O ácaro da leprose,
(Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae), também chamado de ácaro plano, passou a ter importância no Brasil após a descoberta da sua associação com o vírus causador da leprose dos citros (Citrus leprosis virus - CiLV) em 1963. Até então, os danos diretos causados pelo ácaro aos citros eram insignificantes, devido à sua baixa densidade populacional. Estima-se que os danos causados pelo CiLV, transmitido pelo ácaro, sejam de 35 a 100% com a queda precoce de frutos, a depreciação dos frutos lesionados para o mercado de fruta fresca, a desfolha da planta e a seca de ramos atacados, comprometendo a florada seguinte.
Este ácaro tem distribuição cosmopolita, podendo ser encontrado em diversos países produtores de citros, inclusive em vários deles onde a doença ainda não está presente. Apresenta um grande número de hospedeiros, com mais de 200 espécies de plantas frutíferas, ornamentais e invasoras, incluindo os citros como principal. Plantas invasoras de pomares de citros e outras normalmente utilizadas como cercas vivas e quebra-ventos também podem hospedar e multiplicar o ácaro da leprose, servindo como reservatório do mesmo (Tabela 1 -
).
O local de ocorrência na planta também pode influenciar no desenvolvimento do ácaro. Os frutos com lesões de verrugose são os preferidos pelo ácaro, seguido pelos frutos sem verrugose, ramos e finalmente folhas (Tabela 5). A verrugose fornece um excelente abrigo ou refúgio para o ácaro. Os ácaros ocorrem normalmente em maior intensidade nos frutos que nas folhas, constatando-se em média 95,2% de ácaros nos frutos, 4,3% nas folhas velhas e apenas 0,5% nas folhas novas.
As variedades cítricas também podem afetar o desenvolvimento do ácaro. Os frutos das variedades ‘Valência’ e ‘Murcote’ são mais favoráveis ao desenvolvimento do ácaro da leprose, enquanto que os de lima da ‘Pérsia’, a lima ácida ‘Tahiti’ e o limão ‘Siciliano’ são menos favoráveis. De modo semelhante, o maior número de ácaros por folha é encontrado nas variedades ‘Lima’, ‘Hamlin’, ‘Lima Verde’, ‘Baía’, ‘Valência’ e ‘Barão’ que nas variedades lima da ‘Pérsia’, ‘Pera Rio’, ‘Seleta’ e ‘Natal’.
O ácaro da leprose pode ser encontrado durante todo o ano, mas os níveis populacionais elevam-se a partir dos meses de março a abril, período que normalmente começam a diminuir as precipitações pluviométricas e os frutos iniciam sua maturação. Atingem níveis populacionais mais altos a partir de julho e o pico máximo geralmente nos meses de setembro a outubro, para decrescer gradativamente com as chuvas e a colheita dos frutos.
Caso os ácaros estejam infectados com o vírus, após 17 a 60 dias da inoculação do agente viral, através do processo de alimentação do ácaro, aparecem os sintomas da leprose. Todas as fases do ácaro, exceto os ovos, são capazes de transmitir o CiLV após se alimentarem numa lesão típica de leprose ou mesmo em área onde previamente ácaros contaminados se alimentaram, e mantém sua capacidade de transmitir o vírus durante a maior parte da sua vida mesmo quando transferido para outros órgãos da planta sadios.
O sintoma da leprose aparece nas folhas, ramos e nos frutos. Nos frutos, as lesões de leprose começam a aparecer quando as laranjas medem cerca de cinco cm de diâmetro. Inicialmente as manchas são de coloração verde pálido, com auréolas amareladas, que se destacam bem da coloração verde escura da parte sadia dos frutos. Posteriormente, o centro escurece, tornando-se pardo palha, pardo ou marrom escuro, e à medida que o fruto amadurece a auréola amarela começa a se confundir com a coloração do restante do fruto, com sintomas semelhantes aos que ocorrem em frutos maduros. Estes se manifestam na forma de manchas arredondadas deprimidas de coloração marrom, com 0,12 a 1,2 cm de diâmetro, nitidamente limitadas, já que o vírus não é sistêmico. Essas manchas ocorrem geralmente agrupadas, existindo quase sempre pelo menos umas cinco ou seis manchas num mesmo fruto, embora possam ser encontradas muito mais manchas num único fruto. Quando o ataque é intenso, há queda dos frutos, que podem chegar a grandes quantidades.
