Arar ou compactar?

A técnica que os agricultores usam para descompactar o solo, os construtores de estrada usam para desestruturar e impemeabilizar. O que é certo?

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Os colonizadores trouxeram a tecnologia de queimar restos culturais, arar e gradear o solo, para o cultivo de plantas de interesse econômico. Com o desenvolvimento de tratores e de equipamentos mecanizados, aumentou a capacidade de trabalho e de domínio do homem sobre os recursos naturais.

A aração, a escarificação e a gradagem são práticas usadas na agricultura, teoricamente, para descompactar e preparar o solo para a semeadura de soja, de trigo, de milho e de outros grãos.

Um contraste curioso ocorre com os construtores de estradas, que, ao preparar a base para o asfaltamento, usam as mesmas práticas para desestruturar, compactar e impermeabilizar o solo.

Nas lavouras, essas práticas, no mínimo, causam a compactação do solo e reduzem a infiltração da água de chuvas, causando erosão de terra fértil e redução no crescimento das raízes de plantas.

As perdas de solo por erosão, nas décadas de 70 e 80, foram estimadas em 24 t/hectare/ano, para uma produção de 2,3 toneladas de grãos (trigo e soja) na mesma área. Isto é, para cada tonelada de grãos produzida, foram perdidas 10 toneladas de terra fértil.

O hábito de queimar a palha e de preparar o solo foi introduzido no Brasil pelos colonizadores europeus. Em seus países de origem, a aração e a exposição da terra ao sol eram necessárias para o aquecimento e a germinação de plantas.

Em regiões de clima tropical e subtropical, como as do Brasil, a situação é inversa. Não há necessidade de expor a terra ao sol para a germinação de plantas, e a palha decompõe-se rapidamente, sendo insuficiente para manter a cobertura do solo durante o ano.

A aração e as gradagens de solo estão sendo deixadas de lado pelos agricultores que adotam o plantio direto. Essa prática deverá dominar o cenário agrícola dos próximos anos, com estimativas de 80 a 90 % da área com culturas anuais e pastagens cultivadas. Com isso, estaremos reduzindo as perdas de solo por erosão em mais de 90 %, o consumo de combustíveis em mais de 70 % e a necessidade de tratores em 60 %, além de permitir a recuperação da água dos rios e, principalmente, de retirar o dióxido de carbono da atmosfera, fixando-o no solo na forma de carbono na palha e nas raízes de plantas.

O plantio direto através da semeadura, sem preparo de solo, e sobre a palha da cultura anterior já pode ser reconhecido como a maior revolução na agricultura de regiões tropicais.

Dirceu Gassen,

Cooplantio

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