Rhyssomatus subtilis

04.08.2025 | 07:06 (UTC -3)
Foto: Alejandro Vera
Foto: Alejandro Vera

Rhyssomatus subtilis Fiedler, 1937, representa um dos mais significativos desafios entomológicos enfrentados pela sojicultura sul-americana contemporânea. Este gorgulho, pertencente à família Curculionidae, emergiu como uma praga de importância econômica crescente, particularmente no noroeste argentino, onde se estabeleceu como a principal ameaça entomológica aos cultivos de soja.

Posição taxonômica

A posição taxonômica de R. subtilis reflete sua inserção em um dos grupos mais diversos e especializados de coleópteros fitófagos:

  • Reino: Animalia
  • Filo: Arthropoda
  • Classe: Insecta
  • Ordem: Coleoptera
  • Família: Curculionidae
  • Subfamília: Molytinae
  • Tribo: Cleogonini
  • Gênero: Rhyssomatus
  • Espécie: Rhyssomatus subtilis Fiedler, 1937

O gênero Rhyssomatus compreende um grupo diversificado de 189 espécies de gorgulhos neotropicais, representando uma das linhagens mais especiosas da tribo Cleogonini. Esta diversidade específica sugere uma longa história evolutiva de radiação adaptativa no continente sul-americano, com diferentes espécies explorando nichos ecológicos específicos.

A subfamília Molytinae, à qual pertence R. subtilis, caracteriza-se por incluir espécies predominantemente fitófagas, muitas das quais desenvolveram associações específicas com plantas da região neotropical. Esta especialização evolutiva explica, em parte, a capacidade de R. subtilis de rapidamente colonizar e explorar cultivos de leguminosas introduzidas como a soja.

Características biológicas

Rhyssomatus subtilis adota uma estratégia reprodutiva univoltina, caracterizada por uma única geração anual perfeitamente sincronizada com o ciclo fenológico de seus hospedeiros. Esta sincronização temporal representa uma adaptação evolutiva refinada que otimiza a exploração de recursos alimentares sazonalmente disponíveis.

O ciclo de vida compreende duas fases ecologicamente distintas: uma fase ativa, coincidente com a presença e desenvolvimento da cultura hospedeira, e uma fase de latência ou hibernação, representada pelo estágio pupal que ocorre no solo. Esta estratégia permite à espécie sobreviver aos períodos de ausência do hospedeiro, emergindo como adulto quando as condições se tornam propícias à reprodução.

O desenvolvimento de R. subtilis segue o padrão holometábolo típico dos coleópteros, compreendendo quatro estágios distintos: ovo, larva (com quatro instares), pupa e adulto. Cada fase apresenta adaptações específicas que maximizam a eficiência de exploração do hospedeiro e a sobrevivência da espécie.

A oviposição representa um momento crítico no ciclo de vida da espécie, iniciando-se quando as vagens de soja atingem o estádio R5 (enchimento de grãos) e estendendo-se até R8 (maturidade fisiológica). As fêmeas depositam ovos diminutos diretamente no interior das vagens, junto aos grãos em desenvolvimento, demonstrando uma precisão temporal e espacial notável. Cada fêmea deposita em média 230 ovos durante um período de aproximadamente 66 dias.

Esta estratégia oviposicional confere múltiplas vantagens adaptativas: proteção física dos ovos contra fatores abióticos adversos, proximidade imediata do alimento para as larvas recém-eclodidas, e redução da exposição a predadores e parasitoides durante os estágios mais vulneráveis do desenvolvimento.

O desenvolvimento larval ocorre inteiramente no interior das vagens, caracterizando um hábito endofítico que proporciona proteção contra fatores externos e acesso direto ao alimento. As larvas passam por três instares sucessivos, cada um caracterizado por incrementos significativos no tamanho corporal e capacidade de consumo.

Este padrão de desenvolvimento endofítico representa uma especialização evolutiva que minimiza a exposição a fatores de mortalidade externos, mas também impõe limitações quanto à disponibilidade de espaço e recursos alimentares.

A pupação no solo constitui uma das adaptações mais significativas de R. subtilis, permitindo a sobrevivência durante períodos desfavoráveis. Esta fase representa um estado de dormência que sincroniza a emergência dos adultos com o início da próxima safra, assegurando a disponibilidade de hospedeiros adequados para a reprodução.

Ecologia e distribuição geográfica

A distribuição geográfica atual de Rhyssomatus subtilis reflete tanto limitações climáticas quanto a disponibilidade de hospedeiros adequados. Sua primeira detecção oficial na Argentina ocorreu entre 2005 e 2008 no noroeste do país, região caracterizada por condições subtropicais favoráveis ao desenvolvimento da espécie.

