
O fungo Bipolaris maydis pertence à classe Dothideomycetes e à família Pleosporaceae. Trata-se de patógeno agrícola de grande relevância, especialmente para a cultura do milho (Zea mays).
Este fungo é conhecido por causar uma das doenças mais devastadoras que afetam o milho: a mancha-de-bipolaris ou mancha-marrom. Sua capacidade de causar perdas significativas na produtividade agrícola torna essencial o estudo detalhado de sua biologia, etiologia e impacto econômico.
Características morfológicas e taxonomia
A compreensão da biologia de Bipolaris maydis começa com sua estrutura morfológica. Este fungo apresenta conídios multicelulares, fusiformes ou cilíndricos, com paredes espessas e coloração marrom-escura.
Esses conídios são produzidos em estruturas chamadas conidióforos, que emergem das hifas septadas (com divisões transversais) e ramificadas. A pigmentação escura dos conídios confere resistência a condições adversas, como radiação ultravioleta e dessecação, permitindo que eles sobrevivam prolongadamente no ambiente.
Classificado inicialmente sob o gênero Helminthosporium, Bipolaris maydis foi posteriormente reclassificado após avanços em estudos filogenéticos.
Atualmente, pertence ao gênero Bipolaris, que inclui outros fungos fitopatogênicos conhecidos por causar doenças em diversas culturas agrícolas.
- Reino: Fungi
- Filo: Ascomycota
- Classe: Dothideomycetes
- Ordem: Pleosporales
- Família: Pleosporaceae
- Gênero: Bipolaris
- Espécie: Bipolaris maydis
Seu ciclo de vida é predominantemente assexuado, embora existam registros raros de reprodução sexual envolvendo a formação de ascocarpos e ascosporos.
Algumas outras espécies de Bipolaris com relevância econômica e seus hospedeiros
- Bipolaris cynodontis - gramíneas (Cynodon dactylon, por exemplo)
- Bipolaris oryzae - arroz (Oryza sativa)
- Bipolaris sacchari - cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)
- Bipolaris setariae - gramíneas (Setaria italica, por exemplo)
- Bipolaris sorokiniana - trigo (Triticum aestivum), cevada (Hordeum vulgare) e outros cereais.
Etiologia e mecanismos patogênicos
A etiologia de Bipolaris maydis está ligada às condições ambientais. Temperaturas entre 25°C e 30°C, combinadas com alta umidade relativa (>85%), criam condições ideais para a germinação dos conídios e infecção das plantas.
Chuvas frequentes, irrigação por aspersão e ventos favorecem a disseminação dos esporos, enquanto resíduos vegetais infectados no solo servem como fonte primária de inóculo durante o período de entressafra.
Um dos aspectos mais marcantes da patogenicidade de Bipolaris maydis é sua capacidade de produzir toxinas e enzimas que comprometem severamente o metabolismo do hospedeiro.
A raça T deste fungo, responsável pela epidemia devastadora nos Estados Unidos na década de 1970, produz a T-toxina, uma molécula lipofílica altamente específica para variedades de milho que possuem o gene Tx. Esta toxina age como um inibidor da cadeia respiratória mitocondrial, levando à morte celular e colapso energético nas células do milho.
Além disso, Bipolaris maydis secreta enzimas hidrolíticas, como celulases e pectinases, que degradam as paredes celulares das plantas, facilitando a penetração e colonização do tecido vegetal. Esses mecanismos combinados tornam o fungo altamente eficiente em causar danos irreparáveis ao hospedeiro.

Ciclo de vida e dispersão
O ciclo de vida de Bipolaris maydis começa com a sobrevivência dos conídios em resíduos vegetais infectados no solo.
Em condições adversas, como seca ou temperaturas extremas, os conídios permanecem dormentes até que as condições ambientais melhorem.
Quando expostos a temperaturas amenas e alta umidade, os conídios germinam, produzindo hifas infecciosas.
Os conídios germinados penetram diretamente na epiderme das folhas de milho ou através de estômatos. Uma vez dentro do tecido vegetal, o fungo coloniza as células, degradando-as com enzimas hidrolíticas e toxinas. Após a colonização bem-sucedida, o fungo começa a produzir novos conídios nas estruturas infectadas, reiniciando o ciclo de vida.
Sintomas visuais nas folhas:
- Formato: as lesões são geralmente alongadas ou ovais, com bordas bem definidas.
- Cor: inicialmente, as lesões podem ser amareladas ou verde-claras, mas evoluem para tons de marrom, castanho-escuro ou preto à medida que a doença avança.
- Tamanho: podem variar de alguns milímetros a vários centímetros de comprimento, dependendo da espécie hospedeira e da gravidade da infecção.
- Distribuição: as lesões tendem a se concentrar nas folhas mais velhas, mas podem se espalhar para folhas mais jovens em estágios avançados.
Interações genéticas e raças patogênicas
A interação entre Bipolaris maydis e o milho é um exemplo clássico de coevolução patógeno-hospedeiro.
O gene Tx no milho confere suscetibilidade à T-toxina, enquanto ausência desse gene (genótipo tx-tx) resulta em resistência. Esta especificidade genética destaca a importância do melhoramento genético para desenvolver cultivares resistentes.
Existem várias raças de Bipolaris maydis, cada uma com diferentes níveis de virulência e especificidade para genótipos de milho. A raça T, associada à produção de T-toxina, é a mais conhecida e agressiva.
Outras raças não produzem T-toxina, mas ainda assim podem causar doenças em cultivares sensíveis.
Impacto econômico e agronômico
A mancha-de-bipolaris tem impactos econômicos significativos. Os sintomas incluem lesões necróticas alongadas nas folhas, secamento prematuro e podridão do colmo e espiga. Esses danos comprometem diretamente a fotossíntese, o crescimento e o rendimento de grãos, resultando em perdas substanciais para os agricultores.
Uma das manifestações mais notórias da devastação causada por Bipolaris maydis ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando a raça T do fungo dizimou grandes áreas de cultivo de milho sensível. Essa epidemia levou ao desenvolvimento de variedades de milho resistentes, destacando a importância da pesquisa agronômica e do melhoramento genético.
Controle e manejo integrado
O desenvolvimento de cultivares de milho resistentes a diferentes raças de Bipolaris maydis é uma das abordagens mais eficazes e sustentáveis para controlar a doença. Programas de melhoramento genético têm sido fundamentais para identificar genes de resistência e incorporá-los em novas variedades.
Práticas culturais, como rotação de culturas, eliminação de resíduos vegetais infectados e plantio em épocas adequadas, ajudam a reduzir a presença de inóculo no solo e evitar condições climáticas favoráveis à infecção.
A aplicação de fungicidas específicos, como triazóis ou estrobilurinas, em momentos críticos do ciclo da cultura pode ser eficaz para controlar a doença. (Clique aqui ver os pesticidas registrados para o controle de "Bipolaris maydis")