Manejo de fertirrigação para aumentar produtividade de banana

Bastante exigente na demanda por água e nutrientes a bananeira encontra na fertirrigação uma ferramenta importante para garantir bons resultados

07.03.2016 | 20:59 (UTC -3)

O Brasil ocupa a quinta posição no ranking dos países produtores de banana, com 7,3 milhões de toneladas, em 2013. São Paulo é o segundo maior produtor com 1,2 milhão de toneladas, sendo superado apenas pela Bahia (1,4 milhão de toneladas).

Em São Paulo, a região do Vale do Ribeira é considerada grande pólo produtor de bananas. Entretanto, nos últimos anos, a bananicultura paulista avançou para o Planalto Paulista, exigindo um pacote tecnológico específico, uma vez que as condições edafoclimáticas destas regiões são distintas.

A deficiência hídrica presente nos meses de outono/inverno no Planalto Paulista torna a irrigação prática fundamental nos bananais. Apesar esta técnica suprir a demanda hídrica das plantas em períodos de estiagem, é necessário que se una a outras práticas culturais, como os manejos nutricional e fitossanitário das bananeiras.

Deve-se ressaltar que a bananeira é uma espécie altamente exigente em água; estudos mostram que sua produtividade está ligada à transpiração da planta, que, por sua vez, é dependente da oferta de água no perfil do solo.

Além da água, o aspecto nutricional é fundamental para a expressão do potencial produtivo da planta. Os nutrientes são, em parte, supridos pela fertilidade natural do solo, mas precisam ser repostos por meio de adubações químicas e orgânicas. Os restos culturais deixados no próprio bananal (folhas, pseudocaules e outros) contribuem nesta reposição, mas a decomposição destes materiais, com consequente oferta dos nutrientes, ocorre lentamente, não sendo suficiente, uma vez que a bananeira é uma espécie de crescimento rápido.

A aplicação de fertilizantes através da água de irrigação é chamada de fertirrigação. Esta técnica proporciona a oferta de água e nutrientes de modo racional às plantas, aumentando a eficiência do uso dos fertilizantes, com melhoria na relação custo/ benefício das adubações, além de diminuir significativamente o impacto ambiental negativo causado pela perda, principalmente através da lixiviação, dos nutrientes alocados no bananal.

Outros pontos positivos relacionados à técnica da fertirrigação são a redução da necessidade de mão de obra e a possibilidade de fracionar as adubações durante todo o ciclo vegetativo/reprodutivo que, de maneira específica, atende as exigências nutricionais e hídricas de cada fase fenológica destas plantas.

Qual é a necessidade hídrica das bananeiras?

Estudos mostram que aproximadamente 80% da bananeira é composto por água. Quanto maior a área foliar, maior a produção de frutos e, consequentemente, maior o consumo de água. Em média, estima-se que uma bananeira necessite de 18 a 20 litros de água por dia, mas este valor é extremamente maleável, uma vez que a demanda hídrica das plantas depende do clima (por exemplo: quanto maior a insolação incidente nas plantas, maior o consumo de água), da idade da planta, do componente genético da variedade, do potencial produtivo da planta, do volume do sistema radicular e outros.

Desse modo, é de se esperar que a irrigação se manifeste de modos diferentes, dependendo da interação de todas essas variáveis. Cada local terá a necessidade de um nível de irrigação, por exemplo, bananais instalados em locais mais elevados tendem a necessitar de maiores lâminas de água quando comparados com plantios em menores altitudes. O mesmo pode-se inferir no caso de plantios realizados em solos arenosos, quando comparados com solos mais argilosos. Fato é que o manejo da lâmina de irrigação (volume e frequência) será dependente das condições edafoclimáticas da região, além das características das variedades (área foliar, altura das plantas, circunferência do pseudocaule, potencial produtivo, etc.), além de outras variáveis, como espaçamento adotado no plantio, manejo da cultura e o próprio método utilizado para irrigar as plantas.

Com relação ao método de irrigação, pode-se afirmar que praticamente todos são utilizados na bananicultura. As vantagens e desvantagens de cada método dependem do custo do sistema, tipo de solo, topografia do terreno, oferta e qualidade de água no local, além de mão de obra disponível para o manejo do sistema. Métodos mais eficientes no uso da água são prioridades.

Outros fatores devem ser considerados para a escolha do método. Sistemas de irrigação que promovam o molhamento foliar das bananeiras (aspersão convencional, por exemplo) tendem a contribuir para o surgimento de doenças, principalmente as sigatokas negra e amarela, dificultando e onerando o manejo do bananal.

De modo, geral, os estudos indicam que os sistemas de irrigação localizados (gotejamento e microaspersão) são os mais recomendados para os bananais do Planalto Paulista, devido à maior eficiência, facilidade no manejo, economia de água e energia, além da uniformidade de distribuição da água no perfil do solo. A montagem dos sistemas (número de gotejadores ou microaspersores, número e posição das linhas) deve ser definida em cada situação. O uso de microaspersores em linhas alternadas com um microaspersor para grupos de quatro plantas tem demonstrado ótimos resultados. ; Neste caso, os restos culturais da lavoura são posicionados nas ruas onde não estejam as linhas de irrigação, otimizando a absorção de água pelas plantas.

