Mancozebe

27.05.2025 | 14:03 (UTC -3)

O mancozebe é um fungicida de contato pertencente ao grupo dos ditiocarbamatos, amplamente utilizado no controle preventivo de doenças fúngicas em diversas culturas agrícolas.

Caracteriza-se por sua ação multissítio, apresentando baixo risco de desenvolvimento de resistência em patógenos. É eficaz contra oídios, míldios, ferrugens, manchas foliares e antracnoses em culturas como batata, tomate, uva, citros, café, soja e hortaliças.

Sua aplicação requer manejo cuidadoso devido às restrições toxicológicas e ambientais, sendo classificado como produto de classe II (altamente tóxico).

Identificação química

Nome comum (ISO): Mancozeb

Nome químico oficial: complexo de coordenação de íon manganês com íon zinco de etilenobis (ditiocarbamato)

Fórmula química bruta: C8H12MnN4S8Zn

Número CAS: 8018-01-7

Classe química: Ditiocarbamato

Estrutura molecular:

  • Peso molecular: 541,1 g/mol
  • Complexo organometálico contendo manganês e zinco coordenados com ligantes ditiocarbamato

Histórico: Desenvolvido pela Rohm and Haas Company na década de 1960, o mancozebe foi introduzido no mercado agrícola em 1961. Representa uma evolução dos fungicidas à base de enxofre e cobre, oferecendo maior eficácia e espectro de controle. No Brasil, foi registrado pela primeira vez na década de 1970, tornando-se um dos fungicidas mais utilizados na agricultura nacional.

Modo de ação

Mecanismo bioquímico específico: mancozebe atua como fungicida multissítio, interferindo em múltiplas vias metabólicas dos fungos patogênicos. Sua principal ação ocorre através da inibição de enzimas contendo grupos sulfidrilas (-SH), essenciais para o metabolismo energético e síntese proteica dos fungos.

Alvo bioquímico: grupos sulfidrilas de cisteína em enzimas críticas como piruvato desidrogenase, succinato desidrogenase, aconitase, enzimas do ciclo de Krebs.

Grupo FRAC: M (Multissítio) - Código M3

Consequências fisiológicas no patógeno: a inibição enzimática resulta em comprometimento da respiração celular, síntese de ATP, formação da parede celular e divisão nuclear. Isso leva à morte celular do patógeno por colapso metabólico generalizado, impedindo a germinação de esporos e o crescimento de hifas.

Espectro de Controle

Alguns exemplos de fungos controlados por mancozeb, divididos por culturas...

Batata (Solanum tuberosum): requeima (Phytophthora infestans), pinta-preta (Alternaria solani). Dose: 1,5-3,0 kg p.c./ha

Tomate (Solanum lycopersicum): requeima (Phytophthora infestans), pinta-preta (Alternaria solani), septoriose (Septoria lycopersici). Dose: 2,0-3,0 kg p.c./ha

Uva (Vitis vinifera): míldio (Plasmopara viticola), antracnose (Elsinoe ampelina). Dose: 2,0-4,0 kg p.c./ha

Café (Coffea arabica): ferrugem (Hemileia vastatrix), cercosporiose (Cercospora coffeicola). Dose: 2,5-4,0 kg p.c./ha

Soja (Glycine max): ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), mancha-alvo (Corynespora cassiicola). Dose: 1,5-2,5 kg p.c./ha

Intervalos de segurança:

  • PHI (Pré-colheita): 7-21 dias (varia conforme cultura)
  • REI (Reentrada): 24-48 horas após aplicação

Gerenciamento da Resistência

Histórico de resistência: devido ao seu modo de ação multissítio, o mancozeb apresenta baixo risco para desenvolvimento de resistência. Casos documentados de resistência são raros, limitando-se a algumas populações de Plasmopara viticola na Europa após uso intensivo por décadas. No Brasil, não há relatos confirmados de resistência ao mancozeb em condições de campo.

Recomendações de manejo:

  • Rotação com fungicidas de diferentes grupos FRAC (triazóis - FRAC 3, estrobilurinas - FRAC 11, SDHI - FRAC 7)
  • Uso em mistura com fungicidas sítio-específicos para reduzir pressão de seleção
  • Aplicação preventiva respeitando intervalos recomendados
  • Monitoramento constante da eficácia em campo

Estratégias de dose: recomenda-se o uso de doses plenas (taxa alta) em condições de alta pressão de doença, evitando subdoses que podem favorecer seleção de isolados menos sensíveis.

Segurança e Impacto Ambiental

Classificação toxicológica: classe II - altamente tóxico (faixa amarela)

Persistência no solo:

  • Meia-vida (DT50): 7-30 dias em condições tropicais
  • Koc: 1.000-5.000 mL/g (adsorção moderada a forte)
  • Degradação por hidrólise e ação microbiana

Potencial de lixiviação: baixo a moderado risco de contaminação de águas subterrâneas devido à adsorção ao solo e degradação relativamente rápida. Maior preocupação está na formação de metabólitos como ETU, que apresenta maior mobilidade.

Risco para organismos não-alvo:

  • Abelhas: moderadamente tóxico (LD50 oral > 100 μg/abelha)
  • Peixes: altamente tóxico (LC50 96h: 1-10 mg/L para várias espécies)
  • Organismos aquáticos: requer cuidados especiais próximo a corpos d'água
  • Aves: moderadamente tóxico (LD50 > 2.000 mg/kg)

Interações e Compatibilidades

Misturas possíveis: fungicidas triazólicos (tebuconazol, propiconazol); estrobilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina); fungicidas cúpricos em baixas concentrações; adjuvantes não iônicos

Misturas proibidas ou problemáticas: produtos alcalinos (pH > 8,0) causam decomposição; óleos minerais em altas concentrações; fertilizantes foliares com alta concentração de ferro

Fitotoxicidade: rara quando usado em doses recomendadas, mas pode ocorrer em:

  • Aplicações em condições de estresse hídrico severo
  • Mistura com óleos em altas temperaturas (> 30°C)
  • Sobreposição de aplicações com intervalos muito curtos

Eficácia Agronômica e Posicionamento Estratégico

Condições que afetam a eficácia:

  • Chuva: lavagem após 2-4 horas reduz significativamente a eficácia
  • Temperatura: eficácia reduzida acima de 35°C devido à volatilização
  • Umidade: maior eficácia em condições de alta umidade relativa
  • pH da calda: ótimo entre 6,0-7,0

Vantagens competitivas: amplo espectro de controle; baixo risco de resistência; ação residual adequada (7-14 dias); compatibilidade com programas integrados; custo relativamente baixo.

Limitações: ausência de ação curativa ou erradicante; restrições toxicológicas e ambientais; necessidade de reaplicações frequentes; limitações climáticas para aplicação.

Posicionamento estratégico por sistema:

  • Soja - uso preventivo no início do período reprodutivo (R1-R3), alternado com triazóis e estrobilurinas para manejo de ferrugem asiática.
  • Milho - aplicação preventiva em V8-VT para controle de helmintosporiose e cercosporiose, especialmente em sistemas de alta tecnologia.
  • Algodão - posicionamento no terço médio da cultura para controle de ramulária e alternária, em rotação com SDHI.
  • Café - uso preventivo antes do período chuvoso para controle de ferrugem, intercalado com triazóis sistêmicos.
  • Cana-de-açúcar - aplicação em mudas e plantas jovens para controle de ferrugem e helmintosporiose.
  • Hortaliças - base dos programas preventivos, especialmente para controle de míldios e requeimas em solanáceas e cucurbitáceas.

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