
O mefenoxam, também conhecido como metalaxil-M, é um fungicida sistêmico. Pertence à família química das fenilamidas. Foi desenvolvido como o enantiômero R biologicamente ativo do metalaxil, proporcionando maior eficácia biológica com doses reduzidas de aplicação.
O mefenoxam foi desenvolvido pela atual Syngenta na década de 1990. Surgindo como otimização do metalaxil original lançado em 1977. A descoberta de que apenas o enantiômero R do metalaxil possuía atividade biológica significativa levou ao desenvolvimento de uma molécula mais eficiente, permitindo a redução das doses de aplicação pela metade enquanto mantinha a mesma eficácia de controle.
Sinônimos: CGA 329 351; CGA 76539; R-Metalaxyl; Mefenoxam
Número CAS: 70630-17-0
Fórmula bruta: C15H21NO4
Mecanismo de ação
O mefenoxam (metalaxil-M) apresenta um modo de ação altamente específico, classificado no grupo FRAC 4. Atuando primariamente na síntese de ácidos nucleicos através da inibição seletiva da RNA polimerase I.
Esse mecanismo bioquímico diferencia-se fundamentalmente de outros fungicidas por sua especificidade molecular, interferindo diretamente na síntese do ácido ribonucleico ribosomal nos oomicetos, processo essencial para a produção de ribossomos funcionais e, consequentemente, para toda a maquinaria de síntese proteica do patógeno.
O alvo molecular primário do mefenoxam é a RNA polimerase I tanto mitocondrial quanto nuclear dos oomicetos, uma enzima crítica responsável pela transcrição dos genes ribossomais. Esta especificidade confere ao produto sua característica seletividade, uma vez que a estrutura da RNA polimerase I em fungos verdadeiros e plantas apresenta conformação molecular diferenciada, explicando a eficácia específica contra oomicetos sem comprometer significativamente outros microrganismos benéficos ou as plantas hospedeiras.
A classificação do mefenoxam no código de resistência A1, como inibidor específico da RNA polimerase I, indica um alto risco de desenvolvimento de resistência, especialmente em patógenos como Phytophthora infestans. As consequências fisiológicas da inibição enzimática resultam em um bloqueio imediato da síntese de RNA ribossomal, provocando o colapso da maquinaria de síntese proteica, inibição do crescimento micelial e esporulação, redução da virulência e capacidade infectiva, culminando na morte celular por depleção proteica.
Espectro de controle
O espectro de controle do mefenoxam (metalaxil-M) abrange uma ampla gama de doenças causadas por oomicetos em diferentes sistemas de cultivo.
Em solanáceas como batata, tomate e pimentão, o fungicida demonstra excelente eficácia no controle de Phytophthora infestans e de Phytophthora capsici, com doses recomendadas variando entre 0,5 a 1,0 quilograma de ingrediente ativo por hectare, período de carência de sete a quatorze dias e intervalo de reentrada de doze horas.
Em cucurbitáceas, controla eficientemente Pseudoperonospora cubensis e Phytophthora capsici, utilizando doses entre 0,3 a 0,8 quilogramas de ingrediente ativo por hectare, com período de carência reduzido de três a sete dias devido ao ciclo mais curto dessas culturas.
Para brássicas como repolho, couve-flor e brócolis, o controle de Peronospora parasitica é obtido com doses de 0,4 a 0,6 quilogramas por hectare e período de carência de quatorze dias.
O tratamento de sementes representa uma aplicação estratégica fundamental do mefenoxam, especialmente em leguminosas como soja e feijão para controle de Phytophthora sojae e Peronospora manshurica, utilizando doses de dois a quatro gramas por quilograma de sementes.
Em gramíneas como milho e trigo, o tratamento de sementes com dois a seis gramas de ingrediente ativo por quilograma de sementes proporciona proteção efetiva contra podridões causadas por espécies de Pythium durante a germinação e estabelecimento inicial das plântulas.
Gerenciamento da resistência
O desenvolvimento de resistência ao mefenoxam (metalaxil-M) representa uma das principais preocupações no manejo fitossanitário moderno, com casos documentados tanto no Brasil quanto internacionalmente.
Estudos conduzidos com isolados de Phytophthora infestans coletados em tomateiro no Brasil demonstraram variabilidade significativa na sensibilidade ao mefenoxam, indicando o desenvolvimento progressivo de populações com resistência parcial em algumas regiões produtoras importantes, particularmente em áreas de cultivo intensivo com histórico de uso repetitivo do produto.
