
Amrasca biguttula (Ishida, 1913), conhecida popularmente como cigarrinha-verde, destaca-se como uma das principais pragas polífagas em sistemas agrícolas tropicais e subtropicais.
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Hemiptera
Subordem: Auchenorrhyncha
Infraordem: Cicadomorpha
Superfamília: Membracoidea
Família: Cicadellidae
Subfamília: Typhlocybinae
Tribo: Erythroneurini
Gênero: Amrasca
Espécie: Amrasca biguttula (Ishida, 1913)
Taxonomia
A posição taxonômica de Amrasca biguttula reflete a complexa evolução dos estudos sistemáticos em Cicadellidae. Originalmente descrita por Ishida em 1913 como Erythroneura biguttula, a espécie foi posteriormente reclassificada em diferentes gêneros, incluindo Typhlocyba e Empoasca, antes de sua atual colocação no gênero Amrasca.
Pertencente à subfamília Typhlocybinae, A. biguttula compartilha características diagnósticas típicas deste grupo altamente especializado, incluindo pequeno porte corporal, ausência de ocelos e presença de fileiras de espinhos nas tíbias posteriores.
Aspectos biológicos
O ciclo biológico de Amrasca biguttula exemplifica as adaptações evolutivas de insetos especializados em explorar recursos vegetais específicos.
Sua metamorfose é incompleta. Dura aproximadamente 15 a 20 dias em condições ótimas. E reflete uma estratégia reprodutiva voltada para a colonização rápida e eficiente de hospedeiros adequados.
A capacidade reprodutiva das fêmeas, que podem depositar 40-60 ovos durante seu período reprodutivo, associada à sobreposição de gerações, resulta em um potencial de crescimento populacional exponencial sob condições favoráveis.
A inserção de ovos no tecido parenquimático das folhas representa uma adaptação comportamental significativa, proporcionando proteção contra dessecação e predadores, enquanto garante que as ninfas emergentes tenham acesso imediato ao recurso alimentar. O desenvolvimento através de cinco ínstares ninfais, com permanência preferencial na face abaxial das folhas, demonstra uma estratégia de minimização de riscos ambientais e maximização da eficiência alimentar.
O comportamento alimentar especializado de A. biguttula é caracterizado pela inserção precisa dos estiletes no mesófilo foliar evitando estruturas vasculares principais. Revela uma coevolução refinada com seus hospedeiros. Esta especialização permite a extração eficiente de nutrientes enquanto minimiza as respostas de defesa das plantas, contribuindo para seu sucesso como praga agrícola.
Dinâmica ecológica
A ecologia de Amrasca biguttula transcende suas características biológicas individuais, inserindo-se em uma complexa rede de interações que determina sua distribuição, abundância e impacto econômico. Sua distribuição geográfica, centrada em regiões tropicais e subtropicais do Velho Mundo, reflete limitações climáticas específicas e oportunidades de colonização associadas à expansão de cultivos hospedeiros.
A polifagia de A. biguttula, com preferência marcante por Malvaceae, especialmente o algodoeiro, mas incluindo também Fabaceae e Solanaceae, ilustra uma estratégia evolutiva que maximiza oportunidades alimentares while mantém especializações fisiológicas necessárias para superar defesas químicas vegetais. Esta flexibilidade alimentar contribui significativamente para sua capacidade de estabelecimento em diferentes agroecossistemas e sua persistência em paisagens agrícolas diversificadas.
As interações com inimigos naturais representam um componente fundamental da dinâmica populacional de A. biguttula. O complexo de predadores, incluindo crisopídeos, antocorídeos, coccinelídeos e aranhas saltadoras, associado aos parasitoides especializados como espécies de Anagrus e Gonatocerus, constitui uma rede de controle biológico natural cuja efetividade pode ser potencializada através de práticas de manejo adequadas.
A estrutura metapopulacional de A. biguttula, caracterizada por populações fonte em cultivos irrigados permanentes e populações sumidouro em hospedeiros temporários, exemplifica a importância da heterogeneidade espacial na dinâmica de pragas agrícolas. Esta organização espacial tem implicações diretas para estratégias de manejo, uma vez que o controle deve considerar tanto as áreas de produção quanto os habitats adjacentes que servem como refúgios e fontes de recolonização.
Estratégias de manejo
Os danos causados por Amrasca biguttula resultam primariamente da extração de seiva e consequente redução da capacidade fotossintética das plantas hospedeiras.
O amarelecimento foliar, encarquilhamento e eventual desfolha prematura podem resultar em perdas significativas de produtividade, especialmente quando as infestações ocorrem durante estádios críticos do desenvolvimento das culturas.
Em algodoeiro, hospedeiro preferencial da espécie, as perdas podem atingir níveis economicamente inaceitáveis em ausência de medidas de controle adequadas.
O manejo integrado de A. biguttula deve incorporar múltiplas estratégias complementares, reconhecendo a complexidade ecológica envolvida. Práticas culturais como eliminação de plantas daninhas hospedeiras, rotação de culturas e seleção de variedades resistentes constituem a base de programas sustentáveis de manejo.
O controle biológico, através da conservação e incremento de inimigos naturais, oferece oportunidades significativas para redução de populações da praga sem impactos ambientais adversos.
O uso de inseticidas químicos, quando necessário, deve ser guiado por monitoramento populacional sistemático e estabelecimento de níveis de dano econômico específicos para cada sistema de cultivo. A rotação de princípios ativos e aplicação direcionada à face inferior das folhas são práticas essenciais para maximizar eficácia e minimizar desenvolvimento de resistência.