A regra é diversificar

Com um único pasto é impossível obter todas as características que o produtor deseja e o segredo do sucesso é não semear apenas uma forrageira.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O setor sementeiro, incluindo o de forrageira, encontra-se em uma fase de transição por conta da nova “Lei de Sementes” (lei 10.711 de 05/08/03) que regulamenta todo o setor, desde a sua produção até a sua comercialização.

Com esta nova legislação, vários itens serão alterados e principalmente os consumidores de sementes de forrageiras, acostumados à compra de sementes com baixa porcentagem de pureza, terão que se adequarem a ela. Atualmente o padrão mínimo de pureza para as sementes de forrageiras é de 40% (significa que em 1kg teremos somente 400g de sementes puras).

As sementes de forrageiras são diferentes de todas as outras sementes existentes no mercado, não somente pelos padrões de pureza, mas por iniciar com a colheita realizada no solo, por ser a maturação das sementes desuniforme e despegam-se da espiga quando maduras.

Para facilitar a colheita, o plantio ocorre em linha e quando as sementes, em sua grande maioria, já amadureceram e caíram no solo, as plantas são cortadas com uma ceifadeira rente ao solo e depois são enleiradas com um ancinho para permitir a colheita. Há alguns anos esta colheita era manual, atualmente são utilizadas colheitadeiras especiais.

A vantagem deste tipo de colheita é que as sementes apresentam germinação mais alta por causa da maturação mais uniforme e a desvantagem é que a porcentagem de impureza é alta, pois são colhidas do solo, necessitando de mais limpeza no beneficiamento.

A qualidade dessas sementes é verificada através da análise de pureza, germinação, viabilidade e presença de ervas daninhas, em laboratórios credenciados e especializados em forrageiras, pois uma das principais características destas sementes é a sua dormência.

Dormência é um mecanismo de defesa que algumas espécies vegetais apresentam visando a sua sobrevivência. Isto significa que mesmo em condições ideais de temperatura, umidade e luz estas sementes não germinam.

Para romper esta dormência e permitir a germinação, recomendamos não utilizar sementes recém colhidas, pois com o tempo a dormência vai rompendo-se. As sementes com mais dormência são as de humidícula e dictyoneura que podem tardar até um ano para romper a dormência. Neste caso, recomendamos misturar em torno de 30% de semente de outra espécie e aquecer as sementes de humidícula ou dictyoneura ao sol por cerca de 10h, antes do plantio.

Por isso, antes de adquirir as sementes, o produtor rural deve tomar conhecimento de todas essas características. Um dos itens mais importante é saber qual o Valor Cultural (VC) das sementes, pois serve como indicativo de qualidade. Quanto maior o Valor Cultural, melhor a qualidade das sementes e conseqüentemente menor será a quantidade necessária no plantio.

Valor Cultural (%) =Pureza (%) x Germinação (%)

100

Criamos como exemplo uma semente com VC de 40% que apresenta 50% de pureza e 80% de germinação. Trocando em miúdos, significa que em cada 100g de sementes de VC 40%, somente 50kg é semente pura (Pur=50%) e deste, somente 40 kg germinam (Ger = 80%). Portanto, Valor Cultural indica a quantidade de sementes puras que germinam em uma determinada amostra de semente.

O Valor Cultural é utilizado também para calcular a quantidade necessária de sementes no plantio. Para isso temos que conhecer as condições do plantio: preparo de solo, calagem, adubação, controle de ervas daninhas, presença de insetos, equipamento de plantio, condições climáticas etc.

O modo de plantio é importante, uma vez que, uma forma de plantio utiliza maior ou menor quantidade de sementes que a outra forma. Em um plantio a lanço a quantidade de sementes é maior que no plantio em linha.

A quantidade de semente é calculada seguindo a fórmula abaixo:

FATOR = kg/ha de sementes

VC

As tabelas de FATORES são indicadas na página seguinte

:

Exemplo: sementes de Brachiaria brizantha CV. MG-5 Vitória VC 40%, plantio a lanço em condições medianas de plantio.

FATOR = 340 = 8,5 kg/ha de sementes de MG-5 VC 40%

VC 40

Cultivares de forrageiras

Durante muito anos o pecuarista brasileiro tinha poucas opções de espécie forrageira pasto quando decidia por uma reforma ou o estabelecimento de uma nova área de pastagem. Por conta disto houve vários ciclos de pastos no Brasil, sempre gerando os problemas seríssimos à nossa pecuária, acarretando obrigatoriamente em um monocultivo de pasto e as suas conseqüências.

Quando o Jaraguá estava em moda o gado sofria por falta de pasto na seca, com o colonião os animais sofriam com falta de pasto e o dono da fazenda com gastos para controlar as formigas, depois veio a decumbens e com ela a cigarrinha e a requeima nos bezerros e agora a era do brachiarão, onde diversos problemas ocasionados pelo monocultivo têm degradado milhões de hectares de pastos com este capim.

