Ledprona é uma molécula inovadora no campo da proteção de cultivos, classificada como biopesticida à base de RNA de dupla fita (dsRNA).
Representa um avanço na agricultura sustentável, especialmente para o controle de pragas em culturas de batata, atuando de forma altamente específica contra o besouro-da-batata-do-colorado (Leptinotarsa decemlineata, ou CPB, na sigla em inglês), uma das principais pragas que causam perdas significativas em plantações de Solanaceae.
Diferente dos inseticidas químicos tradicionais, a ledprona utiliza mecanismos biológicos naturais, como a interferência de RNA (RNAi), minimizando impactos em organismos não-alvo e no meio ambiente.
Nome comum (ISO): Ledprona
Sinônimos:
- RNA (Leptinotarsa decemlineata-specific recombinant double-stranded interfering GS2)
- GS2 (código de desenvolvimento)
- Calantha (nome de produto comercial)
Fórmula bruta: como uma molécula de RNA de dupla fita (dsRNA) com 490 pares de bases, a ledprona possui fórmulas específicas para as fitas sense e antisense:
Fita sense: C₄₄₀₉H₅₃₉₈N₁₇₉₄O₃₂₀₈P₄₆₀
Fita antisense: C₄₃₃₁H₅₃₈₅N₁₆₂₅O₃₂₃₄P₄₆₀
Essa estrutura é uma oligonucléotida recombinante projetada para interferir em genes específicos do CPB, com sequências de bases (adenina - A, citosina - C, guanina - G e uracila - U) otimizadas para estabilidade e eficácia.
Número CAS: 2433753-68-3
Classe química: biopesticida bioquímico à base de dsRNA (RNA de dupla fita recombinante). Pertence à classe de inseticidas RNAi (interferência de RNA), diferenciando-se de classes químicas tradicionais por ser uma molécula biológica grande e não persistente no ambiente.
Ano de lançamento: embora registrada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 22 de dezembro de 2023, o lançamento comercial ocorreu em 2024.
Histórico de desenvolvimento: a ledprona foi desenvolvida pela GreenLight Biosciences, Inc., uma empresa de biotecnologia sediada em Medford, Massachusetts (EUA), com foco em plataformas de manufatura sem células para produção em escala de moléculas de RNA. O desenvolvimento começou na década de 2010, impulsionado pela necessidade de alternativas aos inseticidas químicos para combater a resistência do CPB, que afeta mais de 80% das plantações de batata nos EUA. Estudos iniciais de eficácia e modo de ação foram publicados em 2021, demonstrando mortalidade larval superior a 90% em bioensaios laboratoriais e de campo. Em 2022, foi validada como um novo grupo de ação (IRAC 35) pela Insecticide Resistance Action Committee (IRAC). A EPA concedeu uma permissão experimental em maio de 2023 para testes em 10 estados produtores de batata, seguida do registro completo em dezembro de 2023, com isenção de tolerância para resíduos em batatas. O produto Calantha foi aprovado em vários estados em janeiro de 2024, integrando-se a programas de manejo integrado de pragas (MIP) para rotação com outros inseticidas.
Modo de ação: a ledprona atua via interferência de RNA (RNAi), um mecanismo natural de defesa usado por plantas e insetos para silenciar genes indesejados. Especificamente, ela se liga ao gene PSMB5 (subunidade beta-5 do proteassoma) no CPB, inibindo a produção de uma enzima essencial para a degradação de proteínas. Isso leva à acumulação de resíduos metabólicos tóxicos nas células do besouro, causando paralisia, cessação de alimentação e mortalidade em 3-6 dias. O processo é altamente específico: o dsRNA é ingerido pelas larvas, processado em pequenas RNAs interferentes (siRNAs) no intestino do inseto, e não afeta vertebrados ou outros artrópodes devido a barreiras fisiológicas e degradação rápida (meia-vida <1 hora em fluidos gástricos simulados). Classificada no grupo 35 da IRAC (supressores direcionados mediados por RNAi), ela é eficaz contra populações resistentes a inseticidas químicos e promove a sustentabilidade agrícola ao degradar rapidamente no ambiente (sem resíduos detectáveis em solo, água ou alimentos).
Números de patentes: US 20200149044, WO 2020097414A1 e outras.
Eficácia em ensaios de campo
A ledprona demonstrou alta performance em diversos testes, superando expectativas para um biopesticida. Em bioensaios laboratoriais, exposições a doses baixas (equivalentes a 7-9 g de ingrediente ativo por hectare) resultaram em mortalidade larval superior a 90% em todas as instâncias do besouro-da-batata-do-colorado (CPB), com redução significativa no consumo de folhas e na mobilidade dos insetos adultos.
Em ensaios de estufa em plantas inteiras, a ledprona performou de forma equivalente ao inseticida químico spinosad, um padrão ouro no controle de pragas. Ensaios de campo realizados entre 2019 e 2023, incluindo testes pela Universidade de Minnesota, confirmaram que ela limita a desfoliação das batatas de maneira comparável a inseticidas convencionais, com proteção consistente contra larvas de instâncias tardias.
Em 2024-2025, estudos adicionais validaram sua eficácia em condições reais de cultivo, incluindo populações resistentes a químicos, reforçando seu papel no manejo integrado de pragas (MIP).
Perfil de segurança
Um dos maiores atrativos da ledprona é seu perfil de segurança excepcional, alinhado à agricultura regenerativa. Ela é altamente seletiva, sem efeitos detectáveis em artrópodes não-alvo, como joaninhas (predadoras benéficas), polinizadores, aves, peixes ou humanos — classificada como Categoria IV de toxicidade pela EPA (baixa toxicidade oral).
Um estudo de 2025 analisou respostas de artrópodes não-alvo em campos tratados com Calantha e não encontrou impactos em abundância ou diversidade de espécies benéficas.
Ambientalmente, a molécula degrada rapidamente: meia-vida inferior a 1 hora em condições aeróbicas e aquáticas, sem persistência no solo ou água, e sem resíduos detectáveis em colheitas de batata. Isso contrasta com inseticidas químicos persistentes, reduzindo riscos de contaminação e promovendo a biodiversidade.
Apesar de críticas iniciais de grupos como o Center for Food Safety sobre avaliações ecológicas, a EPA confirmou em 2023-2024 que os riscos são negligíveis, com isenção de tolerâncias para resíduos.