A alface (
L., Asteraceae) é uma das hortaliças folhosas economicamente mais importantes no mundo. Na América do Sul, o maior produtor de alface é o Brasil, sendo os Estados de São Paulo e Minas Gerais responsáveis pela maior parte da produção.
A alface no Brasil é infectada por diferentes vírus, causadores normalmente de mosaico, como: o vírus do mosaico da alface (Lettuce mosaic virus, LMV), vírus do mosqueado da alface (Lettuce motle virus, LMoV), vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus, CMV) e vírus do mosaico do nabo (Turnip mosaic virus, TuMV). Já os vírus pertencentes ao gênero Tospovirus da família Bunyaviridae, causadores da doença conhecida como vira-cabeça, estão geralmente associados a sintomas como necrose, bronzeamento das folhas e murcha. Também já foi relatada no Brasil a presença do Lettuce big-vein virus (LBVV), gênero Varicosavirus, cujo principal sintoma é o engrossamento das nervuras da folha. Entretanto, ainda não se sabe se estes sintomas são ocasionados somente pelo LBVV ou pela associação de diferentes vírus na planta. Atualmente, os vírus que causam maiores prejuízos no Brasil são o LMV e os vírus do gênero Tospovirus.
O LMV, pertencente à família Potyviridae, gênero Potyvirus, é disseminado no campo por várias espécies de afídeos, sendo o Myzus persicae considerado o vetor mais eficiente. O vírus também é transmitido pela semente, cuja taxa de transmissão pode chegar a 16%. Por meio do intercâmbio de sementes infectadas, o LMV é disseminado a longas distâncias, inclusive entre continentes. Perdas de até 100% podem ocorrer caso sejam utilizadas sementes infectadas e pulgões estejam presentes no campo. Dependendo do isolado, verifica-se a presença de mosaico associado à necrose em alface.
No Brasil, o mosaico tem sido controlado tradicionalmente por meio do uso de cultivares tolerantes. O gene « g » renomeado de mo11 foi incorporado nas cultivares de alface da série « Brasil » lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas na década de 70. Estas cultivares foram eficientes no controle da doença até meados da década de 90, quando surgiu uma nova estirpe de LMV, causando severos sintomas nestas cultivares. Infelizmente, não existe até hoje nenhuma fonte de resistência eficiente no controle desta estirpe. Entretanto, a utilização de sementes isentas de vírus, a eliminação de reservatórios naturais do vírus (como plantas daninhas, plantas de alface abandonadas), não cultivar ao lado de campos com alta incidência do LMV e produzir as mudas sob proteção de telas anti-afídicas contribuem para reduzir a incidência do LMV no campo. Além das práticas culturais, o controle preventivo do inseto vetor, por meio da utilização de inseticidas, também previne a disseminação do vírus no campo. No entanto, vale ressaltar que somente o uso de inseticidas não é eficiente no controle desta doença, podendo até aumentar a incidência de LMV no campo.
Outro vírus bastante comum, principalmente no Estado de São Paulo, é o LMoV. O LMoV causa sintomas de mosaico mais leves que o LMV e em condição de campo, estes vírus são encontrados freqüentemente em infecções mistas, não permitindo distingui-los pelo sintoma. Classificado como um possível membro do gênero Sequivirus, família Sequiviridae, o LMoV é bastante semelhante a um vírus relatado na Europa infectando cultivares de alface, o Dandelion yellow mosaic virus (DaYMV). O LMoV é transmitido de forma não-circulativa pelo pulgão Hyperomyzus lactucae e estudos preliminares indicam que o vírus não é transmitido via semente. O controle do LMoV deve seguir as mesmas práticas recomendadas no controle do LMV.
A doença conhecida como Vira-cabeça é causada pelos vírus do gênero Tospovirus, família Bunyaviridae. As espécies Groundnut ringspot virus – GRSV e Tomato chlorotic spot virus – TCSV já foram relatadas infectando alface no Brasil. Porém, outras espécies do gênero Tospovirus como : Tomato spotted wilt virus – TSWV e Chrysanthemum stem necrosis virus – CSNV também poderão estar associadas à doença, por já terem sido relatadas em outras culturas. Os Tospovirus são transmitidos de maneira circulativa- propagativa, por tripes. Estes vírus infectam uma gama extensiva de espécies de plantas, incluindo plantas cultivadas, ornamentais e plantas daninhas, sendo estas últimas consideradas reservatórios do vírus e/ou também do vetor. Esta doença ocorre em todas as regiões produtoras do país, provocando grandes perdas na produção, principalmente no verão.
Em alface, o vírus causa geralmente manchas necróticas e bronzeamento. A infecção começa normalmente em um lado da planta fazendo com que ela fique distorcida pelo crescimento diferenciado nos dois lados, paralisando o crescimento e reduzindo significativamente a produção.
O vírus é adquirido pelo vetor no estádio larval ao se alimentar em uma planta infectada. O inseto, ao atingir o estádio adulto, transmite o vírus para plantas sadias durante a alimentação. O tripes transmite o vírus durante todo o seu ciclo de vida.
As medidas de controle do vira-cabeça são basicamente preventivas. A adoção de práticas culturais, além da utilização do controle químico reduzem as perdas ocasionadas pelo vírus. Como medidas recomenda-se: utilização de cultivares tolerantes; estabelecer as sementeiras em lugares isolados, distantes de plantios mais velhos de alface e de outras culturas hospedeiras do vírus e do vetor; fazer a aplicação sistemática de inseticidas em mudas na sementeira e após o transplante para o campo, visando controlar o tripes; eliminar plantas hospedeiras do vírus e/ou do vetor dentro e próximo às áreas cultivadas; estabelecer barreiras em volta do plantio (milho) para dificultar a migração do inseto-vetor, ou utilizar plantas armadilhas como a couve-flor, brócolis e espécies selvagens de tomate tolerantes, que florescem intensamente atraindo o tripes. A aplicação do inseticida poderá então ser intensificada nestas plantas armadilhas.
O manejo não é totalmente efetivo se o vírus e o vetor ocorrerem em alta incidência em toda a área. Nestas condições, recomenda-se deixar a área sem a cultura por um período de tempo.
Renate Krause Sakate, Márcia Morais Echer e Marcelo Agenor Pavan,
UNESP
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