Nas folhas provocam manchas de coloração amarelada com a evolução aparecem manchas de coloração marrom no centro, que se tornam posteriormente necrosadas. Ramos infectados apresentam manchas marrons que com o passar do tempo secam e destacam-se, causando a sua morte.
A principal estratégia utilizada para o controle da leprose é a eliminação do vetor, o ácaro
. Com a sua eliminação procura-se evitar a contaminação de plantas e a sua disseminação nos pomares. Para que não haja contaminação deve-se levantar a incidência do ácaro nas plantas e realizar o seu controle quando atingir o nível de ação ou controle, que tem variado, de 2 a 10% dos órgãos amostrados com a presença do ácaro, em função do dimensionamento do número de pulverizadores, agilidade na aquisição do acaricida e em função da incidência da doença nos pomares.
Para uma maior eficiência e otimização do controle do ácaro, devem ser adotados talhões com aproximadamente 2 mil plantas, e naqueles com maior número de laranjeiras, pode-se subdividi-los, com controle direcionado àqueles sub-talhões que apresentarem população do ácaro no nível de controle. Nesses talhões ou sub-talhões, o número de plantas a serem amostradas deve ser de, pelo menos, 1%.
Em pomares em formação, a inspeção deve ser realizada nos ramos, principalmente onde há bifurcação de ramos e nos locais onde ocorrem saliências e reentrâncias. Em pomares em produção, a inspeção deve ser realizada nos frutos, naqueles maduros e que estejam dentro da copa da planta, de preferência com lesões de verrugose. Caso a planta não apresente frutos ou eles estejam verdes, as inspeções podem ser realizadas nos ramos. Tanto nos pomares novos como naqueles em produção, o número de amostras por planta deve ser de três frutos ou ramos. A freqüência de amostragem deve ser de, no máximo, 15 dias.
Nos últimos anos, o gasto anual com acaricidas para controle do ácaro da leprose tem sido de aproximadamente US$ 60 a 70 milhões, o que indica a importância do controle da doença e do seu vetor no custo de produção da citricultura e a necessidade de melhor aplicar as estratégias de manejo integrado desta praga.
Areprodução do ácaro
ocorre por partenogênese telítoca, na qual as fêmeas produzem novas fêmeas geneticamente similares e os machos são raramente encontrados. Para a oviposição, o ácaro prefere locais protegidos como lesões de verrugose, galerias de larva minadora dos citros, ramos e frutos com lesões e nervuras de folhas. A oviposição realizada em frutos com lesão da verrugose (
spp.) é maior que em frutos lisos e que em folhas. Após a eclosão do ovo, o ácaro passa pela fase larval, protoninfa, deutoninfa e finalmente adulta. A quantidade de ovos postos e a duração do ciclo podem variar com a temperatura, umidade relativa do ar, condição hídrica e nutricional da planta, órgão da planta e variedade de citros.
Com o aumento da temperatura, observa-se uma diminuição do tempo de desenvolvimento do ácaro e aumento do número de ovos depositados (Tabela 2 -
), fato este que comprova que as regiões mais quentes são as preferidas ou mais atacadas pelo ácaro. Adicionalmente, a temperatura pode influenciar a longevidade do ácaro. Em temperatura de 32oC os adultos morrem em sete dias, enquanto que à temperatura de 10oC, alguns se mantém vivos mesmo depois de 23 dias. Embora a temperatura baixa influencie a sobrevivência de
, tem-se verificado que após ocorrência de geadas ocorre somente uma momentânea queda populacional, voltando posteriormente aos níveis encontrados antes da ocorrência.
Ovos e adultos obtidos em condições de baixa umidade relativa são menos viáveis que os obtidos em umidade relativa maior (Tabela 3). Entretanto, a condição hídrica das plantas exerce uma maior influência no desenvolvimento e aumento da população do ácaro da leprose (Tabela 4). Plantas submetidas a períodos de estresse hídrico são favoráveis ao desenvolvimento do ácaro da leprose e conseqüentemente são mais afetadas pela doença.
e
Fundecitrus
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