos com a casca da planta. No crepúsculo, dá-se o acasalamento, que sempre ocorre na parte alta da planta independente da idade ou altura dela. Neste mesmo horário, as fêmeas colocam os ovos.

Amostragem da praga

Depois de todos os estudos, chegou-se a conclusão de que a melhor forma de amostrar a praga é através de adultos.

Assim, em pesquisa conjunta envolvendo ESALQ/USP, UFV, Fuji Flavor e o National Institute of Sericultural and Entomology em Tsukuba, no Japão, com o suporte financeiro do Fundecitrus, iniciaram-se os estudos visando à obtenção do feromônio sexual do bicho-furão.

“O feromônio sexual é uma substância química produzida pelas fêmeas e que atrai os machos para o acasalamento”. Cada espécie tem seu próprio e exclusivo feromônio sexual.

No presente trabalho, tal estudo foi facilitado por ter sido desenvolvida uma dieta artificial para o bicho-furão, o que possibilita o estudo contínuo da praga em laboratório. Descoberto o feromônio sexual, ele foi sintetizado pela Fuji Flavor Company do Japão. Após o seu registro, no Ministério da Agricultura, obtido em agosto de 2001, o produto está sendo comercializado pela Coopercitrus com o nome de Ferocitrus Furão.

O produto comercial é composto de uma pastilha que contém o feromônio sexual do bicho-furão e uma armadilha (tipo delta) com paredes contendo cola para prender os insetos. A montagem da armadilha é muito simples e, no monitoramento, deve ser registrado, em fichas, o número de adultos coletado semanalmente.

Existem 5 etapas para utilização desta armadilha:

1. Instalar a armadilha no terço superior da planta;

2. Contagem semanal de insetos (removendo-os da armadilha). O momento para iniciar o controle (nível de controle) é de 6 ou mais machos/semana.

3. Identificação correta de machos do bicho-furão

4. Troca da pastilha a cada 30 dias

5. Cada armadilha cobre uma área de 10 ha (3.000 a 3.500 plantas), ou seja, deve-se colocar uma armadilha a cada 350 m.

As armadilhas deverão ser colocadas próximas a matas para se detectar o início do ataque. Outras medidas culturais, como coleta e eliminação de frutos atacados pelo bicho-furão no chão e na planta e a realização de colheita, o mais rápido possível, poderão auxiliar no controle da praga.

A utilização de armadilhas de feromônio sexual não apenas racionalizará o controle da praga, pois somente será aplicado inseticida no momento certo, fundamental para se ter sucesso com este tipo de praga (início de ataque), reduzindo-se a quantidade de inseticidas aplicados, mas, principalmente, permitindo a utilização de produtos biológicos, cuja eficiência é maior quando empregados no momento em que a praga é de reduzido tamanho.

O custo do feromônio é bastante baixo e deverá ficar em torno de R$ 2,00/mês/ha (300 a 350 plantas).

José Roberto P. Parra,

ESALQ-USP

José Maurício S. Bento,

ESALQ-USP

Evaldo F. Vilela,

UFV

Walter.S. Leal,

Department of Entomology,

University of California

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