Flg22-Bt

27.06.2025 | 11:55 (UTC -3)

A sequência de aminoácidos do peptídeo Flg22-Bt é extraída da região N-terminal conservada da flagelina de Bacillus thuringiensis, uma proteína que originalmente compõe os filamentos flagelares responsáveis pela motilidade bacteriana.

Essa flagelina, como principal componente estrutural dos flagelos, desempenha papel na locomoção bacteriana através da formação de estruturas helicoidais que permitem movimento em ambientes aquosos.

Mecanismo de ação

O mecanismo de ação do Flg22-Bt representa uma demonstração de como a especificidade molecular pode ser explorada biotecnologicamente. O processo inicia-se com o reconhecimento do peptídeo pelo receptor FLS2 (Flagellin-Sensing 2) presente na superfície das células vegetais. Esta interação receptor-ligante desencadeia uma cascata molecular complexa que exemplifica a sofisticação dos sistemas de defesa vegetal.

A ligação do Flg22-Bt ao receptor FLS2 promove mudanças conformacionais que ativam domínios quinase intracelulares, iniciando uma rede de fosforilação que se propaga através de proteínas MAPK. Esta amplificação do sinal resulta na ativação de fatores de transcrição específicos, que por sua vez regulam a expressão de centenas de genes relacionados à defesa.

O resultado é uma resposta coordenada que inclui a produção de espécies reativas de oxigênio, síntese de compostos antimicrobianos, fortalecimento da parede celular e estabelecimento de resistência sistêmica.

Aspectos temporais e sistêmicos

A cinética de ação do Flg22-Bt revela a sofisticação temporal dos sistemas de defesa vegetal. Em questão de minutos, observam-se as primeiras alterações moleculares: fluxos iônicos transmembranares e eventos de fosforilação.

Nas horas subsequentes, a maquinaria de expressão gênica é mobilizada para produzir as proteínas necessárias à defesa.

Em dias, estabelece-se um estado de resistência que se estende sistemicamente por toda a planta, e em semanas, consolida-se uma memória imunológica que mantém a planta em estado de alerta prolongado.

Esta resposta sistêmica representa um dos aspectos do Flg22-Bt. Diferentemente de defensivos que atuam localmente, este peptídeo desencadeia a resistência sistêmica adquirida (SAR), um fenômeno pelo qual a aplicação localizada resulta em proteção de toda a planta. Sinais moleculares são transportados através do sistema vascular, preparando tecidos distantes para potenciais ataques de patógenos.

Sustentabilidade e impacto ambiental

A origem biológica do Flg22-Bt e mecanismo de ação baseado na ativação de defesas endógenas das plantas resultam em impacto ambiental mínimo.

O peptídeo é rapidamente degradado por enzimas naturais, sendo metabolizado em aminoácidos constituintes que são incorporados às vias metabólicas primárias das plantas. Esta biodegradabilidade elimina preocupações com acúmulo ambiental ou biomagnificação na cadeia alimentar.

Além disso, até onde se sabe, o Flg22-Bt não afeta significativamente microrganismos benéficos do solo ou a microbiota foliar não patogênica, preservando o equilíbrio microbiano essencial para a saúde dos ecossistemas agrícolas.

Aspectos regulatórios e segurança

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) estabeleceu isenção de tolerância para resíduos deste peptídeo em todas as commodities alimentares, reconhecendo que exposições dietárias são negligíveis e não representam riscos toxicológicos.

A decisão baseia-se em dados indicando que o peptídeo é rapidamente degradado no trato gastrointestinal humano e não apresenta potencial alergênico ou mutagênico.

Os dados toxicológicos indicam classificação na categoria IV para a maioria dos parâmetros de toxicidade aguda, representando o menor nível de preocupação toxicológica.

Desafios e limitações

Apesar de suas vantagens, o Flg22-Bt enfrenta desafios. A variabilidade na responsividade entre diferentes espécies vegetais e cultivares pode limitar sua aplicação universal. Fatores ambientais como temperatura, umidade e estresse abiótico podem modular sua eficácia, exigindo ajustes nas estratégias de aplicação.

Além disso, a eficácia predominantemente preventiva do produto requer mudanças nos paradigmas de manejo fitossanitário, tradicionalmente focados em aplicações curativas.

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