A ameaça continua

Levantamento do Fundecitrus aponta que a severidade da CVC aumentou no Estado de São Paulo e o número de plantas infectadas saltou de 38,28% em 2002 para 43,56% em 2003

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Apesar dos avanços no conhecimento e da adoção de estratégias de manejo pelos citricultores, tais como: plantio de mudas sadias, produzidas em viveiros protegidos, controle químico das cigarrinhas vetoras, principalmente nos primeiros anos após o plantio e a adoção da poda e/ou eliminação de plantas ou ramos sintomáticos, a Clorose Variegada dos Citros (CVC) continua afetando um grande número de plantas tanto no estado de São Paulo como nas demais regiões produtoras de citros no Brasil, onde a doença está presente.

No estado de São Paulo, no ano de 2003, a incidência de plantas doentes foi de 43,56%, contra 38,28% em 2002. Assim como a incidência, a severidade vem aumentando, isto é, as plantas afetadas estão cada vez com sintomas mais graves. Em 2002, 10,36% das plantas apresentavam sintomas nível 1 (sintomas somente em folhas) e 27,92% das plantas apresentavam sintomas em estágio avançado, nível 2 (presença de sintomas em folhas e um ramo ou mais com frutos pequenos), e em 2003, a quantidade de plantas nível 1 permaneceu constante (10,38%), enquanto que o número de plantas com nível 2 subiu para 33,81%. Esse aumento na severidade ocorre, pois não há regressão dos sintomas da CVC nas plantas que apresentam os estágios mais avançados. Por tratar-se de uma doença sistêmica, a bactéria inicia seu desenvolvimento em uma determinada parte da planta, geralmente pelos ponteiros e ramos novos, e gradativamente atinge toda a planta. Nos últimos anos, o aumento tanto da incidência como da severidade esteve relacionado, também, às condições climáticas de 2002, cujo período de estiagem favoreceu o aparecimento dos sintomas da doença. Aumentos na contaminação de novas plantas por insetos vetores é um fator que não pode ser descartado.

Considerando-se a idade das laranjeiras, a incidência de plantas com CVC em 2003 foi de 59,68% para a faixa etária de 6 a 10 anos e de 49,68% para plantas com mais de 10 anos. No ano de 2002, os valores foram de 53,61 e 33,19%, respectivamente. O aumento da incidência nas plantas mais velhas provavelmente seja devido ao envelhecimento das plantas afetadas. Essas plantas foram infectadas mais jovens e com o passar dos anos tendem a se concentrar nas faixas etárias mais elevadas. Por outro lado, em plantas novas, a incidência vem diminuindo gradativamente, o que demonstra que as mudas produzidas em viveiros protegidos estão isentas da bactéria e que a estratégia para reduzir a contaminação em novos plantios, pelo controle sistemático das cigarrinhas, estão sendo efetivas.

Em relação às diferentes regiões produtoras de citros de São Paulo, a doença é mais grave na região Norte, Centro e Noroeste, com respectivamente 65,06, 44,37 e 41,73% de plantas com sintomas. Na região Sul, a incidência e a severidade são menores, com 11,88% de plantas afetadas. Essa menor incidência está ligada a fatores climáticos, à menor população de vetores e à menor ocorrência de fontes de inóculo.

Apesar da ocorrência de outras importantes doenças na cultura dos citros, a CVC continua sendo a mais grave, e é atualmente a doença que provoca as maiores perdas e prejuízos ao setor citrícola. Para que não ocorra um aumento significativo na incidência, os produtores devem continuar empregando as estratégias de manejo, principalmente nos pomares mais novos, cujas plantas são mais suscetíveis à infecção da bactéria. Nesse caso, principalmente nos pomares próximos a talhões mais velhos e com incidência da CVC, deve-se realizar um controle químico mais rigoroso, pois as plantas com sintomas da CVC servem de fonte de inóculo para a contaminação do plantio novo. Essas, se forem contaminadas até os 3 anos de idade, devem ser eliminadas, pois a poda nesta faixa não é eficaz para eliminação da doença. Outro ponto importante é o aumento do número de plantas sintomáticas nas idades mais avançadas, indica que esteja ocorrendo a contaminação de plantas pelas cigarrinhas em todas as idades da laranjeira. Nesse caso, os citricultores devem realizar o monitorando das cigarrinhas visando o controle desde o surgimento destas no pomar ou em momentos de aumento populacional, que são mais comuns do início da primavera até o início do outono.

Somente com a adoção das estratégias de manejo da CVC será possível a diminuição gradativa da incidência da doença e, conseqüentemente, redução dos seus danos e prejuízos, atualmente expressivos. Espera-se, com o processo de renovação dos pomares, com a eliminação daqueles mais velhos, com índices severos da doença, e pelo fato da utilização de mudas sadias e controle das cigarrinhas transmissoras de X. fastidiosa, a incidência da doença diminua gradativamente.

A Clorose Variegada dos Citros (CVC), ou “amarelinho”, como também é conhecida, foi primeiramente constatada em 1987, nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. No início, as medidas de ação contra a doença eram realizadas de forma empírica, em razão do pouco conhecimento sobre o patossistema. Posteriormente surgiu uma fase de descobertas gerada pela pesquisa, dentre as quais o seu agente causal, a bactéria Xylella fastidiosa, o seu cultivo em laboratório, o início de estudos sobre a patogenicidade da bactéria, o conhecimento dos insetos vetores (cigarrinhas), a suscetibilidade das variedades e espécies cítricas, o padrão de distribuição espacial e temporal da doença no campo, entre outros. Esta doença, e seu agente causal, ficaram mundialmente conhecidos após a finalização do Projeto Genoma de seqüenciamento da bactéria

no ano de 2001. Neste projeto, financiado pela Fapesp e pelo Fundecitrus, foram investidos aproximadamente US$ 12 milhões, e inúmeras pesquisas vêm surgindo utilizando as informações geradas pelo sequenciamento do DNA do patógeno. Esta segunda fase de descobertas permitiu que fossem estabelecidas estratégias de manejo da doença no campo, culminando, por fim, na atual fase de aprimoramento do manejo da doença e do início da aplicação dos conhecimentos gerados pelos programas de pesquisa que, todavia, vêm sendo realizados.

e

Fundecitrus

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