Spodoptera eridania (Stoll, 1782), conhecida popularmente no Brasil como lagarta-das-folhas ou lagarta-das-vagens, é uma das principais pragas agrícolas da região neotropical. Pertencente à ordem Lepidoptera e à família Noctuidae, esta espécie destaca-se por sua ampla distribuição geográfica, elevada capacidade reprodutiva e, sobretudo, por seu hábito alimentar polífago.
Posicionamento taxonômico
A classificação taxonômica de S. eridania situa a espécie no reino Animalia, filo Arthropoda, classe Insecta, ordem Lepidoptera, superfamília Noctuoidea, família Noctuidae, subfamília Noctuinae, tribo Prodeniini e gênero Spodoptera.
Originalmente descrita por Caspar Stoll em 1782 como Phalaena eridania, a espécie passou por revisões nomenclaturais ao longo dos anos, tendo sido referida também como Laphygma eridania e Prodenia eridania, até a consolidação da nomenclatura atualmente aceita.
O gênero Spodoptera, ao qual pertence, compreende aproximadamente trinta espécies de importância econômica global, incluindo outras pragas relevantes como S. frugiperda e S. cosmioides, que frequentemente ocorrem em simpatria com S. eridania, estabelecendo complexas relações de competição por recursos e nichos ecológicos. A distribuição geográfica de S. eridania abrange toda a região neotropical, desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina, com particular abundância nas áreas tropicais e subtropicais da América do Sul, onde as condições climáticas favorecem seu desenvolvimento contínuo ao longo do ano.
Aspectos biológicos
Spodoptera eridania apresenta metamorfose completa (holometábola), desenvolvendo-se através dos estágios de ovo, larva, pupa e adulto. O ciclo de vida completo varia entre 25 e 45 dias, dependendo fundamentalmente das condições de temperatura, umidade e qualidade nutricional do hospedeiro. Em temperaturas ótimas, situadas entre 25 e 28°C, o desenvolvimento é acelerado, permitindo a ocorrência de múltiplas gerações anuais, característica que contribui significativamente para o potencial de dano da espécie.
A fase de ovo tem duração de dois a quatro dias. As fêmeas depositam seus ovos em massas contendo entre 100 e 300 unidades, geralmente na face inferior das folhas, cobrindo-os com escamas abdominais que conferem proteção mecânica contra predadores e dessecação. Esta estratégia reprodutiva, aliada à elevada fecundidade das fêmeas - que podem depositar entre 1.000 e 3.000 ovos durante sua vida - contribui para o rápido crescimento populacional sob condições favoráveis.
O estágio larval, que dura de 12 a 21 dias, é o mais importante do ponto de vista econômico, pois é quando ocorrem os danos às culturas. As lagartas passam por cinco a seis instares antes de puparem, apresentando coloração variável que pode incluir tonalidades verdes, marrons, cinzas ou quase pretas, com marcações características como faixas longitudinais e manchas triangulares dorsais.
O comportamento alimentar varia conforme o desenvolvimento: nos primeiros instares, as lagartas raspam o parênquima foliar produzindo aspecto rendilhado, enquanto nos últimos instares tornam-se extremamente vorazes, consumindo toda a área foliar e atacando estruturas reprodutivas como flores, frutos e vagens. O canibalismo intraespecífico é frequente, especialmente em altas densidades populacionais ou quando há escassez de alimento, constituindo um importante fator de regulação populacional natural.
A pupação ocorre no solo, onde a lagarta madura constrói uma câmara pupal a alguns centímetros de profundidade. Esta fase dura entre oito e quinze dias, durante os quais o inseto completa sua metamorfose protegido das condições adversas do ambiente superficial. Os adultos, mariposas de coloração cinza a marrom-escuro com envergadura de 32 a 42 mm, vivem de sete a quinze dias. São predominantemente noturnos, acasalando nas primeiras noites após a emergência, período em que as fêmeas liberam feromônios sexuais para atrair os machos. Após um período de pré-oviposição de dois a quatro dias, iniciam a deposição de ovos, perpetuando o ciclo.
Dinâmica populacional
A ecologia de Spodoptera eridania é marcada por sua extraordinária polifagia, que lhe permite explorar hospedeiros em diversas famílias botânicas, incluindo Fabaceae (soja, feijão, amendoim), Solanaceae (tomate, batata, pimentão), Malvaceae (algodão), Poaceae (milho, arroz), Brassicaceae (repolho, couve) e Cucurbitaceae (melão, melancia), entre outras. Esta plasticidade alimentar confere à espécie grande capacidade de colonização e persistência em diferentes agroecossistemas, permitindo sua sobrevivência mesmo quando cultivos comerciais principais não estão disponíveis, utilizando plantas daninhas como hospedeiros alternativos e reservatórios populacionais entre safras.
