
O herbicida S-metolacloro consiste em ferramenta de grande relevância para sistemas produtivos sustentáveis, especialmente em culturas como milho, soja, algodão e cana-de-açúcar.
Nome comum (ISO): S-metolacloro (S-metolachlor)
Nome químico oficial (IUPAC): (2S)-2-cloro-N-(2-etil-6-metilfenil)-N-[(1S)-1-metoxipropan-2-il]acetamida
Fórmula química bruta: C₁₅H₂₂ClNO₂
Número CAS: 87392-12-9
Peso molecular: 283,79 g/mol
Classe química: cloroacetamida
Estrutura molecular e propriedades: S-metolacloro apresenta fórmula molecular C₁₅H₂₂ClNO₂ com peso molecular de 283,79, sendo o enantiômero biologicamente ativo do metolacloro racêmico. A molécula possui quiralidade, com o S-metolacloro comercial sendo uma mistura dos enantiômeros S- e R- numa proporção aproximada de 88:12.
Histórico: a literatura indica que o metolacloro original, a mistura racêmica da qual o S-metolacloro foi posteriormente derivado, teve sua origem na Ciba-Geigy (posteriormente Syngenta). Este herbicida foi inicialmente introduzido no mercado norte-americano e registrado em 1976. Continha, em sua formulação original, uma mistura 1:1 de todos os quatro estereoisômeros. A molécula de S-metolacloro foi descoberta por técnicos da empresa em 1982. Um dos principais impulsionadores para seu desenvolvimento foi a atividade herbicida significativamente maior do par de isômeros S, aproximadamente seis vezes mais ativo contra ervas daninhas do que o par de isômeros R. Essa potência aprimorada traduz-se em benefícios práticos: o S-metolacloro pode alcançar o mesmo nível de controle de ervas daninhas com uma taxa de aplicação menor em comparação com o metolacloro racêmico.
Modo de ação
Mecanismo bioquímico: S-metolacloro atua inibindo a formação de ácidos graxos de cadeia muito longa (VLCFA), sendo ativo no solo e bloqueando o crescimento de raízes e brotos das plântulas. O herbicida interfere especificamente na biossíntese de ácidos graxos com 20 ou mais átomos de carbono, essenciais para a formação de cutícula e membranas celulares.
Alvo bioquímico: seu alvo primário são as enzimas elongases responsáveis pela síntese de VLCFA, particularmente aquelas envolvidas na condensação de acetil-CoA com ácidos graxos de cadeia longa. Os herbicidas inibem várias elongases diferentes, cada uma com funções enzimáticas específicas.
Classificação HRAC:
- Grupo HRAC: 15 (Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa - VLCFA)
- Local de ação: inibição da elongação de ácidos graxos
Sintomas e tempo de ação
O herbicida é seletivo e absorvido através de raízes e brotos. Os sintomas característicos incluem:
- Inibição do crescimento radicular e do coleóptilo
- Falha na emergência das plântulas
- Redução na deposição de ceras cuticulares
- Deformações em folhas emergentes (quando há emergência parcial)
O tempo para manifestação dos sintomas varia de 7 a 21 dias após a aplicação, dependendo das condições ambientais e sensibilidade da espécie.
Espécies efetivamente controladas
O metolacloro proporciona controle pré-emergente de muitas gramíneas anuais e diversas plantas daninhas de folhas largas de sementes pequenas.