Figura 1 -. Bananal irrigado por microaspersão, com manejo de restos culturais em linhas alternadas. Palmital, SP. (Foto: Adriana N. Martins)

O correto manejo do sistema de irrigação, seja ele qual for, é fundamental para a eficiência da técnica. O volume de água a ser aplicada (lâmina de irrigação), e a frequência da irrigação, serão determinados em cada caso, levando-se em consideração todas as variáveis já listadas. O local onde será aplicada a água, principalmente no caso de sistemas localizados, também é importante, sendo necessário o conhecimento do sistema radicular da planta.

Outro ponto fundamental é a qualidade da água utilizada na irrigação, sendo que águas contaminadas e/ou salinas não devem ser utilizadas no processo.

Para a determinação de quando e quanto irrigar, os produtores podem utilizar diversos métodos, sendo que a instalação de tensiômetros na lavoura é considerada o método mais prático e acessível para o monitoramento do sistema, desde que instalados corretamente e aferidos com frequência. Analisando-se o sistema radicular das bananeiras, observa-se que a zona de maior absorção de água fica em torno de 30 cm de profundidade, sendo considerada como margem de segurança, a profundidade de 50 cm; desse modo, tensiômetros instalados a 40 cm de profundidade fornecem parâmetros confiáveis para o monitoramento da irrigação.

Figura 2 -. Monitoramento de irrigação com a utilização de tensiômetros (20cm, 40cm e 60 cm de profundidade, em área experimental). Palmital, SP. (Foto: Adriana N. Martins)

Qual a exigência nutricional da bananeira?

A bananeira é também uma planta muito exigente em termos nutricionais, uma vez que apresenta desenvolvimento rápido, exportando quantidades significativas de nutrientes com a colheita dos frutos. Estudos demonstram que essa exigência pode variar de acordo com o material genético (variedade), mas é considerada elevada em todos os casos. De nada adianta adubar o bananal, se não houver água disponível; por outro lado, de nada resolve irrigar as plantas e não supri-las nutricionalmente. Daí a importância da fertirrigação.

Todos os nutrientes são importantes para o ciclo da bananeira, entretanto, o nitrogênio (N) e o potássio (K) são os principais. Em termos de micronutrientes destacam-se o boro (B), o cobre (Cu) e o zinco (Zn).

Atualmente, todos os nutrientes podem ser aplicados via fertirrigação, pois existem no mercado diversas formulações solúveis; mesmo adubos orgânicos são passíveis de utilização, como é o caso dos ácidos húmicos.

A dosagem de cada nutriente a ser aplicado no bananal deve ser definida a partir de análises de solo e planta (folhas), visualizando-se uma expectativa de produtividade, atentando para a idade e fase fenológica da cultura.

Estudos conduzidos em bananais, no Planalto Paulista, mostraram que o nitrogênio deve ser aplicado de modo fracionado, durante o período de desenvolvimento vegetativo das plantas; a fertirrigação favorece este fracionamento, diminuindo significativamente as perdas por lixiviação.

O potássio também deve ser aplicado de maneira fracionada por todo o ciclo da bananeira. Resultados de pesquisa mostraram que aplicações de doses mais elevadas de potássio, por meio da fertirrigação, dois meses antes da entrada do inverno promovem uma diminuição dos danos causados por ventos frios, típicos deste período no Planalto Paulista, tanto nas folhas, como nos frutos. Outra característica importante de aplicações pré-floradas deste nutriente diz respeito à qualidade dos frutos em pós- colheita, com melhor enchimento e resistência, proporcionando um acréscimo no preço de mercado in natura, principalmente no caso de variedades Cavendish (banana tipo Nanica).


Figura 3 -. Cachos de banana cultivar. Willians, colhidos de plantas manejadas com aplicação de potássio em pré-florada. Palmital, SP. (Foto: Arlindo Pinheiro da Silveira)

Outros nutrientes, como enxofre (S), magnésio (Mg), cálcio (Ca) e fósforo (P), além dos micronutrientes, também podem ser aplicados pela mesma técnica, respeitando-se a fase de desenvolvimento das plantas.

Para que a fertirrigação retorne resultados favoráveis, é importante que a análise da qualidade da água seja realizada regularmente, pois em casos onde a fonte hídrica vem com uma carga orgânica muito elevada, pode ocorrer a floculação de determinadas formulações, causando danos ao sistema de irrigação e diminuindo a eficiência da adubação. Outro ponto muito importante diz respeito à qualidade dos adubos utilizados,; que devem ser provenientes de fontes idôneas, com solubilidade e dosagens garantidas, caso contrário poderão ocorrer problemas de entupimento e corrosão do sistema de irrigação, prejudicando o desempenho da técnica.

A irrigação é uma tecnologia fundamental para a viabilidade da bananicultura no Planalto Paulista e em outros locais onde haja deficiência hídrica. Entretanto, sozinha esta técnica não opera milagres. A produção intensiva exige a interação de diversos setores como irrigação, manejo nutricional, manejo fitossanitário, escolha da variedade, utilização de mudas sadias e de procedência comprovada. É este conjunto de técnicas que, associadas, garantem ao bananicultor o sucesso do seu empreendimento.


Este artigo foi publicado na edição 88 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas. Clique aqui para ler a edição.

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