A dinâmica populacional de S. eridania é governada pela interação complexa entre fatores bióticos e abióticos. Entre os fatores dependentes da densidade, destacam-se a competição intraespecífica por alimento, o canibalismo larval, a eficiência de inimigos naturais e a transmissão de patógenos, que atuam como reguladores naturais das populações. Os fatores independentes da densidade, como temperatura, precipitação, disponibilidade sazonal de hospedeiros e eventos climáticos extremos, determinam os padrões sazonais de abundância, com picos populacionais geralmente coincidindo com a estação quente e úmida, quando as condições são ótimas para o desenvolvimento.
A espécie é naturalmente regulada por um complexo e diversificado conjunto de inimigos naturais, componente fundamental de sua ecologia populacional. Parasitoides de ovos, como Trichogramma pretiosum e Telenomus remus, podem parasitar até 70-90% das massas de ovos em condições favoráveis. Parasitoides de larvas, incluindo espécies dos gêneros Cotesia, Chelonus e Archytas, contribuem com taxas de parasitismo que podem atingir 30-50% em populações de campo.
Predadores generalistas, como tesourinhas (Doru luteipes), percevejos predadores (Podisus nigrispinus), crisopídeos, coccinelídeos e vespas sociais, desempenham papel importante na predação de ovos e larvas. Além disso, entomopatógenos como o baculovírus específico Spodoptera eridania Nucleopolyhedrovirus (SeNPV) e fungos como Nomuraea rileyi podem causar epizootias naturais com mortalidade superior a 80% em condições de alta umidade e densidade larval elevada.
Mecanismos de dano
Os danos causados por Spodoptera eridania às culturas agrícolas resultam da ação mecânica de suas mandíbulas mastigadoras sobre os tecidos vegetais, provocando desfolhamento que varia em intensidade conforme o instar larval. Nos primeiros instares, o dano limita-se à raspagem do parênquima foliar, mas nos últimos instares, caracterizados por consumo voraz, pode ocorrer desfolha severa que compromete significativamente a capacidade fotossintética da planta. A redução da área foliar diminui a captação de luz e a fixação de CO₂, resultando em menor produção de fotoassimilados e comprometimento do crescimento e desenvolvimento vegetal.
Além do desfolhamento, S. eridania ataca diretamente estruturas reprodutivas, destruindo botões florais, flores, frutos e vagens, o que resulta em perdas diretas na produção comercializável. As lesões causadas pela alimentação servem como portas de entrada para patógenos oportunistas - fungos, bactérias e vírus - estabelecendo uma interação sinérgica inseto-patógeno que pode agravar significativamente os prejuízos. As plantas respondem à herbivoria através de defesas induzidas, incluindo a produção de compostos fenólicos, lignificação de tecidos, síntese de inibidores de protease e emissão de compostos voláteis que atraem inimigos naturais do herbívoro, constituindo um mecanismo de defesa indireta.
A importância econômica de S. eridania é particularmente expressiva em culturas como soja, algodão, hortaliças e leguminosas de grãos, onde infestações podem causar perdas substanciais na produtividade e qualidade do produto. Os níveis de dano econômico variam conforme a cultura, o estágio fenológico da planta e as condições de mercado, mas em geral, desfolhamentos superiores a 20-30% na fase vegetativa da soja ou 15% na fase reprodutiva já justificam medidas de controle.
Desafios no manejo
O manejo de Spodoptera eridania enfrenta desafios significativos, particularmente relacionados ao desenvolvimento de resistência a inseticidas químicos e à variação na suscetibilidade a proteínas Bt expressas em plantas transgênicas. Populações resistentes a diversos grupos químicos, incluindo piretroides e organofosforados, têm sido reportadas em diferentes regiões, reduzindo a eficácia de táticas convencionais de controle e demandando estratégias mais sofisticadas de manejo de resistência.
A abordagem contemporânea mais recomendada é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que integra múltiplas táticas de controle de forma complementar e sinérgica, fundamentado em princípios ecológicos. O MIP preconiza o monitoramento regular das populações, a conservação e o favorecimento de inimigos naturais através da redução do uso de inseticidas de amplo espectro, a diversificação de agroecossistemas mediante rotação de culturas e consórcios, o uso criterioso de inseticidas seletivos baseado em níveis de ação econômica, e o emprego de controle biológico com parasitoides, predadores e entomopatógenos.
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