Gramíneas:
- Digitaria spp. (capim-colchão)
- Eleusine indica (capim-pé-de-galinha)
- Brachiaria plantaginea (capim-marmelada)
- Panicum maximum (capim-colonião)
- Cenchrus echinatus (capim-carrapicho)
Folhas largas:
- Amaranthus spp. (caruru) - populações suscetíveis
- Portulaca oleracea (beldroega)
- Galinsoga parviflora (picão-branco)
Espécies parcialmente controladas
- Ipomoea spp. (corda-de-viola) - controle variável
- Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo) - supressão
- Sida spp. (guanxuma) - controle parcial
Plantas tolerantes ou resistentes
Seu controle de plantas daninhas perenes é limitado ao tiririca (Cyperus rotundus). Espécies naturalmente tolerantes incluem:
- Commelina spp. (trapoeraba)
- Richardia brasiliensis (poaia-branca)
- Espécies perenes com sistema radicular profundo
Recomendações técnicas de aplicação
Dosagens recomendadas:
- Dose padrão: 1,0 a 1,5 L/ha (produto comercial)
- Solos arenosos: 1,0 a 1,2 L/ha
- Solos argilosos: 1,2 a 1,5 L/ha
- Situações de alta pressão: até 2,0 L/ha
Momento de aplicação:
- Modalidade principal: pré-emergência das plantas daninhas
- Timing ótimo: imediatamente após o plantio ou semeadura
- Janela de aplicação: até 3 dias após a semeadura da cultura
Condições climáticas ideais:
- Temperatura: 15°C a 30°C
- Umidade do solo: solo com umidade adequada (capacidade de campo)
- Precipitação: 10-20 mm nas 7-10 dias seguintes à aplicação
- Vento: máximo 10 km/h durante a aplicação
Misturas de produtos
Realizar sempre teste de compatibilidade física antes da aplicação. O S-metolacloro é geralmente compatível com a maioria dos herbicidas pré-emergentes utilizados em culturas de milho e soja.
Herbicidas pré-emergentes:
- Atrazina (controle ampliado de folhas largas)
- Glifosato (dessecação + residual)
- Diclosulam (ampliação do espectro)
- Flumioxazina (controle de folhas largas)
Herbicidas pós-emergentes:
- 2,4-D (aplicações sequenciais)
- Nicosulfuron (aplicações em milho)
Misturas a evitar:
- Herbicidas altamente alcalinos (pH > 8,0)
- Produtos à base de cobre em altas concentrações
- Formulações oleosas incompatíveis
Resistência e manejo de resistência
Até agosto de 2023, 13 espécies de plantas daninhas foram documentadas como resistentes aos inibidores de VLCFA, incluindo 11 monocotiledôneas e duas dicotiledôneas (Amaranthus palmeri e Amaranthus tuberculatus). A resistência tem sido relatada principalmente em:
- Amaranthus tuberculatus (caruru-gigante)
- Amaranthus palmeri (caruru-de-palmer)
- Algumas espécies de Echinochloa
Há várias estratégias de manejo da resistência capazes de minimizar riscos.
Rotação de mecanismos de ação:
- Alternar com Grupo 2 (inibidores da ALS)
- Utilizar Grupo 5 (inibidores do fotossistema II)
- Integrar Grupo 4 (auxinas sintéticas)
Práticas culturais:
- Rotação de culturas
- Manejo integrado com práticas mecânicas
- Uso de culturas de cobertura
Monitoramento:
- Avaliação regular da eficácia
- Identificação precoce de falhas de controle
- Análises de resistência em populações suspeitas
Fatores que afetam a eficácia
Condições climáticas:
- Seca: reduz significativamente a eficácia
- Excesso de chuva: pode causar lixiviação em solos arenosos
- Temperatura: temperaturas baixas (<10°C) reduzem a atividade
Condições edáficas:
- pH do solo: ótimo entre 6,0 e 7,5
- Matéria orgânica: altos teores podem reduzir disponibilidade
- Textura: melhor performance em solos de textura média
Dentre as vantagens do S-metolacloro, pode-se citar: excelente seletividade para culturas principais; longo período residual (60-90 dias); estabilidade em diferentes condições de pH; amplo espectro de controle de gramíneas.
Por outro lado, há limitações: dependência de umidade para ativação; controle limitado de plantas daninhas perenes; necessidade de chuva pós-aplicação; potencial de fitotoxicidade em condições de estresse.
Posicionamento por cultura
Milho:
- Base do programa herbicida pré-emergente
- Mistura com atrazina para ampliação do espectro
- Dose: 1,2-1,5 L/ha em solos médios
Soja:
- Componente essencial em sistemas de manejo de resistência
- Combinação com inibidores da ALS ou PPO
- Dose: 1,0-1,3 L/ha
Algodão:
- Aplicação pré-emergente com cuidados especiais
- Monitoramento de fitotoxicidade em condições de estresse
- Dose: 1,0-1,2 L/ha
Cana-de-açúcar:
- Aplicação em pré-emergência da cultura e plantas daninhas
- Excelente opção para cana-planta
- Dose: 1,5-2,0 L/ha