
O isopirazam (isopyrazam, SYN520453) é um fungicida sistêmico de amplo espectro desenvolvido pela Syngenta na primeira década dos anos 2000. Identificado pelo número CAS 881685-58-1 e fórmula bruta C20H23F2N3O, pertence à classe dos inibidores da succinato desidrogenase.
Mecanismo de ação
O isopirazam atua como inibidor da succinato desidrogenase, enzima chave do Complexo II da cadeia respiratória mitocondrial, bloqueando efetivamente o transporte de elétrons e a consequente produção de adenosina trifosfato (ATP). Esta interferência bioquímica ocorre através da ligação do fungicida ao sítio ativo da enzima, impedindo a oxidação do succinato a fumarato, reação fundamental do ciclo de Krebs.
A classificação do isopirazam no Grupo FRAC 7 reflete sua especificidade de ação sobre o Complexo II da respiração celular, distinguindo-o de outros grupos de fungicidas respiratórios como os inibidores QoI (Grupo 11) e QiI (Grupo 21).
As consequências fisiológicas da inibição da succinato desidrogenase manifestam-se através de múltiplos mecanismos celulares. A depleção energética resultante do bloqueio da produção de ATP compromete processos vitais como a germinação de esporos, alongamento do tubo germinativo e desenvolvimento de estruturas reprodutivas. Simultaneamente, o acúmulo de succinato e a desregulação do equilíbrio redox celular induzem estresse oxidativo, culminando em necrose celular e morte do patógeno.
Aplicações práticas
O perfil de atividade biológica do isopirazam caracteriza-se pela eficácia contra um amplo espectro de fungos fitopatogênicos, particularmente aqueles pertencentes às classes Ascomycetes e Basidiomycetes.
Dentre seus alvos, podem ser citados: Alternaria spp., Mycosphaerella fijiensis , Puccinia spp. e Septoria tritici.
As doses recomendadas variam conforme a cultura e a pressão de doença, oscilando entre 75-125 g de ingrediente ativo por hectare em cereais, 100-150 g/ha em banana e 50-100 g/ha em hortaliças. Os intervalos de segurança pré-colheita variam entre 7 e 28 dias, dependendo da cultura e das condições regulamentares específicas de cada país, enquanto os intervalos de reentrada situam-se tipicamente entre 12 e 48 horas.
Manejo da resistência
A questão da resistência a fungicidas constitui uma preocupação crescente na agricultura moderna, e o isopirazam não está imune a essa problemática. O histórico de casos de resistência a fungicidas SDHI, observado inicialmente em Botrytis cinerea em vinhedos europeus, alertou a comunidade científica para a necessidade de estratégias proativas de manejo da resistência. Subsequentemente, casos confirmados em Sclerotinia sclerotiorum e mutações pontuais nos genes sdh de isolados de Alternaria alternata demonstraram que a resistência cruzada dentro do grupo FRAC 7 representa uma realidade concreta.
As estratégias de manejo da resistência devem fundamentar-se em princípios científicos sólidos, incluindo a rotação com fungicidas de diferentes grupos FRAC, especialmente os grupos 1 (MBC), 3 (DMI) e 11 (QoI). As misturas em tanque com fungicidas multissítio, como compostos cúpricos e enxofre, constituem ferramenta complementar importante, reduzindo a pressão seletiva sobre populações de patógenos. A limitação do número de aplicações a 2-3 por ciclo cultural e a preferência por aplicações preventivas em detrimento de curativas representam medidas adicionais fundamentais.
Compatibilidades e interações técnicas
As compatibilidades permitidas incluem fungicidas sistêmicos dos grupos triazóis e estrobilurinas, proporcionando oportunidades valiosas para programas de aplicação integrada. A compatibilidade com fungicidas de contato, especialmente compostos cúpricos e enxofre, oferece possibilidades para estratégias de manejo da resistência através de misturas multissítio.
A interação com adjuvantes não-iônicos geralmente se mostra favorável, podendo melhorar a distribuição e aderência do produto. Fertilizantes foliares com pH neutro demonstram compatibilidade adequada, permitindo a racionalização de operações de campo através da aplicação conjunta.
As incompatibilidades identificadas incluem produtos com pH alcalino superior a 8,0, que podem comprometer a estabilidade química do fungicida. Óleos minerais em altas concentrações e fertilizantes com alto teor de cálcio podem resultar em precipitação ou redução da eficácia biológica.
A fitotoxicidade potencial manifesta-se principalmente sob condições específicas, incluindo aplicações em altas temperaturas (superiores a 30°C), plantas sob estresse hídrico severo ou misturas inadequadas com óleos vegetais. Algumas variedades de cucurbitáceas e plantas ornamentais de folhas delicadas demonstram maior sensibilidade, requerendo cuidados especiais ou testes preliminares.
Eficácia agronômica
A eficácia agronômica do isopirazam é influenciada por diversos fatores climáticos e operacionais que devem ser considerados no planejamento de aplicações. A resistência à lavagem por chuvas, observada após 2-4 horas da aplicação, confere flexibilidade operacional importante em condições de instabilidade climática. A redução da eficácia em temperaturas inferiores a 10°C orienta o timing de aplicações, especialmente em regiões de clima temperado.
A umidade relativa superior a 60% favorece a performance do produto, provavelmente através da melhoria das condições de absorção foliar e atividade biológica. A estabilidade sob radiação solar normal permite aplicações durante o dia, embora períodos de menor intensidade luminosa possam ser preferenciais para otimização da eficácia.
O posicionamento estratégico do isopirazam varia conforme o sistema produtivo considerado.
Na cultura da soja, a aplicação preventiva durante o início do enchimento de grãos (estádios R3-R4) proporciona proteção eficaz contra Septoria glycines e Cercospora kikuchii, patógenos limitantes da produtividade. A combinação com estrobilurinas neste momento oferece ampliação do espectro de controle, incluindo ferrugem asiática quando presente.
Em milho, o posicionamento nos estádios V6-V8 visa principalmente o controle de doenças foliares como Exserohilum turcicum e Cercospora zeae-maydis. A possibilidade de integração com inseticidas sistêmicos racionaliza operações e reduz custos operacionais.
Na triticultura, a aplicação preventiva durante o espigamento constitui estratégia consolidada para o controle de Septoria tritici, devendo ser obrigatoriamente rotacionada com fungicidas multissítio para preservação da eficácia. O manejo integrado com outras práticas culturais, incluindo resistência genética e controle biológico, potencializa os resultados.
A aplicação em cana-de-açúcar, tradicionalmente no tratamento de mudas pré-plantio, oferece proteção inicial contra Leptosphaeria sacchari. A possibilidade de aplicação via sistema de irrigação abre perspectivas interessantes para grandes áreas, embora requeira estudos específicos de viabilidade técnica e econômica.
Na cafeicultura, o isopirazam encontra aplicação no controle de Hemileia vastatrix integrado a programas rotativos, especialmente durante o período chuvoso quando as condições favorecem o desenvolvimento da doença. A combinação com fungicidas cúpricos oferece proteção prolongada e manejo da resistência.
Em sistemas de horticultura, particularmente em cultivo protegido, o manejo preventivo de espécies de Alternaria em solanáceas requer rotação obrigatória devido ao risco elevado de desenvolvimento de resistência. O ambiente controlado facilita a implementação de estratégias integradas de manejo.
A fruticultura apresenta oportunidades específicas, incluindo programas antirresistência em citros e controle de doenças pós-colheita através do tratamento de frutos. A aplicação dirigida nestes sistemas permite redução do impacto ambiental mantendo eficácia adequada.