As contribuições da biotecnologia para um mundo carbono neutro
Por William Yassumoto, presidente regional da Novozymes para a América Latina e presidente do conselho da ABBI
O Cerrado é a segunda região ecológica brasileira e acomoda uma das maiores biodiversidade do mundo. Cobrindo mais de 20% do Brasil e presente em dez estados, esse bioma é classificado como um Hotspot. Infelizmente para ser considerado um Hotspot, uma ecorregião deve apresentar dois critérios: apresentar ao menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (ou seja, que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo) e ser constituído por 30% ou menos da sua vegetação original. Um Hotspot é sinônimo de área insubstituível, dessa forma a destruição dessas regiões é inevitavelmente acompanhada por extinções de fauna e flora.
A biodiversidade do Cerrado é ainda pouco conhecida. São poucos os inventários dos mais diversos grupos taxonômicos que compõem o bioma. E a eminente ameaçada de extinção justifica a necessidade urgente de maiores investigações sobre a composição das espécies do Cerrado, suas contribuições ecossistêmicas e possibilidades de bioprospecção (aplicações médicas e econômicas) e inovação tecnológica.
A artropodofauna corresponde aos invertebrados do filo Arthropoda que engloba muitos animais conhecidos do nosso dia-a-dia como borboletas, abelhas, formigas, lacraias, aranhas, escorpiões e carrapatos. Esses animais são fundamentais para a manutenção da biodiversidade local, participando de importantes processos ecológicos como a ciclagem de nutrientes e polinização.
Pouco se sabe sobre a real diversidade de espécies de artrópodes presentes no Tocantins. Acredita-se que para o Cerrado como todo, exista mais de 10.000 espécies de borboletas e mariposas, 130 espécies de cupins, 140 espécies de vespas sociais e mais de 800 espécies de abelhas.
Dentro desse panorama, o grupo de pesquisa Sistemática Integrada e Bioprospecção da Artropodofauna Terrestre Neotropical liderado pela pesquisadora Lidianne Salvatierra objetiva preencher algumas lacunas de conhecimento da fauna do Cerrado, em especial a que compõe o estado do Tocantins.
O grupo de pesquisa está desenvolvimento projetos que abordam a atualização da listagem de espécies de diferentes grupos de invertebrados como borboletas e aranhas, descrição de espécies novas, estudos ecológicos e também a avaliação dos conhecimentos etnozoológicos (crenças, mitos e conceitos tradicionais da comunidade leiga) e aplicações dos resultados no processo de ensino-aprendizagem.
Um exemplo de pesquisa em andamento é o projeto intitulado Araneofauna (Arachnida: Araneae) em uma área de encrave de Savana e Floresta Estacional Semidecidual do Cerrado no município de Dianópolis (Tocantins). O estudo faz parte do mestrado da discente Kássia de Oliveira Madaleno, com orientação da doutora Lidianne Salvatierra, no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação (PPGBec) da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Resultados preliminares já revelaram uma importante fauna de aranhas com a presença de ao menos vinte e três famílias da ordem (aproximadamente 18% das famílias existentes no mundo), novos registros de espécies para o Tocantins e ao menos três espécies novas.
Os resultados de estudos da artropodofauna podem oferecer importantes dados sobre a fauna local e a necessidade de ações de conservação mais urgentes, subsidiarão trabalhos de biomonitoramento e incrementarão o conhecimento sobre a taxonomia e história natural das espécies de invertebrados do Cerrado.
Além disso, pesquisas que envolvem o estudo da taxonomia (identificação e descrição) de uma espécie são fundamentais para a correta identificação dos registros, predições dos riscos de ameaças às espécies e até de implementação de estratégias de medidas profiláticas e sanitárias a fim de dirimir a incidência de acidentes com animais peçonhentos.
Por Lidianne Salvatierra Paz Trigueiro, Universidade Federal de Tocantins
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