A expansão subsequente demonstra uma capacidade notável de dispersão e colonização. A espécie foi detectada em 53 localidades distribuídas pelas províncias de Salta, Tucumán, Santiago del Estero e, mais recentemente, Córdoba, abrangendo uma área superior a 737.000 hectares. Esta expansão geográfica sugere tanto dispersão ativa quanto disseminação passiva, possivelmente facilitada pelo transporte de material vegetal contaminado.

Relações tróficas e amplitude de hospedeiros

Inicialmente conhecida apenas como praga da soja, pesquisas posteriores revelaram uma amplitude de hospedeiros mais ampla que inicialmente presumida. Além da soja (Glycine max), Rhyssomatus subtilis foi registrada parasitando feijão comum (Phaseolus vulgaris), demonstrando afinidade por leguminosas cultivadas.

Particularmente significativo é o registro da espécie em plantas daninhas taxonomicamente não relacionadas, incluindo Conyza bonariensis (Asteraceae), Brassica campestris (Brassicaceae) e Sphaeralcea bonariensis (Malvaceae). Esta amplitude de hospedeiros sugere uma plasticidade ecológica considerável, com implicações importantes para o manejo da praga e compreensão de sua ecologia populacional.

A dinâmica populacional de R. subtilis é influenciada por múltiplos fatores bióticos e abióticos. A sincronização obrigatória com o ciclo fenológico dos hospedeiros representa um fator limitante fundamental, restringindo o potencial reprodutivo a períodos específicos do ano.

Fatores climáticos, particularmente temperatura e precipitação durante os períodos críticos de desenvolvimento, exercem influência significativa sobre a sobrevivência e reprodução da espécie. A fase de pupação no solo torna a espécie particularmente susceptível a variações na umidade e temperatura do solo.

Impacto econômico e fitossanitário

Os danos causados por Rhyssomatus subtilis são primariamente diretos, resultando do consumo de grãos em desenvolvimento pelas larvas. Esta forma de dano é particularmente prejudicial por afetar diretamente o componente de rendimento mais importante da soja - o peso e qualidade dos grãos.

A intensidade dos danos varia em função da densidade populacional da praga, condições ambientais e estágio fenológico da cultura no momento da infestação. Em situações de alta infestação, as perdas podem ser substanciais, justificando medidas de controle específicas.

No noroeste argentino, R. subtilis estabeleceu-se como a principal praga da soja, superando outras espécies tradicionalmente problemáticas. Esta primazia reflete tanto a ausência de inimigos naturais efetivos quanto a adequação das condições ambientais regionais para o desenvolvimento da espécie.

A expansão geográfica contínua da praga representa uma ameaça crescente para outras regiões sojicultoras, particularmente aquelas com condições climáticas similares ao noroeste argentino. Esta perspectiva de expansão adiciona urgência ao desenvolvimento de estratégias de manejo eficazes e sustentáveis.

Estratégias de manejo integrado

O manejo eficaz de Rhyssomatus subtilis inicia-se com estratégias de monitoramento que permitam a detecção precoce e avaliação da densidade populacional. O monitoramento do solo para detecção de pupas representa uma ferramenta fundamental para predição da pressão da praga na safra subsequente.

Esta abordagem preditiva permite a implementação de medidas preventivas antes que os danos se manifestem, otimizando a eficácia das intervenções de controle e reduzindo os custos associados ao manejo da praga.

As estratégias de controle químico para R. subtilis envolvem uma abordagem bifásica: tratamento de sementes para proteção durante o estabelecimento da cultura e aplicações foliares direcionadas durante os períodos críticos de oviposição e desenvolvimento larval.

O tratamento de sementes proporciona proteção inicial contra adultos que emergem durante o estabelecimento da cultura, enquanto as aplicações foliares direcionam-se especificamente aos períodos de maior atividade reprodutiva da praga, tipicamente entre os estádios R5 e R8 da soja.

Embora ainda em estágios preliminares de desenvolvimento, a identificação e exploração de inimigos naturais representa uma oportunidade significativa para o manejo sustentável de R. subtilis. A ausência aparente de inimigos naturais efetivos nas áreas de nova colonização sugere potencial para programas de controle biológico clássico.

A pesquisa de parasitoides específicos, particularmente aqueles que atacam estágios larvais endofíticos, representa uma prioridade para o desenvolvimento de estratégias de controle biologicamente baseadas.

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