
O clorotalonil é um fungicida multissítio de contato, amplamente utilizado para controle preventivo de doenças fúngicas em diversas culturas agrícolas.
Pertencente ao grupo químico das isoftalonitrilas (FRAC M5), apresenta amplo espectro de ação contra patógenos como Alternaria spp., Septoria spp., Cercospora spp. e Colletotrichum spp.
É especialmente valorizado em culturas como soja, milho, algodão, batata, tomate e frutíferas, sendo fundamental em programas de manejo de resistência devido ao seu mecanismo de ação multissítio.
Desenvolvido pela Diamond Shamrock Corporation no final da década de 1960, foi registrado pela primeira vez em 1969. No Brasil, teve seu uso aprovado na década de 1980, tornando-se um dos fungicidas mais utilizados na agricultura nacional devido à sua eficácia e baixo risco de resistência.
Nome comum (ISO): Clorotalonil (Chlorothalonil)
Nome químico oficial: 2,4,5,6-tetracloro-1,3-benzeno-dicarbonitrila
Fórmula química bruta: C₈Cl₄N₂
Número CAS: 1897-45-6
Classe química: Isoftalonitrila (cloronitrilos)
Estrutura molecular:
•Peso molecular: 265,90 g/mol
•Grupo funcional: Nitrila aromática halogenada
Modo de ação
O clorotalonil atua como fungicida multissítio, interferindo simultaneamente em múltiplas vias metabólicas dos fungos. Seu principal mecanismo envolve a reação com grupos sulfidrila (-SH) presentes em enzimas essenciais, causando disfunção de proteínas e interrompendo processos celulares vitais.
Alvo bioquímico: grupos tiol de cisteína em enzimas críticas para respiração celular, incluindo componentes da cadeia de transporte de elétrons mitocondrial e enzimas glicolíticas.
Grupo FRAC e código de resistência: Grupo M5 (fungicida multissítio de contato). Devido ao seu mecanismo multissítio, apresenta baixíssimo risco de desenvolvimento de resistência.
Consequências fisiológicas no patógeno: inibição da respiração celular, interrupção da síntese proteica, ruptura da integridade da membrana celular e bloqueio da germinação de esporos e crescimento micelial.
Espectro de controle
A versatilidade do clorotalonil manifesta-se em seu amplo espectro de controle sobre diversos patógenos fúngicos em múltiplas culturas agrícolas. Na sojicultura, o produto tem se mostrado eficaz contra a ferrugem asiática causada por Phakopsora pachyrhizi, a manchaialvo provocada por Corynespora cassiicola, a antracnose ocasionada por Colletotrichum truncatum e a cercosporiose causada por Cercospora kikuchii. As doses recomendadas para a cultura da soja variam entre 1,0 e 1,5 litros de produto comercial por hectare, dependendo da pressão de doença e das condições ambientais.
No cultivo do milho, o clorotalonil demonstra eficácia no controle da mancha de turcicum (Exserohilum turcicum), cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) e ferrugem comum (Puccinia sorghi), com doses recomendadas entre 1,2 e 2,0 litros por hectare.
A cotonicultura também se beneficia significativamente deste fungicida, especialmente para o controle da ramularia (Ramularia areola), mancha angular (Xanthomonas citri pv. malvacearum) e alternariose (Alternaria macrospora), utilizando-se doses entre 1,0 e 1,5 litros por hectare.
Em culturas como batata e tomate, o clorotalonil assume papel ainda mais crítico devido à sua eficácia contra a requeima (Phytophthora infestans), uma das doenças mais devastadoras destas solanáceas. Na batata, também controla eficientemente a pinta preta (Alternaria solani), enquanto no tomate é eficaz contra septoriose (Septoria lycopersici) e antracnose (Colletotrichum coccodes). As doses para estas culturas são geralmente mais elevadas, variando de 1,5 a 3,0 litros por hectare, refletindo a maior suscetibilidade destas culturas às doenças fúngicas.
Resistência e sustentabilidade
O gerenciamento da resistência representa um dos aspectos mais relevantes do uso do clorotalonil na agricultura moderna. Sua classificação como fungicida multissítio confere-lhe uma posição única nos programas de manejo integrado de doenças, funcionando como âncora para a prevenção do desenvolvimento de resistência a outros fungicidas com mecanismos de ação específicos.
A estratégia de rotação e mistura de fungicidas com diferentes grupos FRAC tem no clorotalonil um componente fundamental. Sua utilização em alternância com fungicidas dos grupos G (triazóis), 3 (benzimidazóis), 11 (estrobilurinas) e 7 (inibidores de succinato desidrogenase) permite manter a eficácia do arsenal fungicida disponível. Além disso, sua aplicação em misturas com fungicidas sistêmicos potencializa a eficácia do tratamento, proporcionando controle preventivo através do clorotalonil e ação curativa através do componente sistêmico.
A recomendação técnica atual preconiza sempre a utilização da dose máxima recomendada para cada cultura, garantindo não apenas a eficácia máxima do produto, mas também contribuindo para o manejo preventivo de resistência de outros fungicidas utilizados em mistura. Esta abordagem de "taxa alta" contrasta com estratégias de redução de doses que, embora possam parecer economicamente atrativas no curto prazo, podem comprometer a sustentabilidade do sistema de controle no longo prazo.