Por conta disso tudo, acreditamos que com a maior oferta de espécies forrageiras no mercado, podemos encontrar a pastagem mais adequada às condições de solo, clima e manejo que temos neste nosso país de dimensões continentais. Não há como obter em um só pasto todas as características que desejamos, que se adapte às condições do local de plantio, mas podemos encontrar em mais de uma espécie. Recomendamos, portanto, não semear somente uma forrageira em uma fazenda, a diversificação é uma regra muito importante a ser seguida.

Além de conhecer as principais características dos diversos tipos de pastos disponíveis no mercado, é importante conhecer quais são os fatores limitantes de cada área. De acordo com cada um deles podemos escolher a pastagem mais adequada a cada área.

Fertilidade do solo

Existem espécies forrageiras que são mais exigentes em fertilidade que outras e isso consiste em um fator que pode limitar a escolha de uma nova forrageira.

• Para solos de alta fertilidade: Capim Elefante, Panicum maximum (colonião), Estrelas, Tifton, Jaraguá;

• Para solos de média fertilidade: Braquiarao, MG-5 Vitória;

• Para solos de baixa fertilidade: Decumbens, MG-4, Andropogon, Pojuca;

• Para solos pobres: Humidícula, Dictyoneura, Grama batatais.

Topografia

A escolha de espécies forrageiras podem ser determinadas por este fator limitante pois existem áreas susceptíveis às erosões.

Para locais com declividade acentuada:

• Solos de boa fertilidade: Tanzânia ou Áries (40%) + MG-5 (60%);

• Solos de média fertilidade: MG-5;

• Solos de baixa fertilidade: Decumbens, MG-4;

• Solos pobres: Humidícola, Dictyoneura.

Grau de drenagem do solo

Independente da fertilidade, o grau de drenagem impede o uso de qualquer forrageira.

• Solos inundáveis: Humidícola e Setária;

• Solos mal drenados (até 40 dias úmido);

• Boa fertilidade: Mombaça e Áries;

• Média fertilidade: MG-5;

• Baixa fertilidade: Humidícola, Dictyoneura, Setária e Pojuca.

Problemas com insetos

Existem regiões que determinados insetos são pragas limitantes, principalmente economicamente, para cultivos de certos pastos:

• Locais com problemas de cigarrinha-das-pastagens: Brachiarão e Andropogon;

• Locais com problema de Saúva e Quem Quem: Brachiarão;

• Locais com problemas de insetos que atacam as plantas recém germinadas, como: formigas, cupins, grilo e gafanhoto, recomendamos o uso de sementes tratadas com inseticida (Fipronil) para evitar o problema.

Plantas invasoras

Muitas regiões são altamente infestadas por plantas invasoras (ervas daninhas e brotação de vegetação nativa), competindo com o pasto, principalmente por nutrientes. Para minimizar o problema, recomenda-se o pasto abaixo, que auxilia neste controle pela ação alelopática que possui.

• Braquiarão.

Categoria animal

Os vários animais de uma fazenda possuem exigências nutricionais e hábitos alimentares diferentes, justificando, portanto o uso de mais de uma espécie forrageira em uma propriedade.

Bovinos de engorda:

• Solos de boa fertilidade: Panicum maximum, Capim Elefante e Estrelas;

• Solos de média fertilidade: MG-5 e Braquiarão;

• Solos de baixa fertilidade: MG-4, Decumbens e Andropogon.

Bovinos de cria:

• Solos de boa fertilidade: Áries, Tanzânia e Estrela;

• Solos de média fertilidade: MG-5 e Braquiarão;

• Solos de baixa fertilidade: MG-4, Decumbens e Andropogon;

• Solos pobres: Dictyoneura e Humidícola.

Bovinos de recria:

• Solos de boa fertilidade: Áries;

• Solos de média fertilidade: MG-5;

• Solos de baixa fertilidade: MG-4;

• Solos pobres: Dictyoneura.

Bovinos de leite:

• Solos de boa fertilidade: Panicum maximum, Capim Elefante e Estrelas;

• Solos de média fertilidade: Braquiarão e MG-5;

• Solos de boa fertilidade: Áries e Tanzânia;

• Solos fracos: Dictyoneura.

Estes são os principais fatores limitantes que auxiliam na escolha da espécie forrageira mais adequada na hora do plantio. Afinal não existem pastos que sejam melhores que outros, o que existe na verdade é a escolha errada de um pasto para aquele local.

Lembrem-se que, mesmo no século XXI, a maneira mais barata e eficiente de alimentar os animais é através de pastagens bem manejadas e de boa qualidade nutricional.

Com uma boa pastagem podemos realizar tranqüilamente qualquer negócio com os animais.

Alberto Takashi Tsuhako

Matsuda

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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