Internacionalmente, a situação da resistência apresenta-se ainda mais crítica, com a Europa registrando resistência generalizada em P. infestans desde a década de 1980, a América do Norte enfrentando resistência disseminada tanto em P. infestans quanto emergente em P. capsici, e a Ásia observando resistência crescente em diversas espécies de Phytophthora. Estes casos demonstram a importância crucial da implementação de estratégias proativas de manejo da resistência.
As recomendações de rotação com grupos FRAC diferentes constituem a base fundamental das estratégias antirresistência, incluindo a alternância com fungicidas do grupo 11 como azoxistrobina e piraclostrobina, do grupo 3 como tebuconazol e difenoconazol, do grupo 7 como boscalida e fluxapiroxade, e do grupo M como mancozebe, clorotalonil e compostos cúpricos. A utilização de misturas estratégicas, particularmente mefenoxam combinado com mancozebe para proteção multissítio, mefenoxam com clorotalonil para ampliação do espectro de controle, e mefenoxam com cimoxanil para dupla ação sistêmica, demonstra-se eficaz na redução da pressão de seleção.
A decisão entre taxa alta e taxa reduzida deve considerar as condições específicas de cada situação, recomendando-se a dose máxima em condições de alta pressão de doença, populações com histórico de resistência e estádios críticos da cultura, enquanto a dose mínima é apropriada para aplicações preventivas, integração com outros métodos de controle e redução da pressão de seleção para resistência.
Compatibilidades e interações
A compatibilidade do mefenoxam (metalaxil-M) em misturas de tanque representa aspecto fundamental para sua integração em programas fitossanitários complexos.
O produto demonstra excelente compatibilidade com fungicidas de contato como mancozebe, clorotalonil e compostos cúpricos, permitindo a formulação de estratégias de controle que combinam ação sistêmica e proteção multissítio. A compatibilidade com inseticidas organofosforados e piretróides facilita a integração do controle de doenças e pragas em aplicações simultâneas, otimizando custos operacionais e reduzindo o tráfego de máquinas.
Fertilizantes líquidos com pH neutro e adjuvantes não iônicos também apresentam boa compatibilidade, permitindo a nutrição foliar simultânea ao controle fitossanitário. Entretanto, produtos alcalinos com pH superior a 8,0, óleos minerais em altas concentrações, fertilizantes foliares ricos em cálcio e produtos cúpricos em concentrações elevadas devem ser evitados devido ao risco de incompibilidade química e potencial fitotoxicidade.
O risco de fitotoxicidade, embora baixo na maioria das situações, pode manifestar-se em condições específicas incluindo aplicações sob temperaturas elevadas superiores a 30°C, alta umidade relativa associada à baixa ventilação, sobredosagem acidental, plantas sob estresse hídrico severo, e variedades sensíveis de cucurbitáceas, onde podem ocorrer sintomas de amarelecimento foliar leve.
Eficácia agronômica
A eficácia agronômica do mefenoxam é influenciada significativamente pelas condições ambientais durante e após a aplicação. Temperaturas entre 15 a 25°C proporcionam condições ótimas para absorção e translocação, enquanto umidade relativa entre 60 a 85% facilita a penetração cuticular. A ausência de chuvas por duas a quatro horas pós-aplicação é fundamental para garantir absorção adequada antes da lavagem superficial.
Condições limitantes incluem temperaturas extremas inferiores a 10°C ou superiores a 35°C, chuvas intensas nas primeiras duas horas após aplicação, períodos de seca prolongada que reduzem a translocação sistêmica, e pH do solo muito ácido inferior a 5,0 ou muito alcalino superior a 8,0, que podem afetar a disponibilidade e absorção radicular do produto.
As vantagens do mefenoxam incluem ação sistêmica rápida com início de atividade entre duas a quatro horas após aplicação, efeito tríplice preventivo, curativo e antiesporulante, possibilidade de uso em baixas doses de aplicação, persistência adequada de quatorze a vinte e um dias, e excelente compatibilidade com programas de manejo integrado. As limitações compreendem espectro restrito a oomicetos, alto risco de desenvolvimento de resistência, custo elevado comparado a fungicidas de contato, e dependência de condições climáticas específicas para máxima eficácia.