Segurança e impacto ambiental
A classificação toxicológica do clorotalonil como Classe II (altamente tóxico, faixa amarela) demanda cuidados especiais em seu manuseio e aplicação. Esta classificação reflete não apenas a toxicidade intrínseca do produto, mas também a necessidade de implementação de medidas de segurança adequadas para proteger aplicadores, trabalhadores rurais e o ambiente.
O comportamento ambiental do clorotalonil caracteriza-se por uma persistência no solo moderada, com meia-vida variando entre 30 e 100 dias, dependendo das condições de temperatura, umidade e pH do solo. O coeficiente de adsorção (Koc) entre 1.380 e 5.000 mL/g indica baixa mobilidade no solo, resultando em baixo potencial de lixiviação e, consequentemente, baixo risco de contaminação de águas subterrâneas. Esta característica é particularmente importante em regiões com solos arenosos ou em áreas próximas a mananciais de abastecimento.
Os riscos para organismos não-alvo merecem atenção especial na tomada de decisão sobre o uso do clorotalonil. Para abelhas, o produto apresenta toxicidade moderada, exigindo que aplicações sejam evitadas durante o período de floração das culturas ou em horários de maior atividade dos polinizadores. Para peixes e organismos aquáticos, a toxicidade é considerada alta, tornando fundamental a manutenção de distâncias adequadas de corpos d'água durante as aplicações. O impacto sobre microorganismos benéficos do solo é considerado baixo a moderado, não comprometendo significativamente a atividade biológica dos solos quando utilizado conforme as recomendações técnicas.
Compatibilidade e interações
A versatilidade do clorotalonil estende-se também à sua compatibilidade com outros produtos fitossanitários e fertilizantes foliares. Esta característica permite sua integração em programas complexos de manejo, onde múltiplos produtos são aplicados simultaneamente para otimizar custos operacionais e maximizar eficiência.
Entre as misturas permitidas e recomendadas destacam-se as combinações com fungicidas sistêmicos de diferentes grupos FRAC, como triazóis, estrobilurinas e inibidores de succinato desidrogenase. Esta compatibilidade permite a formulação de estratégias de controle que combinam a ação preventiva multissítio do clorotalonil com a ação sistêmica e curativa dos demais componentes. Inseticidas organofosforados e piretroides também apresentam boa compatibilidade, possibilitando o controle simultâneo de doenças e pragas.
Entretanto, algumas misturas devem ser evitadas devido ao potencial de incompatibilidade física ou química. Produtos altamente alcalinos com pH superior a 8,5 podem causar hidrólise do clorotalonil, reduzindo sua eficácia. Óleos minerais em altas concentrações podem alterar a dinâmica de liberação do produto, enquanto produtos contendo cobre em pH elevado podem formar precipitados que comprometem a eficácia da aplicação.
O potencial fitotóxico do clorotalonil é considerado baixo quando utilizado nas doses recomendadas, mas pode manifestar-se em condições ambientais extremas. Temperaturas superiores a 35°C combinadas com alta umidade relativa podem predispor as plantas a sintomas de fitotoxicidade, especialmente em culturas mais sensíveis ou em estádios fenológicos críticos.
Eficácia agronômica
A eficácia agronômica do clorotalonil é significativamente influenciada pelas condições ambientais durante e após a aplicação. A ocorrência de chuvas representa um dos fatores mais críticos, sendo necessário um intervalo mínimo de 2 a 4 horas após a aplicação para que ocorra a fixação adequada do produto na superfície foliar. Chuvas intensas dentro deste período podem comprometer significativamente a eficácia do tratamento, exigindo reaplicação.
A faixa de temperatura entre 15 e 30°C proporciona condições ótimas para a ação do clorotalonil, enquanto temperaturas extremas podem reduzir sua eficácia ou aumentar o risco de fitotoxicidade. Condições de alta umidade relativa favorecem a ação do produto, uma vez que facilitam a aderência e distribuição uniforme sobre a superfície foliar.
O posicionamento estratégico do clorotalonil nos diferentes sistemas de cultivo reflete sua versatilidade e importância. Na sojicultura, sua utilização concentra-se nas primeiras aplicações do programa fungicida, especialmente entre os estádios V4 e R2, funcionando como âncora para o controle preventivo de doenças de final de ciclo. Esta estratégia é particularmente importante em regiões onde a pressão de ferrugem asiática é elevada, permitindo estabelecer uma base sólida de proteção antes da aplicação de fungicidas sistêmicos mais específicos.
No cultivo do milho, a aplicação preventiva no período entre V8 e VT tem se mostrado fundamental, especialmente em regiões com histórico de cercosporiose e turcicum. A aplicação neste período crítico protege as folhas superiores da planta, que são essenciais para o enchimento de grãos, garantindo que o potencial produtivo seja preservado.
A cotonicultura apresenta particularidades que tornam o clorotalonil especialmente valioso. O programa de aplicações iniciando no estádio B1, com intervalos de 14 a 21 dias, sempre em mistura com fungicidas sistêmicos, tem se mostrado eficaz para o controle da ramulária, uma das principais doenças da cultura. A natureza preventiva do clorotalonil é fundamental neste contexto, uma vez que a ramulária é uma doença de difícil controle quando já estabelecida.
Na cana-de-açúcar, a aplicação aérea de clorotalonil para controle preventivo de ferrugem e outras doenças foliares tem ganhado importância crescente, especialmente em variedades mais suscetíveis e em regiões com condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de doenças.